quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

[Fanfic] Love Conflict

História e capas por: Rebeca Suzuki
Fanfic do anime "Brothers Conflict"
Sinopse:
Ema precisa saber como confessar seus sentimentos a cada um de seus irmãos que a amam muito. Enquanto a indecisão e o medo tomam conta da garota, a coragem e a determinação estão de mãos atadas com quatro rapazes: Natsume, Subaru, Tsubaki & Azusa. Qual deles será que vencerá esse "Conflito do Amor" e ganhará o coração de Ema? Leiam para descobrir!

Lista de capítulos: 
Primeiro Conflito: “Love Conflict”
Terceiro Conflito:  Ciúmes no Parque Aquático
Quinto Conflito: Confissões Reveladas
Sexto Conflito: Quem ama, cuida.
Oitavo Conflito (Parte 1): Uma surpresa no Acampamento de Verão 

Publicado pela primeira vez no blog em: 07/01/2018

Oitavo Conflito (Parte 1): Uma surpresa no Acampamento de Verão

A semana passou voando, e logo as férias coletivas de todos já haviam começado, e o tão esperado dia do Acampamento havia chegado. Desde o dia anterior, a minha mala já estava pronta com tudo o que eu precisaria para os próximos 4 dias, de segunda a quarta-feira, inclusive um kit de primeiros socorros. Nunca se sabe o que pode acontecer.

Eu e Subaru acordamos bem cedo e logo que nos viram, os irmãos nos desejaram uma boa viagem e Hikaru-san, com a personalidade um tanto especulativa, me recomendou, descontraído, deixando-me um pouco tímida:

― Conte-me sobre as aventuras românticas de lá quando voltar, estou precisando de inspiração para um triângulo amoroso. Vai que a arte imita a vida, sabe?

― Acho que está pensando coisas demais, Nii-san ― alertou Subaru, que pouco gostou do comentário, no entanto, Hikaru-san o olhou com um sorriso travesso, como se pensasse algo malicioso do mais novo.

Com a discussão, Fuuto-kun aproveitou para se pronunciar, dirigindo-se a mim com os olhos extremamente fincados nos meus:

― E veja se volta inteira, hein?

Eu teria a quinta ainda para descansar, até o show que seria na sexta, mas como ele está sempre atento, nunca perde a oportunidade de interagir comigo. Apesar das alfinetadas, aquela era realmente a “marca registrada” dele, e eu gostava de sentir essa presença tão íntima e especial que só Fuuto-kun me proporcionava.  

― Pode deixar ― respondi, amável ― Estarei novinha em folha na sexta

― Acho bom ― afirmou ele, tentando esconder um leve sorriso malicioso.

Em seguida, nos despedimos de todos e partimos em uma viagem de 2 horas de duração até chegarmos ao nosso destino, que ficava em uma cidade vizinha à nossa. Chegando no Acampamento, cumprimentamos as pessoas que passavam por lá, que também estavam com suas malas na mão, indo aos seus aposentos. Eu estava apreciando demais a paisagem, o ambiente diferente e o clima fraternal que se instalava por ali, repleto de amizades e de um calor humano intenso.

Conforme caminhávamos, alguém muito familiar se aproximava, a passos largos, leves e precisos. A figura possuía uma presença forte, e aquele tom de voz que se expandia até alcançar os nossos ouvidos, era tão inconfundível que fez o meu coração saltitar.

Hey! ― Ele nos cumprimentou, gesticulando com a mão

― Natsume! ― Me surpreendi ao vê-lo, esboçando um largo sorriso e com o coração repleto de felicidade.

Ele sorriu em resposta, ao ver a alegria estampada no meu rosto

― Natsu-nii! ― O que está fazendo aqui? ― Subaru o encarou, com a expressão de poucos-amigos, espantado negativamente com o aparecimento do mais velho

“Ah, Subaru, não quebre o clima fraternal, por favor”, pensei, sabendo que os dois não se davam nada bem, mas esperava que ao menos nas férias essa rivalidade acalorada fosse esquecida e desse lugar a momentos em família gostosos de serem lembrados e dignos de serem guardados no álbum de fotografias, repleto de lembranças amorosas que possuo com a família Asahina

Para aliviar a tensão, decidi puxar conversa com Natsume, o mais calmo entre os dois:

― Como conseguiu vir? E com quem?

― Vim acompanhar uns colegas da empresa. Eles me falaram sobre o Acampamento de Férias, é uma boa opção para relaxamento estar ao ar livre

Eu não esperava encontrá-lo ali, bem em minha frente, e estava contentíssima em poder contar com a presença dele. Segundos depois, me lembrei do que ele havia me falado em casa:

Não se preocupe, senhorita. Eu já sei como te ajudar com isso”.

Agora havia caído a minha ficha, do porquê da tranquilidade extrema do Natsume ao me garantir isso. Era porque ele também viria ao mesmo Acampamento de Verão que a gente! Subaru nada respondeu e só fechou a cara por uns instantes, mas não foi nada que estragasse a minha felicidade em ter uma companhia a mais

― Ainda dava tempo de se inscrever? ― Perguntei, curiosa para saber desde quando ele já havia planejado aquilo, pois geralmente, o prazo de inscrições costuma ser curto.

  De início eu estava em dúvida se iria ou não, porém, foi prorrogado ― esclareceu ― Desta forma, tinham uns dias a mais para se inscrever no Acampamento, e consegui vir colocando como opção de esporte “atletismo”, porque ainda corro de vez em quando, sem contar com a agitação do dia a dia!

