Às vésperas da abertura oficial da Marie’s
Garden, nós trabalhamos duro, para deixar pelo menos uma quantidade
significativa de doces prontos para o dia seguinte. Fizemos de tudo, contando
com a ajuda de nossos Espíritos e claro contamos uns com os outros. Uma parte
dos ingredientes ficou por conta da Kana-chan, mas ela também ajudou bastante a
fazer as sobremesas.
Seja como for, no dia seguinte estávamos
todos tensos, porque finalmente haveria o grande dia da abertura da Marie’s
Garden (e da nossa loja também) Nós estávamos com o coração e a mente a mil.
Agilizamos desde manhã e tratamos de nos acalmarmos, pois sabíamos que antes de
qualquer coisa Henri-sensei faria seu discurso. Dito e feito. Foi só chegarmos
ao local (na hora prevista) que ele começou a falar:
— Sejam todos bem vindos à Marie’s Garden! Espero que
todos tenham uma boa experiência e expandam seus horizontes no “mundo dos
doces”, apreciando o melhor que possam lhes oferecer!
“Apreciando o melhor” tínhamos mesmo que dar
tudo de nós mesmos, pois só assim conseguiríamos agradar aos futuros clientes.
Algum
tempo depois...
Nas primeiras horas da inauguração, ainda
havia poucos clientes na “Little Dreams”, mas mesmo assim, nós os atendíamos
com excelência e com muito carinho. As pessoas retribuíam com a satisfação que
tiveram em provar nossas especialidades e nós agradecíamos a eles por
comparecerem ao local. De hora em hora esperávamos o tempo passar, uma vez que
ainda não éramos muito conhecidos. Entretanto, havia uma pessoa que nos
conhecia muito bem (e vice e versa) e chegou escancarando a nossa porta:
— Hahaha! Finalmente! — ela comemorou, se divertindo com a situação.
— Koshiro-san! — eu pronunciei o nome
dela com força (desta vez ela estava desacompanhada, Graças a Deus)
— O que está fazendo aqui? — Makoto atacou, mas
nossos amigos deviam estar pensando a mesma coisa, já que arquearam as
sobrancelhas.
— Vim dar um aviso — ela começou —
Eu desafio vocês nas vendas! Vamos ver quem é o melhor!
— Nós aceitamos o desafio — todos nós falamos em
uníssono
— Que ótimo! — ela falou, satisfeita,
e saiu.
Todos suspiramos, aliviados que o “pesadelo”
chamado Ojou já tinha ido embora. E sabíamos que independente de qualquer
coisa, faríamos o nosso melhor, pois tínhamos uns aos outros e era isso que
mais importava, seja qual forem as condições ou obstáculos.
Dias
depois...
Sim, foi apenas depois de alguns dias de
funcionamento que a loja realmente começou a encher. Os doces que as pessoas
mais pediam eram a Forest Linda, a minha torta de morango e os doces japoneses
do Andou-kun (que faziam bastante sucesso entre os clientes). Por isso, na
maior parte do tempo sempre se ouvia dos clientes alguns comentários como:
— Uma Forest Linda, por favor!
— Quero esta torta de morango deliciosa
— Não sabia que doces japoneses eram tão saborosos!
Claro que as outras sobremesas também eram
desejadas pelos clientes, mas essas eram as principais (sem contar com o café
que servíamos como acompanhamento ou só para saciar a sede mesmo, e que assim
como os doces, era o que mais se pedia). Tentávamos ser o mais ágeis possíveis
para evitar comentários desagradáveis ou insatisfatórios da clientela (não sei
por que mas nesses momentos a simpatia da Kana-chan agradá-los funcionava muito
bem), mas em geral estávamos indo bem. Tivemos até uma surpresa, quando percebemos
que alguém docemente sádica veio nos visitar.
— Miyabi-sama — nós a cumprimentamos
cordialmente
— Nee-san... Como... — Makoto começou, sem
entender como sua irmã estava bem ali na nossa frente.
