sexta-feira, 4 de agosto de 2023

[Conto Eslavo/Russo] Vassilissa, a Bela

 Extraído do livro “Contos Populares Eslavos”, da Editora Pandorga


Há muito, muito tempo, no reino do Czar, vivia um velho, sua esposa e sua filha Vassilíssa. Eles tinham apenas uma pequena cabana por casa, mas a vida deles era pacífica e feliz. No entanto, mesmo o céu mais brilhante pode ficar nublado, e o infortúnio chegou até eles. A esposa ficou gravemente doente e, sentindo que seu fim estava próximo, chamou Vassilíssa em seu leito de morte, deu-lhe uma pequena boneca e disse:

一 Faça exatamente o que lhe digo, minha filha. Cuide bem desta pequena boneca e nunca a mostre a ninguém. Se algo ruim lhe acontecer, dê à boneca algo para comer e peça seu conselho. Ela a ajudará sempre que precisar.

E, dando a Vassilíssa um último beijo de despedida, a mãe faleceu. O velho pai ficou triste por um tempo, e depois se casou novamente. Ele pensou em dar uma segunda mãe a Vassilíssa, mas, em vez disso, deu-lhe uma madrasta cruel.

A madrasta tinha duas filhas, duas das jovens mais maldosas, cruéis e difíceis de agradar que já se viram. A madrasta amava-as muito e sempre as cobria de beijos e abraços, mas Vassilíssa a incomodava e ela nunca a deixou ter um momento de paz. 

Vassilíssa sentia-se muito infeliz por sua madrasta e irmãs a repreenderem o tempo todo, fazendo-a trabalhar além de suas forças. Elas esperavam que Vassilíssa ficasse magra e abatida com todo aquele trabalho, e que seu rosto ficasse feio e escuro pela exposição ao vento e ao sol. Durante todo o dia elas gritavam com Vassilíssa, ora uma, ora outra:

一 Venha, Vassilíssa! Onde você está, Vassilíssa? Pegue a madeira, não seja lerda! Acenda o fogo, misture a massa! Lave os pratos, ordenhe a vaca! Esfregue o chão, rápido! Trabalhe direito e não demore o dia todo!

Vassilíssa fazia tudo o que lhe mandavam e sempre realizava suas tarefas na hora certa. E, a cada dia que passava, ela ficava mais e mais bonita. Tal era a sua beleza que não podia ser retratada ou descrita, mas era uma verdadeira maravilha e alegria de se ver. E era sua pequena boneca que a ajudava em tudo. 

De manhã cedo, Vassilíssa ordenhava a vaca e, depois, trancava-se na despensa, então dava um pouco de leite para a boneca, dizendo:

一 Venha, bonequinha, beba seu leite, minha querida, e eu vou contar todos os meus problemas em seu ouvido, seu ouvido!

E a boneca bebia o leite e confortava Vassilíssa, fazendo todo o trabalho em seu lugar. Vassilíssa sentava-se à sombra, entrelaçando flores em sua trança, e, antes que ela percebesse, os canteiros estavam livres das ervas daninhas, a água havia sido reabastecida, o fogo estava acesso e o repolho regado. A boneca mostrou a ela uma erva para ser usada contra queimaduras solares, e Vassilíssa usou e ficou mais bonita do que nunca.

Um dia, no final do outono, o velho precisou ausentar-se de casa em viagem e ficaria fora por algum tempo. A madrasta e as três irmãs foram deixadas sozinhas. Elas sentaram-se na cabana e estava escuro lá fora. 

Chovia muito e vento zunia. A cabana ficava à beira de uma floresta densa, e nessa floresta vivia Baba Yaga, uma bruxa muito astuta, que engolia as pessoas num piscar de olhos.

Agora, para cada uma das três irmãs, a madrasta deu uma tarefa que realizar: a primeira ela mandou tecer rendas, a segunda tecer meias de tricô, e Vassilíssa trabalhar no tear. Então, apagando todas as luzes da casa, exceto por uma única lasca de bétula que queimava no canto onde as três irmãs estavam trabalhando, ela foi dormir. A lasca estalou e estalou por um tempo, e depois apagou.

一 O que devemos fazer? – gritaram as duas filhas da madrasta. – Está escuro na cabana, e devemos trabalhar. Uma de nós terá de ir à casa de Baba Yaga e pedir por luz.

