domingo, 7 de janeiro de 2018

Sexto Conflito: Quem ama, cuida

“Sore demo tokubestsu ni naritai,
Kono mune ni kojireta, hageshi… Shitto ga
Yoru ni kishimu”
(Jealousness – Natsume, Azusa & Tsubaki)

“Mesmo assim, eu quero ser especial para você
Esse impetuoso ciúmes que se agrava em meu coração
Rilha à noite”

Asahina Natsume
Chegamos em casa, e nossos irmãos já estavam à espera. Fiz questão de levar Ema até lá, sã e salva, dando carona para o Subaru também. Os demais acharam estranho o fato de eu e Subaru voltarmos juntos e lhes expliquei a situação, o que pôs fim àquela falação.
A garota agradeceu o meu ato e eu disse que não precisava agradecer, era um prazer e um alívio para mim fazê-lo. Ela surpreendeu a mim e a Subaru ao olhar para mim e me falar, amorosamente:
― Eu vou te proteger daqui pra frente também. E sempre
― Por que essa proteção e preocupação toda com o Natsu-nii? ― Meu irmão estava visivelmente incomodado com as palavras dela, dando-nos sinais de que começava a ficar com “dor de cotovelo”.
― Porque quem ama, cuida ― Ela disse, com sutileza e seriedade a ele, e direcionou seu olhar a mim em seguida.
Como é do feitio dele não admitir perder para mim, ele recomeçou aquela história de achar que conquistar uma garota era uma competição, o que me deixou muito irritado.
― Na semana que vem vou levar a Ema ao acampamento esportivo, e tenho certeza que farei três pontos na Ema ― Ele estava me desafiando e claramente me torrando a paciência. Ela ficou sem entender e olhou para nós dois, esperando que explicássemos que se tratava e vendo que nos mantínhamos calados, ela perguntou:
― Como assim, “três pontos”?
― Significa te conquistar em três lugares distintos: no seu coração, em sua mente, e em seus lábios. Eu ainda farei você me amar, pensar em mim, e vou te beijar.
Ema ruborizou ao ouvi-lo, eu tive que me controlar para não o agredir fisicamente na mansa e na frente dela, só que o atrevimento dele me fazia sair do controle.
― Quer dizer que tudo isso não passa de uma competição? ― Ema nos pergunta, chateada
― Que lerda, hein! ― Fuuto, que não havia sido chamado na conversa, resolveu se meter ― Todos disputamos pela sua atenção, inclusive eu, Nee-san. ― Ele pronunciou a última palavra com uma piscadela provocativa para ela que devolveu e felizmente, a deixou menos tensa e um pouco mais animada, de modo que ela pode interpretar as nossas falas seguintes com mais calma
Evidentemente que cada pessoa tem sua forma de esclarecer as coisas. Enquanto um indivíduo parte do humor sarcástico, outro o faz duramente. Estou falando de Subaru, que encarou a garota e lhe disse:
― Pode perguntar ao Natsu-nii, ele vai dizer que é verdade.
Furioso, eu lhe respondi:
― Eu sei exatamente o que eu disse: “Isso não é uma partida, competição ou aposta. Isso é o que se chama “Conflito do Amor”, mas, se você quiser mesmo encarar essa situação dessa maneira, só tenho uma coisa a te dizer: Duvido que você faça três pontos na Ema”. ― Reproduzi as mesmas palavras daquela noite, e então prossegui, sem dar espaço a ele:
― Como pode ver, isso é caso você queira interpretar dessa forma, o que não quer dizer que seja uma competição ― Enfatizei o pronome, deixando claro que se aplica a apenas uma pessoa, no caso ele ― E pelo visto, você não amadureceu em nada seu ponto de vista, já que não enxerga o amor como se deve
Então, virei-me para Ema, e disse:
― Não se assuste e nem se sinta culpada. Se estamos em conflito agora é porque você é importante para nós ― Disse, ternamente, segurando a sua mão e olhando fixamente para ela, que emocionada, afirmou:
― Eu confio em você e nas suas palavras, Natsume ― Ela diz, com seu tom carinhoso e usual, e eu consigo esboçar um sorriso por uma fração de segundos, em meio àquela situação conflitante ― Eu quero confiar e acreditar que isso aqui não passa de um mal-entendido momentâneo e que tudo se resolverá em breve ― Ela segurou a minha mão com mais força, para que eu me acalmasse e também contasse com aquilo, e deu certo. Quando estou com ela, parece que as coisas se tornam mais simples, e ela me transmite a tranquilidade que falta em minha personalidade.