― Verdade, já é uma boa correria! ― Dei risada, com simpatia e em tom baixo. Sabia que nos dias da semana seu cotidiano era bem movimentado e atarefado. Pelo menos, nessas férias, ele poderia descansar um pouco e também praticar esportes, um de seus hobbies

― E você? Possui algum esporte que goste mais? ― Ele quis saber, já que eu não conversava sobre esse assunto com ele, e a maioria das vezes, era sobre o game que a empresa lançava.

― Tênis ― Respondi, sorridente, acrescentando em seguida: ― Mas vou aproveitar para me aprimorar em todas as modalidades

― Está certíssima! Assim que se fala! ― Natsume aprovou, contente de ver o meu apreço por esportes e atividades físicas em geral.

A conversa fluiu tão bem, que, honestamente, até me esqueci da minha “primeira companhia”, Asahina Subaru.

Ele pigarreou e disse:

― Eu ainda estou aqui, sabiam?

― Ah ― Fez Natsume, desinteressado, similar a um: “Ah, tá”

― Desculpe ― Pedi, e Subaru disse que não se importava com aquilo, contudo estava visivelmente incomodado. Natsume causava um efeito colateral em Subaru, que se transformava em alguém muito mais nervoso do que a tensão normal que apresentava quando estava comigo, por não saber como expressar seus sentimentos devidamente, o que é compreensível.

Não demorou para que um amigo dele se aproximasse de nós e lhe dissesse:

― Asahina, você tem uma linda acompanhante ― O que se chamava Fujimoto Naoki comentou. O rapaz era da altura de Subaru, magricelo, com cabelos e olhos castanho-escuros ― É a sua namorada?

― Não há casais aqui ― Eu lhe garanti ― Estou apenas acompanhando meu irmão mais velho ― Esclareci, não querendo dar bola ao rapaz.

Subaru pareceu ficar mexido com a indiferença com a qual falei, entretanto, desta vez, ele entendia a situação na qual estávamos. Fujimoto-san recomendou que eu aproveitasse bem a localidade e os eventos que teriam nesses dias e se despediu.

Natsume permaneceu calado, e para não ficar um clima estranho entre nós três logo após a saída de seu amigo, eu puxei conversa com Subaru, e perguntei se ele sempre vinha nesse lugar todos os anos.

Ele respondeu que sim, juntamente com a equipe do basquete, mas sem acompanhantes. Ou seja, eu era a primeira, de novo.

“A primeira e única”, pensei

“Deve ser difícil para ele enfrentar isso também, afinal, não namoramos.”, refleti.

Tanto Subaru quanto Natsume perceberam a minha reação pensativa e perguntaram se eu estava bem

― Sim, estou, mas estava pensando no Subaru ― fui honesta

― Em mim? ― O referido apontou a si mesmo, surpreso

― Sim, deve ter sido difícil para você lidar com os comentários de que parecemos um casal

― Ah, isso? Bem... sim.

― Você parece tenso. Quer me dizer algo a mais? ― Com um ano de convivência, eu já conhecia cada personalidade

Subaru, no entanto, não conseguiu

― Bem, vamos a outro lugar ― ele mudou de assunto, e eu concordei, já que precisávamos nos dirigir aos nossos aposentos

Fomos para o nosso cantinho no Acampamento e coloquei meus pertences em cada local. Natsume gentilmente me ajudou a tirar algumas das minhas bagagens e vendo a cena, Subaru fez o mesmo. Senti que havia uma certa rivalidade no ar, mas nada disse, querendo saber até onde aquilo iria, e no final, eu estava grata pela gentileza de ambos.

Depois disso, decidimos que os três iríamos ver as atividades do Acampamento e realizá-las. Decidimos partir para uma corrida, pois aparentemente Subaru ainda estava com a bendita ideia fixa de não querer perder para o Natsume, de forma que fariam a mesma atividade. Eu, por outro lado, aceitei a proposta por pensar que seria uma excelente maneira de aquecer o corpo para começar a minha jornada esportiva.

Mal sabia eu que aquela estadia exigiria não só do meu físico, mas desafiaria o meu mental e emocional, e que o “calor” não se resumiria ao clima ou temperatura corpórea, como também representaria a intensidade de três corações que precisavam urgentemente se entender.

[Fanfic] Promessa de Inverno

 


Tarde de quinta-feira – Tomoeda, Japão

 

Shaoran partiu rumo à China no Inverno. Ele me disse que a família dele o estava chamando com urgência, para resolver as pendências relativas a isso. Nós sempre fomos muito amigos, companheiros para todas as horas. Para compartilhar a nossa alegria em momentos bons e para termos um ao outro em momentos difíceis e dolorosos. As estações do ano só ganhavam mais cor e vida porque ele sempre esteve comigo, ao meu lado, me acompanhando. De mãos atadas com as dele, eu não tinha e nem enxergava motivos para temer ou duvidar. Eu me sentia segura e protegida, uma sensação gostosa, indecifrável e que não consigo explicar com palavras. Entretanto, agora ele não estaria lá para fazer nenhuma dessas coisas comigo e ficaríamos um ano separados

Eu sempre lhe dizia: “Eu gosto de você” por não saber expressar meus sentimentos, e nem ter certeza do que ele sentia por mim. Mas, a verdade é que eu amo muito o Shaoran-kun, e desejo tê-lo comigo a cada segundo, até meu último sopro.

Antes de sua partida fizemos uma promessa, entrelaçando nossas mãos uma última vez:

― Eu vou voltar, Sakura. Eu prometo ― Ele diz, com a voz repleta de ternura, do jeito que eu aprendi a amar

― Então eu quero que façamos uma promessa de inverno ― Pedi, com carinho, e ele devolveu no mesmo tom.

― Qual é?

― Quando a primeira flor de neve cair, vamos apreciá-la juntos

― Claro. Vamos sim ― Disse, e esta foi a última vez que eu vi seu sorriso tímido antes de ele partir. Desde então, em cada um dos meses que se passaram no calendário, estive com meu coração apertado, porém fiel às minhas próprias emoções. Olhando pela janela do meu quarto, o vidro se esfumaçou. Escrevi nossos nomes no vidro, com um coração, como forma de poder registrar o meu amor naquele instante e “desabafar” sem que ninguém descobrisse, sutilmente. As letras apagaram-se rapidamente, tal como a partida de Shaoran. As ruas nas quais costumávamos passar, no momento possuem apenas a “minha cor”, minha presença. Ao caminhar pelas manhãs e tardes de Tomoeda, me recordo de tudo o que passamos. As lojas, as cafeterias e os parques em que costumávamos ir, todos estes locais me faziam lembrar de Shaoran, a pessoa que está em minha mente e em meu coração nas 24 horas que preenchem o meu dia, e cada segundo que passa. O meu “alguém especial”, com que eu aprendi o que é o amor, e o quão valioso é amar e ser amado.

Se ao menos ele soubesse desse meu infinito sentimento que me consome, sentiria as minhas lágrimas rolando mesmo estando a milhares de quilômetros de distância de mim, porque seríamos como duas estrelas a brilhar no céu noturno: pequenas e unidas, sem nunca se separarem.

Tem pessoas que acham que é fantasia ou ingenuidade acreditar que seu “príncipe encantado” retornará, coisa dos contos de fadas e nada mais. No entanto, a opinião alheia pouco me importa. Eu me mantive firme, com fé, e acreditando em sua volta. Por isso, ao decorrer deste período, o tempo pareceu mais curto, meu coração se tranquilizou, e cada vez mais eu pensava que o dia no qual nos reencontraríamos chegaria prontamente.

Um ano inteiro se passou. Agora ele está de volta, e é inverno novamente. A primeira flor de neve, enfim, caiu, e nós a apreciamos juntas, como prometido. A felicidade transborda com o calor do momento, e finalmente crio coragem para dizer-lhe:

― Shaoran, eu te amo.

´Por isso, a partir de hoje, nossos invernos não serão mais gélidos como a neve, mas sim, extremamente calorosos, como o nosso amor.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

[Texto] Chuva de Amor

            Gotas de chuva recaem sob meus cabelos, com uma chegada repentina e um som forte, acompanhadas das nuvens que choram. Tal como essas últimas, uma pequena gota de lágrima invade o meu rosto branquelo, sob o guarda-chuva, quando lembro dos meus dias dourados com a sua presença.

            Nos conhecemos em um dia de chuvoso, enquanto nos escondíamos da chuva naquela tarde, igualmente aos filmes de cinema.

Por coincidência ou travessura do destino, nos encontramos novamente, naquela estação de trem, em um dia de chuva. Reconhecemos um ao outro instantaneamente. Nos cumprimentos, e descobrimos que sempre frequentávamos a mesma estação, sendo essa, a nossa primeira coisa em comum.

Resolvemos trocar números de celular e começamos uma intensa amizade que logo se transformaria em uma paixão avassaladora. Tivemos momentos especiais, como qualquer outro casal, e essas são as lembranças que valem ouro para mim.

No entanto, como nem tudo são flores, você decidiu ir embora da cidade, por conta do trabalho.

Pergunto-me se você está satisfeito com a decisão que tomou. No silêncio, sob o céu claro, te vislumbro a respirar levemente, imaginando que está ao lado de uma bela garota, de cabelos longos, lisos e sedosos, lábios delicados e a pele macia e branca como a neve.

Os pensamentos voam e eu me pergunto se você está feliz com ela, e questiono-me se essa é a minha punição: você me fazer sentir solitária em meio a essa gente.

Você ainda permanece dentro de mim, do meu coração

É doloroso encarar a “nova” realidade de que agora eu caminharei literalmente sozinha. Quero dizer, sem a tua doce companhia.

Entretanto, enquanto eu derramo minhas incontáveis lágrimas, e à medida em que eu prossigo meu caminho, eu me mantenho com um sorriso estampado no rosto, ainda que a minha vontade seja desaparecer, como esse cenário turvo que se desmancha e se apaga aos poucos, atrás de mim.

Ao desvanecer dessa paisagem, grito internamente, pensando: “Será que se eu me afastar de você, para bem longe, para muito distante, essa chuva irá parar?”

Continuo a caminhar e, olhando ao redor, percebo que o cenário ainda não se descoloriu. As cores continuam em seus devidos lugares.

Tudo ao meu redor parece certo, normal, menos o meu inquieto coração

Essa sensação de não ter para onde ir, nem um lugar para qual voltar quando eu estiver receosa, com medo, ou quando eu quiser um abraço caloroso de alguém querido...

Se apenas pudesse deixá-la de lado... Eu agradeceria a mim mesma por tirar do meu peito esse peso, algo que eu gostaria de nunca ter sentido antes. Mas faz parte da vida, e foi você quem me ensinou. Assim, como levantar a cabeça e seguir em frente. Isso também foi você, a pessoa a me ensinar, e a incentivar a fazê-lo.

Por isso tenho que te agradecer por todas as experiências e lições que me deste. Cada uma delas estará bem guardada e gravada no fundo do meu coração, com todo o amor.