一 Eu não vou – disse a mais velha das duas. – Estou tecendo rendas, e minha agulha é brilhante o suficiente para que eu consiga enxergar.

一 Eu também não vou – disse a segunda. – Estou tricotando meias, e minhas duas agulhas são brilhantes o suficiente para que eu consiga enxergar.

Então as duas gritaram:

一 Vassilíssa é a pessoa, ela deve ir em busca da luz! Vá para a casa de Baba Yaga agora mesmo, Vassilíssa!

E elas empurraram Vassilíssa para fora da cabana.

A escuridão da noite a envolvia, assim como a densa floresta e o vento selvagem.

Vassilíssa estava assustada, começou a chorar, e foi então que tirou sua bonequinha do bolso.

一 Ó minha querida bonequinha  一disse ela entre soluços 一, elas estão me enviando para a casa de Baba Yaga em busca de luz, e Baba Yaga devora as pessoas inteiras com ossos e tudo

.一 Não tema 一 respondeu a boneca 一, você ficará bem. Nada ruim pode acontecer com você enquanto eu estiver ao seu lado.

一 Obrigada por me confortar, bonequinha – disse Vassilíssa, e ela seguiu seu caminho.

A floresta erguia-se diante dela como uma parede e, no céu acima, não havia sinal da lua crescente e brilhante, nem estrela alguma fulgia. Vassilíssa andavatremendo e segurando a pequena boneca junto do peito. De repente, ela viu um homem em seu cavalo, galopando. Ele estava todo vestido de branco, seu cavalo era branco e os arreios do cavalo eram prateados e brilhavam na escuridão.

Estava amanhecendo agora, e Vassilíssa seguiu em frente, tropeçando e roçando os dedos dos pés contra as raízes e tocos das árvores. Gotas de orvalho brilhavam na longa trança de seu cabelo, e suas mãos estavam frias e dormentes.

De repente, outro cavaleiro passou a galope. Ele estava vestido de vermelho, seu cavalo era vermelho e os arreios do cavalo também eram vermelhos. O sol nasceu, beijou Vassilíssa, aqueceu-a e secou o orvalho em seu cabelo.

Vassilíssa continuou caminhando por um dia inteiro e, ao cair da noite, alcançou uma pequena clareira. Ela olhou e viu que havia uma cabana ali. A cerca emvolta da cabana era feita de ossos humanos e coroada com crânios. 

O portão não era um portão, mas, sim, os ossos das pernas de homens; os parafusos não eram parafusos, mas os ossos dos braços de homens; e o cadeado não era cadeado, mas um conjunto de dentes afiados.

Vassilíssa ficou horrorizada e permaneceu imóvel. De repente um cavaleiro veio galopando. Ele estava vestido de preto, seu cavalo era preto e os arreios do cavalo também eram pretos. O cavaleiro galopou até o portão e desapareceu no ar. A noite caiu, e eis que os olhos dos crânios que coroavam a cerca começaram a brilhar, e ficou tão claro como se fosse dia. Vassilíssa tremeu de medo. Ela não conseguia mexer os pés, que pareciam ter congelado naquele local e se recusavam a levá-la para longe dali.

De repente, ela sentiu a terra tremendo sob seus pés, e viu Baba Yaga voando em um almofariz, balançando o pilão como um chicote e varrendo seu rastro com uma vassoura. Ela voou até o portão e, farejando o ar, gritou:

一 Sinto cheiro de carne russa! Quem está aí?

Vassilíssa veio até Baba Yaga, inclinou-se diante dela e disse muito humildemente:

一 Sou eu, Vassilíssa, vovó. Minhas irmãs me enviaram para pedir por luz.

一 Oh, é você, não é? – Baba Yaga respondeu. – Sua madrasta é uma parenta minha. Muito bem, então, fique comigo por um tempo e trabalhe, e depois veremos o que pode ser feito.

E ela gritou bem alto:

一 Permaneçam destrancados, meus fortes ferrolhos! Abra-se, meu largo portão!

O portão se abriu, Baba Yaga entrou em seu almofariz e Vassilíssa foi atrás dela.

No portão crescia uma bétula, que parecia querer chicotear Vassilíssa com seus galhos

.一 Não toque na serva, bétula, fui eu quem a trouxe”, disse Baba Yaga.

Elas foram em direção à casa, e à porta havia um cachorro, que ameaçou morder Vassilíssa.

一 Não toque na serva, fui eu quem a trouxe”, disse Baba Yaga.