No entanto, Subaru não se deu por vencido, e me disse: 
― Você diz como se estivesse certo sobre o amor. ― Ele me confronta, e eu já esperava tal resposta. ― Você também quer conquistar a Ema que eu sei
Com a voz em tom normal, aferi, com afirmações certeiras e sinceras:
― Não há uma forma certa, já que algo abstrato e único, mas existe uma maneira adequada de se enxergar o amor. Você não pode achar que pode tomar alguém como a “posse da bola”, e o amor não é algo que se ganha, que os outros te entregam porque venceu a “disputa amorosa”. ― Afirmei, metaforicamente, ele entendeu a referência imediatamente ― Se trata de um sentimento que nasce, cresce e se conquista aos poucos, naturalmente e não às pressas, do jeito que você costuma agir na maior parte do tempo. Não vou negar que quero conquistá-la, mas se eu faço gentilezas para a Ema é porque eu a amo e me importo com ela, não porque quero vencer alguém. Até onde sei, não estou disputando nada com ninguém.
Ele ficou nervoso ao me escutar, e seu sangue parecia subir, em vista de sua face que se tornou avermelhada. A reação dele foi a mais previsível que eu poderia imaginar, vindo dele. Não duvido que nos confrontaríamos em questões de instantes, dada a circunstância de que eu não tenho sangue de barata e nem sou do tipo que “leva desaforo para casa”, e quanto a ele, sem exagero nenhum, “calmaria” não existe no vocabulário e nem no histórico dele, diga-se de passagem
Olhou-me com a expressão raivosa, sabendo que eu estava com razão em relação a como analisar os sentimentos, detestando admitir isso. Logo, soltou:
― Está dizendo que eu não vou conquistar a Ema?
― Não disse isso ― Eu o contrariei ― Só que se fosse eu no seu lugar não seria tão presunçoso ― Afirmei em tom neutro, me controlando diante da situação nada agradável entre nós, porém a outra parte não reagiu da mesma forma e continuou a interrogar, de forma irada:
― O que você quer dizer com isso?
― Você não é o único que gosta dela ― Falei, com a voz tempestuosa ―Eu já disse e vou repetir: Você pode conquistar a Ema... Mas, o coração dela... Quem garante?
Eu queria fazer ele enxergar de uma vez por todas que as coisas não precisam e não devem andar no ritmo que ele deseja, mas sim, seguindo os passos de Ema, e também mostrar-lhe que nem sempre poderá ter o que quer. No entanto, isso surtiu o efeito contrário e só serviu para que ele se irritasse mais e me desse um soco do lado direito. Eu já deveria saber que o meu ato causaria esse tipo de resultado, considerando-se que era com Subaru com quem eu estava lidando, mas estava de cabeça quente por conta da teimosia dele, não sou perfeito, nem vidente e tenho o direito de errar de vez em quando.
Ema se desesperou com a cena e bradou em direção a nós dois, com os olhos marejados, mais intensamente para Subaru:
― Chega! Isso termina aqui! ― Ela declarou, e pegando em minha mão, para seguir comigo a caminho da sala de estar, não muito longe dali, para fazer tratar o machucado. Antes de irmos, ela deu um breve aviso a Subaru, com mais força e ousadia:
― Quanto a você, fique esperto. Se acha que vai mesmo me conquistar tão facilmente está enganado. Antes de qualquer coisa você precisa se conter, e saber lidar com situações difíceis.