Quase terminando o meu caminho para casa, reflito novamente sobre a pergunta anterior:

“Será que se eu me afastar de você, para bem longe, para muito distante, essa chuva irá parar?”

A verdade é que eu não sei a resposta à essa pergunta.

Só o que eu sei, é que eu estou e estarei te esperando nessa chuva que recai sobre mim.

Não importa quanto tempo passe, eu estarei a te esperar nessa chuva interminável.

Porque o meu amor é tal como essa chuva torrencial: intenso, incessante, inesgotável e infinito.

Te amo sempre, para sempre e por todo o sempre.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

[Fanfic] Reset

 

Lee Eun Bi

            Eu não sei muito do meu passado quando eu era recém-nascida. Só a partir dos meus cinco anos. Imagino que meus pais biológicos eram realmente boas pessoas, mas não tiveram condições de cuidar de mim e me criar, e por conta disso me deixaram na Love House, um orfanato onde morava até pouco tempo atrás

Meu dia a dia era como o de qualquer adolescente do Ensino Médio, exceto por uma coisa. Eu detestava o intervalo, porque era o “alvo” preferido da Kang So-young.

Isso mesmo. O que eu sofria na mão dela é o que o resto das pessoas e do mundo conhece como “bullying”. Mas eu nunca contei a ninguém a respeito do meu sofrimento, uma vez que não desejava que se preocupassem comigo. Eles já tinham tanto com o que se preocupar, tanto para aproveitar, que eu não queria interferir nos afazeres e na alegria dos demais ao meu redor.

Eu só queria que fossem e estivessem felizes: A única coisa que eu não conseguia ser naquele momento.

Como resultado, eu escondia a verdade marcada por feridas, por momentos inglórios sobre os quais eu nem gostaria de me recordar. Entretanto, as “marcas” de uma vítima não são apenas físicas, mas também, psicológicas e sociais.

Kang So-young estava conseguindo mexer comigo da pior forma, fazendo-me reduzir a nada. Eu era “a excluída” e sempre a “Boba da Corte”

A cada manhã eu desejava imensamente pedir por socorro por não conseguir suportar aquele inferno sozinha, rodeada de pessoas que se divertiam me humilhando e me usando como bem entendem. Como um objeto sem valor e descartável.

Sentia que havia um buraco no meu miserável coração

Um lugar onde ninguém podia me escutar

“Quem irá me estender a mão?”, me perguntava, porém mesmo naquelas circunstâncias, efeito nenhum surtia. Ninguém ousava se aproximar por medo, e eu não os culpo. Qualquer pessoa temeria sofrer algo deplorável nas mãos das valentonas da escola.

Por isso, ninguém me salvaria.

As expectativas positivas em relação aos meus colegas de classe, e a minha própria esperança, estavam cada vez mais próximos de zero.

Em todo e qualquer dia, mesmo com o raiar do sol claro e revigorante, parecia-me que estava inserida numa noite escura e lúgubre, em um túnel isolado, ao qual a luz se tornava cada vez inalcançável

Eu apenas ansiava em retornar aos dias brilhantes, repleto de boas energias, nos quais eu podia dar um sorriso sem temor algum.

Se tudo fosse tão simples, isso seria realizável

Entretanto, a vida me mostrou que a realidade era bem mais difícil do que aparentava. Em virtude disso, eu decidi tirar a minha própria vida.

E tudo acabaria

Não traria mais preocupações e tiraria esse inestimável peso do meu peito.

Esse era o caminho mais fácil.

Deixaria que as águas levassem meu corpo, e tudo bem

Mas bem nesse instante, uma mão segurou na minha, e me salvou, me livrando do meu trágico fim. Ao se prontificar em me socorrer, era como ela me dissesse: "Eu não vou te deixar partir"

Não reconheci a quem pertencia aquela delicada palma, mas essa pessoa me deu a chance de recomeçar

Agora, morando em uma nova cidade, mesmo sem memórias, sinto que eu posso viver tranquilamente na companhia de pessoas que me amam verdadeiramente. Que eu posso encontrar o amor fraterno e romântico, amizades sinceras e a coragem para seguir em frente.

Porque eu só quero recomeçar.

Recomeçar

[Texto] O Espelho de Alice

 


“País das Maravilhas”, “Alice”, “Chapeleiro Louco”. Estes nomes com certeza devem soar familiares para você que está lendo esse texto, tanto quanto é para mim.

Quem nunca ouviu falar das peripécias de Alice quando pediu para os seus pais lerem uma história na hora de dormir, ou mesmo numa roda entre amigos, em uma aula de português?

Mas quem é Alice senão uma garota de sete anos que tem sonhos e ideais? O que é o “País das Maravilhas” senão o mundo da imaginação, um lugar que idealizamos a partir dela e concretizamos as fantasias, os desejos, onde a lógica é a do coração e não a da razão?

Onde tudo é mais simples, porque é exatamente como você imaginou.

Como uma garotinha imagina que seja.

“Todas as pessoas grandes foram um dia, crianças, mas poucos se lembram disso”. Essa é a mais pura verdade descrita em uma frase. Ao chegarmos a vida adulta, nos deparamos com dificuldades que, décadas atrás, pareciam distantes e irreais. Claro, todos nós, ao crescermos a cada passo, a cada ano de vida que se conquista, precisamos enfrentar desafios, conflitos, problemas e a verdade nua e crua tal como ela é.

Personagens fictícios, para muitos, tornam-se coisa do passado.

Entretanto, nada nos impede de sonhar e imaginar

Todos nós fomos um dia crianças, e no fundo ainda somos.

Porque temos conosco, o espelho de Alice, que reflete o nosso espírito, a nossa criança interior que nunca deveria deixar de existir. E o nosso País das Maravilhas, ou a Terra do Nunca, como preferir, nunca deveriam se extinguir, porque fazem parte de quem nós somos, e de quem fomos em nossa meninice, nos dias de prazer e de alegria, os quais remetem às primeiras vezes que alguém nos ensinou a imaginar, a adentrar em um mundo novo e desconhecido, e a acreditar no impossível

Isso ainda é possível. Basta olhar no Espelho de Alice, em nosso interior, para dentro de nosso próprio coração.

E enquanto acreditarmos, o nosso incrível “País das Maravilhas” sempre estará a nos esperar.

[Love Conflict] Recebendo conselhos e acertando sentimentos


Asahina Natsume

Eu sabia como ajudar a Ema a sair daquela situação: eu iria ao Acampamento de Verão e chegaria de supetão no local para surpreendê-la. Há meses que as pessoas estão falando sobre o evento, até mesmo na empresa durante os pequenos intervalos que tínhamos, e as notícias correm mais depressa do que se imagina, especialmente quando o assunto são os planos para as férias de meio do ano.

Alguns colegas meus da Companhia também iriam para lá, porque também gostavam de praticar esporte como hobby e uma estratégia anti-estresse por conta do trabalho intenso que tínhamos, ou seja, eram os mesmos motivos que os meus.  Aproveitaria a situação e diria que vim porque meus amigos decidiram vir, afinal eu não queria deixar na cara as minhas intenções

Eu estaria lá na semana seguinte, para garantir que nada de inapropriado ocorresse. Culpa dela que é linda demais!

Então está marcado na semana que vem ― Subaru disse naturalmente, e Ema lhe respondeu, sorridente:

― Eu vou sim. Será uma boa oportunidade de eu respirar novos ares, praticar minhas habilidades esportivas e descobrir o que certa pessoa sente ― Olhei de canto, para Subaru, que não respondeu. Também não estava a fim de criar encrenca com ele de novo e bem ao lado dos nossos irmãos, já que estávamos todos na mesa para apreciar uma xícara de chá.

― O que tem na semana que vem? ― Tsubaki se intrometeu, curioso.

Eu e Azusa sabíamos da personalidade dele, de modo que este o repreendeu:

― Deixe de ser xereta, Tsubaki!

Uma semana depois, coincidiria exatamente com o inicio das férias de meio do ano que tiraríamos por duas semanas.

Nosso gêmeo cruzou os braços, fazendo Ema rir de sua expressão de chateado. Docemente, ela explicou que iria com Subaru ao Acampamento e Tsubaki suspirou, decepcionado:

― Ai, que sorte a dele de poder ter uma companhia tão fofa como você. ― Ele expressou perante ela, mas o que ele realmente queria dizer era: “Queria que fosse eu no lugar dele”. No fundo, ele queria falar as coisas na lata, mas milagrosamente não o fez, e preferiu levar na esportiva, deixando transparecer apenas seu ar de decepção por não ter sido o escolhido.

Quando menos esperávamos, Ema nos faz uma proposta tentadora:

― Já que eu tenho que dar uma resposta para vocês ― Ela olhou para mim, Tsubaki e Azusa por que não fazemos programas essas férias? Assim, cada um poderá ter um momento especial.

― É sério isso? ― Tsubaki se animou, com os olhos brilhando

― É sim ― Ela abriu um sorriso amigável

― Tem certeza disso, Ema? ― Azusa lhe questiona, claramente demonstrando sua cautela em relação a ela, me deixando aliviado que ao menos um deles a compreendia de maneira decente.

― Tenho sim ― É a resposta breve e convicta dela ― É a melhor forma de descobrir o que cada um de vocês sentem por mim.

Eu estava impressionado com a resposta dela. A cada dia ela nos surpreendia e parecia que aos poucos estava deixando a indecisão de lado, o que era bom sinal, ainda que preservasse sua natureza tímida.

Azusa sorriu em sua direção, satisfeito com suas palavras receptivas. Fuuto, observador e esperto desde que o conheço por gente, indagou à mais velha:

― Nee-san, o convite é só para eles ou eu também posso te fazer uma proposta?

― Pode sim, Fuuto-kun ― Ela afirma, com sua amabilidade natural ― O que foi?

― Na sexta que vem, à noite, eu farei um show. Quer ir, Nee-san? ― Fuuto lhe pergunta, intencionalmente, e provocativo como de costume, porém, a garota não se deixa levar pelo seu tom, e lhe responde alegremente:

― Claro! ― Sua voz era radiante. Era impressão minha ou ela estava com os olhos brilhando bem mais com o convite do Fuuto do que com o do Subaru? Será que ela estava mesmo ansiosa para ir ao Acampamento de Verão ou ela aceitou por algum motivo em especial?

“Ah, Subaru! Que estranho sentimento você causa na Ema, afinal?” Era o que eu pensava. Se até para mim que o conheço desde que éramos pequenos, era complicado entender os sentimentos dele, fico imaginado o quão difícil é para ela, que convive conosco há apenas um ano.

― Fuuto, você não perde uma, né? ― Yuusuke reclamou, tendo em mente a personalidade do mais novo.

Com a língua afiada que tinha, Fuuto imediatamente se pronunciou:

― Pra você ver que eu não sou besta. Diferente de uns e outros que não são tão espertos e nem são populares com garotas ― Ele contou vantagem em relação a Yuusuke, referindo-se indiretamente à sua extrema popularidade por ser um ídolo, com suas fãs 100% sendo mulheres, enquanto Yuusuke nunca foi o cara mais popular e conhecido na escola, daqueles que as meninas vivem correndo atrás. Ouvir algo desse tipo, ainda mais vindo da boca do Fuuto era um verdadeiro insulto, o que o deixou bastante nervoso, não só pelas palavras, como também pelo fato de elas serem verdadeiras. Yuusuke detestava quando Fuuto estava certo, e detestava mais ainda ter que admitir isso de cara limpa.

Sendo assim, ele só olhou furiosamente para Fuuto, que não estava nem aí para o nervosismo do irmão, por ser de praxe presenciar uma reação dessas. Pelo contrário, Fuuto parecia estar se divertindo com a cena. Deixando isso de lado, e querendo retomar o assunto principal que se denomina “Hinata Ema”, eu olhei para ela e perguntei:

― Você quer ir mesmo ao Acampamento?

Eu tinha que perguntar isso, porque apesar de tudo, sentia que ela escondia alguma coisa. No mínimo, ela queria descobrir os sentimentos do Subaru, usando a lógica do que ela disse para nós anteriormente.

Eu deixaria que tudo acontecesse naturalmente, afinal, eu também queria saber o que ele sentia, e logo depois teria uma conversa com ela, para saber como ela se sente em relação a ele, porque, honestamente, até agora, ela parece ficar bem incomodada com a presença dele – e, não, eu não estou “puxando a sardinha para o meu lado”, como você leitor talvez possa imaginar, isso é só os meu instinto masculino se manifestando. E, também, quem não fica mexido perto do Subaru, hein? Ah, céus! Vou te contar.... (Suspiro).

― Sim ― Ela respondeu com mais convicção me deixando aliviado. ― Você me deu autoconfiança, agora sei que vai ficar tudo bem ― Fiquei feliz em saber que eu estava colaborando para que ela fosse mais confiante. Era gratificante descobrir que ela estava crescendo por dentro, por conta da convivência que tinha comigo.

― Quanto tempo vocês vão ficar lá? ― Ukyou nii-san quis saber, provavelmente por conta da preocupação que tem com a casa.

― Quatro dias e três noites ― Respondi

― E depois a Nee-san é toda minha! ― Fuuto comemorou, e Yuusuke lhe cortou:

― Não vá fazer nada de errado com ela, hein?

De repente, a voz de Subaru que não havia sido escutada até o momento, por nenhum de nós, aproveitou a deixa do assunto de “agir corretamente” para se pronunciar:

― Quer saber? Vou me retirar antes que eu faça alguma besteira!

Estava na cara que ele ficou mexido com os elogios que a Ema fez para mim, mas resolvi deixar quieto e ver aonde tudo aquilo daria. Enquanto eu decido ficar na minha, Iori resolve seguir Subaru, muito provavelmente para falar com ele e saber o que se passava naquela cabeça. Espero que o gênio tranquilo do Iori sirva de exemplo e suas palavras de conforto, e que assim, Subaru possa abrir sua mente e pensar diferente.

 

Asahina Iori

Eu sabia que tinha algo errado com o Subaru. Raramente ele ficava no quintal e em nosso jardim. Para ele estar isolado num lugar onde ninguém vai, exceto eu, é porque “a coisa tá preta” de verdade. Fui falar com ele, que como eu imaginava, não aceitou se abrir comigo de primeira.

Por causa da minha insistência, ele resolveu ceder, e me contou que estava assim por conta da Ema, mais especificamente da relação dela com o Natsume nii-san.

Todo mundo já se deu conta do quanto eles estão apegados e mais íntimos, inclusive eu. Mas também percebi outra coisa muito importante: A Ema quer alguém que seja sincero com ela, e nesse exato momento, Subaru não está sendo sincero nem com ele mesmo, ficando em estado de negação por não admitir logo que errou com a garota que ele ama, e com se irmão mais velho, já que é orgulhoso demais para assumir seus erros prontamente. Vai ser bem difícil tentar quebrar a cabeça dura do Subaru nii-san, mas, ainda assim, não custa tentar.

Quem sabe eu não consiga? Modéstia à parte que sou muito tranquilo, e acho que ele está precisando de alguém com esse perfil para aconselhá-lo, por mais que Fuuto e o Natsume nii-san já tenham falado sobre como lidar com as garotas. Às vezes, a maneira com a qual falamos é a que mais importa para fazer alguém tão teimoso mudar de ideia da água para o vinho. 

Eu lhe aconselhei da seguinte maneira:

― Você lembra quando eu namorava a Fuyuka? ― Comecei, e ele assentiu positivamente ― Nós compartilhávamos momentos juntos. Na alegria ou na tristeza, eu sempre estava com ela. Quando você ama alguém precisa compartilhar as experiências, as vivências e as emoções. Acontece que você é fechado demais, e ela é tímida de natureza, o que dificulta a aproximação dela.

― Eu não sei o que nem como dizer para ela. Já disse o que sinto, mas... ― Eu o interrompi, cortando-o imediatamente.

― Você não entendeu o que eu disse, pelo visto ―  Aleguei com mais firmeza, e ele arqueou a sobrancelha, atento, pois sabia que eu raramente era categórico com alguém, dada a minha personalidade tranquila. ― Quando eu disse para falar seus sentimentos, não me referi às declarações. Não é só disso que se trata amar alguém. Você pensa que tem que dizer algo especial para ela, para conquistá-la. Mas dizer apenas “eu te amo”, não resolve seus problemas

― O que quer dizer com isso, exatamente?