Elas entraram, e um gato velho e resmungão veio ao seu encontro e fez menção de arranhar Vassilíssa.

一 Não toque na serva, seu velho gato resmungão, fui eu quem a trouxe – disse Baba Yaga.

一 Veja, Vassilíssa – acrescentou virando-se para ela –, não é fácil fugir de mim. Meu gato vai arranhá-la, meu cachorro vai mordê-la, minha árvore vai açoitá-la e arrancar seus olhos, e meu portão não abrirá para deixar você sair.

Baba Yaga entrou em seu quarto e se esticou em um banco

 一 Venha, serva de sobrancelhas negras, prepare-nos algo para comer 一 ela gritou.

E a criada de sobrancelhas negras entrou e começou a alimentar Baba Yaga. Ela trouxe uma panela de sopa de beterraba e meia vaca, dez jarras de leite, umporco assado, vinte galinhas e quarenta gansos, duas tortas inteiras e um pedaço extra, sidra e hidromel, cerveja caseira, cerveja do barril e um balde de kvass.

Baba Yaga comeu e bebeu tudo, mas só deu a Vassilíssa um pedaço de pão.

一 E agora, Vassilíssa – disse ela –, pegue este saco de milho e escolha semente por semente. E lembre-se de remover todos os grãos pretos, pois do contrário eu a devorarei.

E Baba Yaga fechou os olhos e começou a roncar. Vassilíssa pegou o pedaço de pão, colocou-o diante de sua bonequinha e disse:

一 Venha, bonequinha, coma este pão, minha querida, e eu vou contar todos os meus problemas em seu ouvido, seu ouvido! Baba Yaga me deu uma tarefa difícil, e ela ameaça devorar-me se eu não a fizer.

Disse a boneca em resposta:

一 Não tenha medo e não chore, feche os olhos e vá dormir. A manhã é mais sábia que a noite.

E, no momento que Vassilíssa adormeceu, a boneca gritou bem alto:

一 Chapim azulado, pombos, pardais, ouçam meu chamado: há trabalho a fazer. De sua ajuda, meus amigos emplumados, depende a vida de Vassilíssa. Venham atender meu chamado! Todos vocês são necessários, todos.

E os pássaros vieram voando de todas as direções, bandos e bandos deles, mais do que os olhos podiam ver ou as palavras podiam descrever. 

Eles começaram a chilrear e arrulhar, montaram uma excelente força-tarefa e começaram a escolher o milho semente por semente, muito rapidamente. No saco, foram colocadas as boas sementes, e as pretas foram descartadas, e, antes que eles se dessem conta, a noite havia passado e o saco estava cheio até o topo. Eles tinham acabado naquele instante, quando o cavaleiro branco galopou passando pelo portão em seu cavalo branco. O dia estava amanhecendo.

Baba Yaga acordou e perguntou:

一 Você fez o que eu lhe disse para fazer, Vassilíssa?

一  Sim, está tudo pronto, vovó.

Baba Yaga estava com muita raiva, mas não havia mais nada a ser dito.

一 Humph! – Ela bufou 一 Eu vou caçar, e você pegue esse saco cheio de ervilhas e sementes de papoula. Separe as ervilhas das sementes e arrume-as em dois montes separados. E lembre-se, se você não fizer isso, eu a devorarei.

Baba Yaga saiu para o quintal, assobiou, e o almofariz e o pilão vieram até ela. O cavaleiro vermelho passou a galope e o sol surgiu no horizonte.

Baba Yaga entrou no almofariz e deixou o quintal, balançando o pilão como um chicote e varrendo seu rastro com uma vassoura.

Vassilíssa pegou uma crosta de pão, alimentou sua bonequinha e disse:

一 Tenha pena de mim, pequena boneca, minha querida, e ajude-me.

E a boneca chamou em voz alta:

一 Vinde a mim, ratos da casa, do celeiro e do campo, pois há trabalho que ser feito!

E os ratos vieram correndo, montes deles, mais do que os olhos podiam ver ou as palavras podiam descrever, e, antes que uma hora se passasse, o trabalho estava terminado.

A noite estava se aproximando, e a criada de sobrancelhas negras colocou a mesa e começou a aguardar pelo retorno de Baba Yaga.

O cavaleiro preto passou a galope pelo portão, a noite caiu e os olhos dos crânios que coroavam a cerca começaram a brilhar. E agora as árvores gemeram e estalaram, as folhas farfalharam, e Baba Yaga, bruxa astuta que engolia aspessoas num piscar de olhos, voltou para casa.– Você fez o que eu lhe disse para fazer, Vassilíssa? – ela perguntou.

一 Sim, está tudo pronto, vovó.

Baba Yaga estava com muita raiva, mas o que ela poderia dizer?

一 Bem, então vá para a cama. Eu vou me deitar em um minuto.

Vassilíssa foi para trás do fogão e ouviu Baba Yaga dizer:

一 Acenda o fogão, serva de sobrancelhas negras, e aqueça bem o fogo. Quando eu acordar, assarei Vassilíssa.

E Baba Yaga deitou-se em um banco, colocou o queixo em uma prateleira, cobriu-se com o pé e começou a roncar tão alto que toda a floresta tremia e balançava.

Vassilíssa começou a chorar e, pegando sua boneca, colocou uma crosta de pão diante dela.

一 Venha, bonequinha, coma um pouco de pão, minha querida, e eu vou contar todos os meus problemas em seu ouvido, seu ouvido. Baba Yaga quer me assar e comer – disse ela.E a boneca disse-lhe o que ela deveria fazer para sair daquela situação sem mais delongas.

Vassilíssa correu para a criada de sobrancelhas negras e curvou-se diante ela.

一 Por favor, empregada de sobrancelhas negras, ajude-me! 一 ela chorou. 一 Quando você acender o fogão, coloque água sobre a madeira para que não queime como deveria. Aqui está o meu lenço de seda com recompensa por me ajudar.

Disse a criada de sobrancelhas negras em resposta:

一 Muito bem, minha querida, eu vou ajudá-la. Levarei um longo tempo aquecendo o fogão, e vou fazer cócegas nos calcanhares de Baba Yaga, para que ela durma profundamente a noite toda. E então você foge, Vassilíssa!

一 Mas os três cavaleiros não vão me pegar e me trazer de volta? 

一 Oh, não 一 respondeu a criada de sobrancelhas escuras. 一O cavaleiro branco é o dia claro, o cavaleiro vermelho é o sol dourado, e o cavaleiro preto é a noite negra, e eles não vão tocar em você.

Vassilíssa correu pela passagem, e o gato velho e resmungão correu em sua direção e estava prestes a arranhá-la. Mas ela jogou um pedaço de torta para ele, e ele não a tocou. Vassilíssa desceu correndo pela varanda, e o cachorro disparou e estava prestes a mordê-la. Mas ela jogou um pedaço de pão para ele, e o cachorro a deixou ir.

Vassilíssa começou a correr para fora do quintal, e o vidoeiro tentou chicoteá-la e arrancar seus olhos. Mas ela o amarrou com uma fita, e a árvore a deixou passar.

O portão estava prestes a fechar diante dela, mas Vassilíssa lubrificou suas dobradiças, e ele se abriu.

Vassilíssa correu para a floresta escura, e somente então o cavaleiro negro galopou, e ficou escuro como breu por toda parte. Como ela conseguiria voltar para casa sem luz? O que ela faria? Por que sua madrasta a queria morta?

Então, ela pediu à sua bonequinha para ajudá-la e fez o que a boneca lhe disse para fazer.

Ela pegou um dos crânios da cerca e, montando-o em uma vara, partiu através da floresta. Seus olhos brilhavam, e com essa luz a noite escura tornou-se tão brilhante quanto o dia.

Quanto a Baba Yaga, ela acordou e se espreguiçou, e, vendo que Vassilíssa havia

fugido, correu para a passagem.

一 Você arranhou Vassilíssa quando ela passou, gato? – ela perguntou.E o gato respondeu:

一 Não, eu a deixei passar, pois ela me deu um pedaço de torta. Eu a servi por dez anos, Baba Yaga, mas você nunca me deu nem uma crosta de pão.

Baba Yaga correu para o quintal.

一 Você mordeu Vassilíssa, meu fiel cachorro? 一 ela perguntou:

Disse o cachorro em resposta:

一 Não, eu a deixei passar, pois ela me deu um pouco de pão. Eu a servi por tantos anos, mas você nunca me deu um osso.

一 Bétula, bétula! – Baba Yaga rugiu. – Você arrancou os olhos de Vassilíssa?

Disse a bétula em resposta:

– Não, eu a deixei passar, pois ela amarrou meus galhos com uma fita. Eu cresci aqui por dez anos e você nunca os amarrou com uma fita. 