Literalmente, aquela Imouto-chan tímida e insegura havia tirado uma folga, tamanha eram a determinação e a firmeza com que falava
Ele só pronunciou o nome dela, hesitante, e chocado com suas palavras:
― Ema...
― Se não souber fazer isso, como protegerá uma garota indefesa? Saindo no tapa mesmo?! ― Ema estava realmente brava e estressada com ele, pois havia levantado a voz para Subaru. A primeira vez chega para todo mundo, e hoje, foi a vez da Ema. A menina controlada, cautelosa, dócil e meiga, a pessoa mais calma entre nós todos, conhecida por nunca culpar ninguém por nada, o mínimo que fosse, nesse exato instante estava tratando duramente um de nossos irmãos, gritando e pronunciando cada frase com uma veemência inédita a todos nós presentes, incluindo a “plateia”, ou seja, o resto dos nossos 11 irmãos.
Chegando à sala de estar, já com o kit de primeiros socorros e sentados frente a frente no grande sofá, Ema me indaga, delicadamente, com a voz angelical, colocando um curativo no local da batida:
― Vai me deixar cuidar de você agora?
― Claro ― Retribuo a gentileza contida na voz ― Será um prazer e uma honra estar sob os cuidados de alguém tão linda como você. ― Eu lhe digo, acariciando seu rosto, e abruptamente, ela se aproxima mais de mim e dá um beijo na minha bochecha, onde estava curativo. Aquela ação foi inesperada da parte dela, mas a sensação de tê-la tão perto, e ter seu carinho tão evidente, era a melhor possível.
Com suas íris fincadas nas minhas, ela me diz, um pouco desconsertada:
― Natsume, eu sei que não é o momento mais apropriado pra te fazer essa pergunta... aliás, eu nunca sei quando é o ideal pra gente falar de sentimentos....
― Pode dizer. O que foi?
― Tem uma coisa que está me deixando preocupada ― Ela começou a dizer ― Você disse ao Subaru: “Você pode conquistar a Ema, mas o coração dela... Quem garante?”, então eu quero saber de você
Ah, agora eu estava entendendo onde ela queria chegar. No fim, ela fez o questionamento que eu temia, depois de tomar fôlego e coragem para falar de uma vez por todas:
― O que você quer? ― Apesar de firmes, seu tom ainda era gentil, e ao continuar, percebi que continha certo charme ― Conquistar a mim, ou o meu amor?
― Ambos ― Afirmei, com afinco, ajeitando seus sedosos cabelos castanhos claros ― Mas principalmente, o seu amor
Ela colocou a sua mão sobre a minha, carinhosamente e disse:
― Pode apostar que já está conseguindo ― Ela me garantiu ― Você é a pessoa que mais entende meu indeciso coração, por isso é fácil me abrir com você, e eu me sinto confortável, porque eu sei que você compreende os meus sentimentos, mesmo eu demorando tanto para escolher a minha pessoa especial
Ema se sentia confortável perto de mim, isso era bom sinal, e me contentou bastante por dentro.
― Leve o tempo que for necessário. Tenho certeza que os outros também compreenderão assim como eu.
― Mas é que... ― Ela iniciou suas palavras, que cortei instantaneamente. Sabia que o problema para a insegurança repentina dela tinha nome: Asahina Subaru. Segurei em seus ombros esguios e tentei lhe acalmar dizendo:
― Quanto ao Subaru, é somente a personalidade dele. Basta dar um tempo pra ele esfriar a cabeça que tudo se resolve. Primeiramente, ela respondeu com um sorriso silencioso, e depois me disse, com toda a força e sentimento que tinha dentro de si:
― Quero ter alguém ao meu lado que me proteja e que eu possa proteger também, porque quando se ama, a primeira coisa é saber cuidar da pessoa amada.