― A verdade é que não existe hora certa para demonstrar seus sentimentos, porque eles não avisam ninguém. ― Ele ia dizer alguma coisa, mas eu não permiti, pois já sabia exatamente o que ele alegaria. “Não tem hora certa para se declarar também”. Eu nem precisava ver a cena para saber disso, estava escrito na cara dele. Então, chamei a atenção do meu irmão mais velho:

― Mas isso não significa que você pode sair por aí se declarando, a ponto de deixá-la inquieta. Mais ameno, eu o aconselhei, calmamente:

― A melhor forma de se aproximar dela é através do dia a dia, dizendo as coisas mais simples possíveis. Compartilhe com ela as coisas que te agradam, o que te incomoda, ou que você prefere. Quando você ver que ela está quieta, pergunte naturalmente o que está fazendo ou se ela precisa de uma ajuda. Se ela disser que sim, conforte-a, se ela disser que está tudo bem, contente-se por ela estar bem. Aos poucos, você verá que ficará mais próximo dela, e quem sabe não tenha uma oportunidade para finalmente revelar o que sente.

Francamente, ele não tinha – e ainda não tem – intimidade nenhuma com a Ema, mesmo morando todos na mesma casa, sob o mesmo teto, considerando-se a personalidade introvertida e extremamente difícil que ele possui.

― Como você consegue falar disso com tanta segurança, e tão natural?

― Chama-se experiência de vida. Eu fazia tudo isso e mais um pouco com a Fuyuka, quando a namorei ― Lembrar daquilo me causava uma sensação de nostalgia e tristeza. Subaru, assim como os demais, sabia que eu havia tido uma namorada no Ensino Médio, entretanto, ele e a maioria de nossos outros irmãos, não faziam ideia da minha dor e do trauma que isso causou.

Recompondo-me, continuei

― Quando a Ema chegou, fiz questão de recebê-la bem, com gentileza e afeto, mas sem pretensão nenhuma, como faço até hoje. Só queria que ela se sentisse bem em sua nova família.

Claro que depois, comecei a ter sentimentos mais fortes por ela, como até hoje tenho, no entanto, a intimidade que eu tenho com ela se tornou natural, então, sinto que conquistei pelo menos a confiança dela, o que é bem mais importante do querer tê-la para mim. A Ema me devolveu a esperança, e me fez ver que eu posso encontrar o amor outra vez. Isso já é bastante o suficiente, e o mais importante.

Indiretamente eu estava falando (na última parte) para o Subaru parar de ser possessivo com ela. Pela sua expressão ele deve ter entendido de primeira, pois ficou incomodado com o que escutou.

― Eu só queria que ela tivesse um tempo comigo.

― E você vai ter no Acampamento de Verão. Aproveite essa chance para conversar e se divertir com ela. Você não lembra do que o Fuuto disse naquela tarde? Todos têm dois lados extremos, nii-san. Por mais que você seja introvertido na maior parte do tempo, com certeza também tem um lado mais dócil. Demostre carinho, afeto, ternura, porque você gosta dela, só por isso, mais nada. Se ela vai ou não te corresponder a escolha é dela. ― Eu queria que ele compreendesse isso de uma vez por todas, porque mesmo que o Natsume nii-san já tenha dito, um toque a mais nunca é demais ― E é bem natural que ela queira ficar com outras pessoas, tendo tantas opções perto dela. ― Enfatizei, à espera de ter encontrado uma maneira de dizer que eu também me incluía na situação. Na mesma situação.

― Falar é fácil, difícil é ter que suportar ver a Ema com outro cara!

  Escute ― Pedi cautelosa e pacientemente, mas o assunto e as palavras que eu diria a ele eram sérias, realistas e até um pouco duras ― Perder alguém é doloroso, amar alguém até o final, de todo o coração, dói ainda mais. Só que o pior de tudo é ter a pessoa amada do seu lado, debaixo do seu nariz, sabendo que nenhuma das partes está feliz. Além disso, o amor é uma faca de dois gumes: machuca tanto quanto cura.

Ele se aquietou, atordoado, provavelmente porque nunca imaginaria que eu dissesse algo desse tipo tão de repente. Entretanto, acho que no fim, foi um bom conselho, uma vez que ele acenou positivamente com a cabeça, ainda em silêncio e incomodado, em sinal de que havia “capitado a mensagem”

Diante daquele silêncio mórbido de alguns minutos e, presumindo que não havia mais nada o que fazer ali, eu apenas disse:

― Enfim, espero que você aproveite seu tempo com ela ― E fiz menção de me retirar para ir ao meu quarto e ler algum livro. Quando eu estava de saída, Subaru repentinamente me parou, e perguntou:

― Você nunca se declarou para ela?

“Ah, então você acha mesmo que uma declaração de amor tem que ser com palavras, não é?” Pensei, no mesmo instante, e com a voz macia, e com o olhar sério, fiz mistério, dando-lhe uma indireta:

― Eu já fiz isso várias vezes, você que nunca percebeu

“Nem ela”, refleti. Ema sabia que eu tinha um grande apreço por ela, mas ainda era ingênua em relação ao amor e aos significados que cada uma das flores possuía.

Raciocinando por um instante, ele se deu conta do que se tratava.

― Calma aí! Então as flores... ― Ele iniciou a frase, sem terminá-la, pasmado.