Baba Yaga correu para o portão.

一 Portão, portão! 一 ela gritou. 一 Você fechou diante de Vassilíssa para que ela não pudesse passar?

Disse o portão em resposta:

一 Não, eu a deixei passar, pois ela lubrificou minhas dobradiças. Eu servi você por tanto tempo, mas você nunca me lubrificou.

Baba Yaga ficou muito irritada. Ela começou a bater no cachorro e espancar o gato, arrombar o portão e derrubar a bétula, e ela ficou tão cansada que até se esqueceu de Vassilíssa.

Vassilíssa correu para casa e viu que não havia luz acesa lá dentro. Suas irmãs adotivas vieram correndo ao seu encontro e começaram a repreendê-la e censurá-la.

一 Por que você demorou tanto tempo buscando a luz? – elas reclamaram. 一 Nós não conseguimos iluminar a casa. Tentamos acender a luz de novo e de novo, mas sem sucesso, e as que recebemos dos vizinhos apagaram assim que foram trazidas para dentro da casa. Talvez a sua continue acesa.

Elas levaram o crânio para dentro da cabana, e seus olhos se fixaram na madrasta e nas duas filhas e as queimaram como fogo. A madrasta e suas filhas tentaram se esconder, mas não importava para onde corressem, os olhos as seguiam e nunca as perdiam de vista.

Pela manhã, todas as três estavam queimadas e haviam virado cinza. Apenas Vassilíssa permanecia ilesa.

Ela enterrou o crânio do lado de fora da cabana, e um arbusto de rosas vermelhas cresceu no local. Depois disso, não querendo mais permanecer na cabana, Vassilíssa foi para a cidade morar na casa de uma velha senhora.

Um dia, ela disse à velha senhora:

一 Estou cansada de ficar aqui sentada sem fazer nada, vovó. Compre-me um pouco de linho, o melhor que você encontrar.

A velha comprou o linho, e Vassilíssa começou a tecer. Ela trabalhou rápido e com perfeição; ao zumbido da roda giratória, o fio dourado saía uniforme e fino como um cabelo. Ela começou a tecer, e o tecido ficou tão fino que poderia passar pelo buraco de uma agulha, como um fio. 

Ela branqueou o tecido, e ele ficou mais branco que a neve.

一 Aqui, vovó – disse ela –, vá e venda o tecido e fique com o dinheiro para a senhora.

A velha olhou para o tecido e suspirou:

一 Não, minha filha, esse tecido só pode ser usado por um czar. É melhor levá-lo para o palácio.

Ela levou o tecido para o palácio e, quando o czar o viu, não pôde conter a admiração.

一 Quanto você quer por ele? – ele perguntou.

一 Este tecido é fino demais para ser vendido; eu lhe trouxe como um presente.

O czar agradeceu a velha senhora, a cobriu de presentes e a mandou de volta para casa.

Mas ele não encontrou ninguém que pudesse fazer-lhe uma túnica com aquele tecido, pois o trabalho tinha de ser tão delicado quanto o tecido. 

Então ele mandou buscar a velha senhora novamente e disse-lhe:

一 Você teceu este fino tecido, então deve saber como fazer uma túnica com ele.

一 Não fui eu que fiei esse tecido, czar, mas uma criada chamada Vassilíssa. 

一 Bem, então deixe-a fazer a túnica.

A velha foi para casa e contou tudo a Vassilíssa.

Vassilíssa fez duas túnicas, bordou-as com fios de seda, cravejou-as com grandes pérolas redondas e, dando-as para a velha senhora levar ao palácio, sentou-se à janela com um pedaço de bordado.

Ela não pôde acreditar em seus olhos quando avistou um dos servos do czar correndo em sua direção.

一 O czar pede que você vá ao palácio 一 disse o servo.

Vassilíssa foi ao palácio e, vendo-a, o czar ficou apaixonado por sua beleza.

一 Não suportaria deixá-la ir novamente; você será minha esposa  一 disse ele.

Ele pegou suas mãos brancas como o leite e a colocou no trono ao lado do seu. E assim Vassilíssa e o czar se casaram, e, quando o pai de Vassilíssa retornou de viagem, fez do palácio sua casa também.

Vassilíssa levou a velha senhora para morar com ela também e, quanto à sua pequena boneca, ela sempre a carregava no bolso.

E assim eles estão vivendo até hoje, esperando que cheguemos para uma visita.

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