— Cale a boca, Makoto! — ela disse com um
sorriso travesso no rosto — Vim fazer uma visita, e
daí? — ela quis parecer sádica, mas no fundo eu sabia que ela
estava feliz pelo irmão.
— Miyabi-sama, o que deseja? —
eu perguntei a ela.
— Pode me chamar de Miyabi — ela falou sincera —
E você sabe, quero meu doce predileto. Vocês tem, certo?
— Claro! É pra já — eu afirmei confiante
e sorridente.
E virando-me para Makoto, eu disse:
— Um opera pra sua irmã!
— Ok — ele concordou.
— Pra ontem, tá?
A Miyabi pareceu rir da forma como eu tinha
falado com seu irmão para entregar-lhe a sobremesa em breve (quem não conhece a
expressão “não é pra agora, é pra ontem?!”). E olhando para ela, eu lhe
ofereci:
— Não quer tomar um café enquanto espera?
— Quero, sim! É café inglês, certo?
— Sim, aqui está! — eu lhe dei a bebida
alegremente — Pode se sentar ali naquela mesa. —
eu apontei para o lugar, perto da janela (exclusividade só pra ela).
— Ok — Obrigada.
— De nada, se precisar, é só chamar.
Ela sorriu em resposta, mas não disse nada.
Cinco minutos depois, Kashino lhe entregou o pedido.
— Aqui está — ele falou, natural.
— Demorou, hein! — ela zombou do irmão.
— Não enche, caramba! Eu tinha outros pedidos! —
ele se defendeu — Agora, experimenta logo!
Ela saboreou cada mordida e aprovou a
sobremesa, dizendo que estava “nas suas expectativas” em relação às nossas
habilidades e o sabor, principalmente.
Quando ia se retirar, ela chegou ao balcão e
disse:
— Será que tem mais um pedaço de opera aí?
— Mais um? — Vai guardar pra hora
do jantar, é? — agora foi a vez de ele zombá-la.
— Não enche —
ela o imitou — É pra nossa mãe! Ela quer experimentar também,
milagrosamente, porque falei bem da loja de vocês mesmo antes de vir.
— Calma aí! Então ela... — Vem comigo! —
ele a puxou pelo braço, para fora da loja, e me lançou um olhar de “segure as
pontas pra mim”.
Fora
da loja...
— Fala logo! — Makoto estava
desesperado — Ela está mesmo aqui?
— Sim, ela está em Londres, Makoto. Eu disse que podia vir
sozinha, e era esse o plano de início, mas ela disse que tinha coisas para
resolver aqui... Bom, você entendeu!
— Mais alguém da família está aqui? — ele quis saber
— Não que eu saiba — ela informou, naturalmente.
Ele suspirou aliviado, e disse:
— E como ela “aceitou experimentar um doce” daqui da loja?
— Como eu disse, mas acho que você não escutou, eu fiz
elogios da loja antes mesmo de vir. E eu tenho minhas táticas de convencimento;
por estar em Londres e nosso tio chocolatier sempre viajar pra cá, foi mais
fácil convencê-la.
— Então, ela presumiu que o doce era do nosso tio ou algo
assim?
— Exatamente! Mas ela vai ter uma surpresa sentir a
diferença do sabor
— Se ela sentir, né? Mas deixa pra lá. —
ele falou como se não fosse nada importante
— Ah, ela disse que quer te ver hoje à noite. Tá aqui o
endereço — ela deu um papel ao irmão.
— Tá... — ele só concordou, sem
querer contrariar.
— Mas não é só você. É ela também, por isso leve a sua
namoradinha junto.
— Mas... Espera aí, caramba!
— Não é nada demais — Ela só quer conhecer
a garota! Fui!
Depois dessa conversa, a última coisa que
Makoto fez foi mandar uma mensagem de celular para mim:
“Vamos ter que sair do expediente um pouco mais cedo hoje, Prepare-se porque você verá a minha mãe de perto, e não é pouca coisa. Ela vai querer saber tudo”.
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