― Exatamente. São uma forma de eu me declarar para ela. Não importa se é por preocupação, afeto, gentileza ou algo maior do que “apenas isso”. É uma forma de entregar meus sentimentos para ela. É o que eu chamo mentalmente de “A Nossa linguagem das flores”, porque a linguagem das flores, também é a do amor.

“Só não sei até quando isso vai durar”, pensei comigo mesmo. À medida em que ela se decida em relação aos sentimentos, mais eu sentia que a hora de lhe entregar a tulipa amarela se aproximava.

 

Hinata Ema

Iori entrou em casa em silêncio e desviou o olhar de mim, algo que raramente fazia, e eu claramente estranhei. Ele se dirigiu ao andar de cima sem nada dizer, e coloquei em minha mente que, quando o encontrasse conversaríamos a respeito, ou pelo menos, perguntaria se algo havia acontecido.

O fato é que àquela altura, eu já estava conversando um bom tempo com Azusa, a quem eu pedi um aconselhamento pessoal por causa do que aconteceu entre o Subaru e o Natsume, e também a respeito deles, os trigêmeos. Azusa explicou que a relação entre eles é de longa data e que Subaru nunca perdoou o irmão por ter desistido do esporte. Depois acrescentou:

― Esses dois têm o mesmo gênio. O que acontecerá no futuro só o tempo dirá ― Falou com a voz macia, como forma de me confortar, percebendo a minha cara de decepção depois de ouvir a história entre os irmãos. ― Não se preocupe.

― Obrigada por me confortar ― Agradeci sinceramente. A calmaria com que ele falava sempre me fazia sentir bem, era uma sensação realmente reconfortante. Ele pegou em minhas mãos, acariciando-as e dizendo:

― Não há de que. Sempre estarei aqui quando precisar ― Ele afirmou, no mesmo tom e com um sorriso se formando em seus lábios e em seguida me abraçou. Ao tocar em minhas palmas, senti corar instantaneamente. Aquele gesto de carinho espontâneo, e presenciando com os olhos fincados nos meus, falando aquelas meras palavras acalentadoras, me causava uma estranha vontade de “quero mais”. Querer sentir a mão dele sobre a minha mais vezes, sentindo-me como alguém que acabou de encontrar seu porto seguro. Aquele súbito abraço me fez desejar sentir seu calor uma vez mais.

“Sinto-me bem. Se eu tivesse apenas uma chance...”, comecei a pensar, e as palavras permaneceram na cabeça: “Uma chance”

E no instante seguinte meu pensamento mudou: “Por que não? Não temos nada a perder”

Então, lhe perguntei:

― Tem planos para a próxima semana?

Ele arregalou os olhos por conta da pergunta inesperada, e após alguns segundos, respondeu-me timidamente, devolvendo-me com outra indagação:

― Não. Por que? Aliás, coincidirá com o início das minhas férias

As férias eram coletivas, de modo que estariam todos de folga. Só precisaria tomar coragem suficiente para ter um momento especial com cada um deles.

― Queria saber se... ― Fiquei hesitante por um momento, típico da minha personalidade reservada acontecer isso sempre que falo algo pessoal

― Se... ― Azusa fez um gesto com a mão para que eu continuasse, olhando fixamente para a minha pessoa.

― Se você quer sair comigo ― Eu disse, depois de juntar todas as minhas forças, deixando a determinação transparecer em meu tom de voz, mas sem deixar a delicadeza de lado. ― No domingo.

Ele aprovou com um sorriso tímido e um olhar cheio de ternura:

― Ema... Estive esperando por esse momento há muito tempo.

― Desculpe ― Pedi, com as bochechas rosadas, desviando o meu olhar por um instante, um tanto envergonhada pela longa demora, mas ele reagiu melhor do que eu esperava e continuou sorrindo, ameno. Logo, levantei a minha cabeça e olhei novamente para ele, declarando:

― Agora estou mais decidida em relação ao que quero. Eu quero dar uma chance para você, e para mim também ― Afirmei, carinhosamente, e como se lesse meus pensamentos, ele me abraçou novamente, entretanto, desta vez era um abraço com um misto de alívio, contentamento, ternura e satisfação. Ainda envolta em seus braços, eu disse como um sussurro, uma mensagem que apenas nós mesmos éramos capazes de escutar:

― Teremos um momento especial, eu te enxergarei como você deseja.

― Estarei pronto para isso ― Foi a gentil resposta que escutei vindo da boca dele, também em forma de sussurro. E foi o suficiente para eu me sentir ainda mais contente e realizada.

Ficamos mais um tempo abraçados, e senti que agora eu tinha mais um lugar para o qual retornar sempre que eu necessitasse de um consolo, de alguém que me compreendesse como sou.

Tinha um encontro marcado com meu irmão mais velho, a quem agora olharia como um homem, uma pessoa pela qual eu tinha um crush, e fortes sentimentos escondidos em meu coração.

E eu estaria tão preparada quanto ele – assim espero – porque o amor prega peças em nós constantemente, principalmente em mim, Hinata Ema. Ao mesmo tempo em que me decidia quanto aos meus sentimentos, quanto mais eu estava certa do que eu desejo para mim, mais o meu coração se dividia. A gentileza de Azusa me conquista, mas a generosidade do Natsume me impressiona a cada dia. Meu coração... Quanto mais eu anseio por entender o que se passa em meu interior, menos eu compreendo. Só queria rompê-lo em dois.

Mas nesse momento, tudo que eu posso fazer é esperar para que o domingo chegue logo, e assim, teria um momento a sós com Azusa, que eu esperava que se repetisse mais vezes.