― Eu vou estar sempre com você ― Prometi a ela ― Quando precisar, é só me chamar, você sabe ― Lhe disse, e ela responde afirmativamente, com a cabeça erguida, e com o olhar na mesma altura que os meus, e logo, eu subitamente a puxo para próximo de mim, a fim de sentir um pouco mais do sentimento caloroso de ternura, carinho, afeto e amor, que só ela é capaz de me transmitir
“Quem ama, cuida”. Essa era a nossa promessa, e eu a protegeria sempre que precisasse.

Hinata Ema
Alguns minutos depois, coincidindo com o exato momento em que terminamos a conversa, e comigo ainda bem próxima de Natsume, Subaru chegou até o local e veio falar com a minha pessoa. A pergunta era se eu ainda topava acompanhá-lo no Acampamento Esportivo de Verão e se eu ainda estava brava com ele
― Sim, ainda estou MUITO brava com o que você fez. E vou pensar bem se aceito ou não ir com você
― Promessas são dívidas ― Subaru disse, tentando me convencer, pegando no meu ponto fraco e confesso que o meu coração mole estava começando a se manifestar. Eu detestava quebrar promessas e faltar aos compromissos com as pessoas.
Nós três sabíamos que esse era meu ponto mais fraco. Natsume me entreolhou emitindo uma mensagem subliminar que dizia: “Pronto, pegou bem na ferida da Ema”. Sabendo que eu estaria na dúvida entre me comprometer ou não com ele ou seguir os meus sentimentos e intuições, ele disse a Subaru:
― Ela decide o que é melhor para ela.
― Eu vou deixá-la decidir, afinal, ela é a convidada ― Foi a resposta, e dei um suspiro de alívio:
Natsume virou-se para mim, e disse:
― Faça o que achar melhor ― A voz dele estava serena
― E você acha que eu devo ir? ― Questionei, já mais calma e um pouco hesitante, como ele já esperava que eu ficasse
― Se você se sentir bem, sim
― Por que você está perguntando isso pra ele? ― Subaru arqueou uma sobrancelha, duvidoso ― Achei que você estivesse bem segura do que quer, com a opinião formada que costuma ter
“Porque eu gosto dele e não quero deixá-lo sozinho depois do que você fez com ele, mesmo que daqui a uma semana já esteja curado”, era o que eu tinha vontade de dizer, mas optei por ser mais imparcial:
― Só quero uma segunda opinião ― Respondi, e ele se aquietou
Depois olhei para ambos, e falei:
― Só tem um problema
― Qual? ― Os dois me perguntaram, em uníssono
― Se eu for, não quero que as pessoas pensem que somos um casal ― Disse, um pouco tímida ― Afinal, vamos ficar lá por quatro dias e três noites
― Se alguém pensar isso, diga-lhes a verdade, Ema ― Natsume me aconselhou, me acariciando com sua mão calorosa ― Você é valente, e demonstrou isso hoje
Aquelas palavras de carinho realmente me transmitiam uma coragem sem igual e me faziam ter mais autoconfiança. Eu era realmente uma garota de sorte por fazer parte da Família Asahina e poder ter a companhia de alguém tão amoroso como Natsume
― Ninguém vai pensar uma coisa dessas, pode ficar tranquila, Ema ― Subaru se manifestou, de maneira acalentadora
― Não vão mesmo, Subaru ― Natsume o fitou, seriamente ― Lembre-se que você está levando uma acompanhante e não sua namorada ― Ele frisou o termo, propositalmente ― Então não trate a Ema como se ela fosse a sua.
No instante seguinte, olhou cara a cara para mim e disse:
― Quanto a você, não se preocupe, senhorita ― Ele se referiu a mim cordialmente ― Eu já sei como te ajudar com isso ― Pronunciou, com um sorriso de leve
E eu tinha a impressão de que esta história ainda não havia terminado, pelo contrário, estava longe de acabar.

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