sábado, 3 de outubro de 2020

[Conto Chinês] Uma história Taoísta Complicada: Quem era o sonhador? (Jiao Lu Zi Qi)

Uma história Taoísta Complicada: Quem era o sonhador? (Jiao Lu Zi Qi) 

Durante o Período dos Reinos Combates na China, vivia ali um lenhador no Estado de Zheng. Um dia, em seu caminho para a montanha onde ele cortava a madeira, ele avistou um cervo assustado, parado na plantação, chutou e o matou. Com medo de que alguém visse o animal, ele o cobriu com folhas de banana e foi trabalhar alegremente 

No entanto, ao voltar, ele não se lembrou do esconderijo. Após duas horas procurando, sem resultado, ele começou a duvidar se ele capturou o cervo  

— Talvez a coisa toda foi um sonho — Ele disse a si mesmo. Mas ele estava tão frustrado que continuou murmurando que ele caçou o cervo e o escondeu. Ele não sabia, mas tudo o que falou estava sendo ouvido por um transeunte.  

De acordo com o que ele ouviu, o transeunte descobriu que o cervo estava escondido. Ele encontrou o cervo e o levou para casa. Ele disse à sua esposa:  

— O lenhador disse que ele sonhou que matou o cervo, mas ele era incapaz de se recordar onde ele o escondeu. Agora que eu encontrei o cervo, parece que estava certo; ele capturou o cervo em seus sonhos  

Sua esposa sorriu e disse:  

— Não há nenhum lenhador em nossa vizinhança. Temo que é você que sonhou que o lenhador capturou o cervo. Agora que encontraste o cervo quer dizer que teus sonhos se realizarão.  

O homem respondeu:  

— Eu tenho o cervo de qualquer forma. Não importa quem foi o sonhador.  

Naquela noite, o lenhador teve um sonho no qual ele chegou a pensar que o lugar onde ele escondeu foi visto pelo transeunte, que pegou o cervo. Na manhã seguinte, ele encontrou o magistrado e o cervo. Então, ele o levou ao magistrado e o processou, para devolver o cervo.  

O magistrado disse:  

—  O lenhador matou o cervo, mas ele achou que era um sonho. Depois, ele encontrou o cervo e a pessoa que o pegou, em um sonho real, então ele processa pelo cervo. O transeunte pensou que o lenhador matou o cervo em um sonho, e ele encontrou o cervo real, enquanto sua esposa disse que o transeunte conseguiu o cervo em seus sonhos. Então, o cervo não pertence a ninguém. Eu não posso dizer quem foi o sonhador, mas o cervo está aqui e é real. Vamos dividi-lo igualmente entre os dois homens.  

Sabendo do caso, o Duque de Zheng comentou, de forma brincalhona:  

— Ah, a próxima coisa que eu vou ouvir poderia ser sobre o magistrado ter sonhado que dividiu o cervo — E enviou o caso ao seu Conselheiro Chefe para uma opinião.  

O Conselheiro Chefe disse:  

— Vossa Majestade, se esse caso é sobre sonho ou realidade, eu não posso dizer. Apenas (homens sábios como) Huang Di ou Confúcio conseguem diferenciar sonhos e realidades. Uma vez que ambos já estão mortos, eu recomendo que deixe estar, a decisão do Magistrado.  

 

Pano de fundo e Comentários [do tradutor em inglês]  

Essa é uma história confusa, não é? É de “The King Mu of Zhou” um artigo de Lie Zi, no qual o autor fala sobre alguns pontos típicos do Taoísmo. 

Taoístas pensam que o mundo é um sonho no qual tudo é irreal e ilusório. 

Se ficarmos obcecados com este tipo de mundo, nós nos perderemos e ficaremos confusos. Sonhos, aos olhos dos Taoístas, são metáforas ao mundo ilusório ou um pensamento ou ideia ilusória  

Por isso, os Taoístas argumentam que os sábios não têm sonhos, porque os sábios podem evitar a si mesmos de ficarem confusos, e conseguem captar a essência do mundo.  

Tradução do inglês ao mandarim: Richard Han (Chinese Story) 

Tradução do inglês ao português: Rebeca Suzuki (Cantinho das Xarás) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário