domingo, 7 de janeiro de 2018

Segundo Conflito: Não é algo suspeito. É apenas a realidade

Asahina Azusa
Meu irmão está confiante demais para o meu gosto. Eu sei que Natsume e os demais me conhecem como realmente sou, e por isso, compreendo que estivessem espantados por eu ter sido tão convicto quando disse que faria “quatro pontos”, sem o mínimo de hesitação transparecendo em minha voz.
Na maior parte do tempo, eu sou tranquilo e calmo, como já é de conhecimento de todos desta Família e dos amigos que convivem comigo. Entretanto, cada ser humano que se preze, possui “sua personalidade escondida” e sua “face oculta” dentro de si, e quando o assunto é Hinata Ema, o meu lado mais viril se manifesta com mais facilidade. Quero que ela me veja como um homem, e não somente como seu “querido irmão mais velho”, e não medirei esforços para isso.
Depois da discussão, Subaru se retirou e seguiu em direção ao seu quarto, deixando nós três naquela sala espaçosa. Aproveitei a deixa para continuar a “conversa civilizada” com meus gêmeos.
― Natsume, Tsubaki ― Comecei pronunciando seus nomes ternamente ― Se preparem. Vocês são meus melhores amigos e companheiros. Só que agora o clima muda de figura. Por causa da Ema, e para ter a Ema
― Digo o mesmo a vocês. Ela será minha! ― Tsubaki se pronuncia, resoluto de sua opinião. Francamente, eu já esperava isso dele. Há um tempo que eu notei que o sentimento que ele tem pela garota é o mesmo que o meu.
― Não a tratem assim! A Ema não é um prêmio! ― Natsume exclamou, notoriamente perturbado com os nossos dizeres. ― Estamos falando de uma pessoa, e não de uma bola de basquete no meio da quadra! ― Ele gritou, indignado ― Eu sei, e não é de hoje que uma parte de sua personalidade tem essa característica preocupada, protetora e fraternal. Ele sempre foi assim conosco, e com as pessoas próximas a ele, porém nunca havia presenciado aquele seu estado transtornado e atordoado por conta de uma garota. Nunca, mesmo. Claro, ele já teve suas paixões, e demonstrava compaixão pelas meninas com quem teve alguns encontros e relações, no entanto, ele sempre escondida suas perturbações emocionais das demais pessoas, até mesmo de nós, os gêmeos. Ema foi a primeira a mexer com ele de maneira intensa, de um jeito diferente de todas as suas experiências anteriores, concedendo-lhe esse sentimento de que realmente precisava defendê-la com palavras demonstrando suas emoções, as quais estavam à flor da pele.
― Vejo que tem fortes sentimentos por ela ― Comento, com a feição impassível
― Eu não vou desistir dela! ― Ele continua determinado a conseguir o que quer. Se tínhamos uma característica em comum, é de que nós somos muito persistentes em relação ao que desejamos.
― Nós também não ― Eu e Tsubaki dissemos em uníssono. Natsume, por sua vez, continuava com sua expressão apática e nos respondeu, solidamente:
― Que ótimo. Não vou deixar que ninguém a tome de mim.
A verdade é que por mais que Natsume dissesse que aquilo não era uma competição e que ele realmente estivesse certo – eu não nego a sua razão – era impossível para mim não pensar naquela situação daquela forma. Querendo ou não, estávamos todos disputando pelo seu coração. E eu precisava de um plano para acercar-me dela urgentemente, o quanto antes melhor. A solução seria chamá-la para sair comigo, e estou decidido a fazê-lo amanhã de manhã, assim que o sol surgir por aqui de novo, irradiando pelas nossas janelas dos quartos.
O “Conflito do Amor” estava tomando sua forma, e a tendência era se intensificar. E, chegar ao objetivo seria mais complicado do que inicialmente imaginávamos.

No dia seguinte, durante o café da manhã em família, evitamos olhar uns aos outros, fato que Ema percebeu prontamente. Ela é ingênua, no entanto, extremamente sagaz para se dar conta de que algo está errado, em virtude de sua sensibilidade.
A primeira coisa que ela nos perguntou foi:
― Aconteceu alguma coisa, pessoal? ― Ela fita a nós três, de maneira carinhosa
― Não ― Eu, Natsume e Tsubaki lhe dissemos com naturalidade e firmeza. Para o nosso azar, Subaru estava cabisbaixo, o que fez a garota proferir:
― Parece que por aqui aconteceu algo.... ― Ela analisou, olhando seriamente para Subaru, que a acalmou no mesmo instante:
― Eu só estou cansado ― Disse, fazendo carinho na bochecha direita de Ema, e em seguida, em seus fios castanhos claros.
“Argh! Que pressa toda é essa?” Sutilmente, ele já havia começado a mostrar suas cartas. Aproximar-se da Ema parecia bem mais simples para ele, apalpando-a sem dizer nada que a preocupasse. O detalhe, é que isso é válido para nós também.
Somos irmãos dela, e a vantagem que podemos tirar disso é que ela está sob o mesmo teto que a gente, de modo que podemos conviver com ela diariamente
“Bom, menos mal que ela não desconfiou de nada, e pareceu acreditar nas palavras do Subaru”. Estamos salvos, pelo menos por enquanto. Ah, calma aí: nem tudo está a salvo quando se tem um irmão mais novo intrometido na mesma mesa de café da manhã que eu, conhecido como Asahina Fuuto
― Tem algo suspeito acontecendo nessa casa.... ― Ele piscou de um jeito provocativo, que nos fez arquear as sobrancelhas.
― Cale a boca, Fuuto! ― Ordenei, atraindo os olhares dos demais, que sabiam que eu só gritava em casos extremos. A pessoa tinha que me tirar muito do sério para eu perder a calma, e considerando o meu estado de espírito e de humor por conta das últimas revelações que obtive na noite passada, aquele comentário foi a gota d’água para me fazer explodir às 8 horas da manhã em ponto.
― Fuuto, sempre colocando lenha na fogueira ―  Hikaru nii-san comentou, descontraído. De início, a intenção era acalmar os meus nervos, mas suas palavras só serviram para gerar dúvida, no pequenino, que perguntou, meio desesperado e sem entender nada:
― Lenha? Onde? ― Wataru questiona, com a ingenuidade de uma criança da idade dele. Não conseguimos nos segurar, e rimos daquilo. O que mais me agradava em ter uma criança na família era que ele conseguia nos alegrar e esquecer de nossos problemas.
― Esquece. É só uma provocação do Fuuto ― Masaomi nii-san lhe informou, com a voz macia, e imediatamente, nosso caçula resolveu deixar o assunto para lá, espontaneamente.
― Wataru, por que você não vai brincar lá fora? Está um dia lindo! ― Ukyou nii-san sugeriu a ele, que já estava satisfeito e bem alimentado. Acho ele já havia percebido que nós escondíamos algo importante e que, obviamente, um garoto do Ensino Fundamental jamais entenderia, e devido a isso, faz aquela proposta, com segundas intenções. São nesses momentos que eu agradeço por ter um irmão mais velho advogado, sensato e observador. Ele nunca deixa nada passar.
“Salvos pelo gongo”, pensei “Ou quase”
― Mas eu quero alguém para brincar comigo! ― Wataru reclamou, e não tiro sua razão. É entediante ficar sozinho, eu sei disso. Daí, propus ao pequeno:
― Por que você não pede para o Iori, o Yuusuke e o Fuuto te fazerem companhia? ― Eu pisquei gentilmente, e ele comemorou:
― Eba!!
Da parte dos convocados, houveram reações diferentes: Iori com aquela personalidade serena dele, topou na hora, puxando o menor para fora do local. Yuusuke e Fuuto ficaram de cara fechada por ter que ficarem de “babá” do caçula, sem mencionar que eles não se dão muito bem, e ficar no mesmo lugar fazendo algo a contragosto, era como receberem uma sentença de morte. No entanto, Kyo-nii era persuasivo, tanto em palavras quanto em suas expressões faciais. O rosto dele então tornou-se rígido, e seu olhar sério lhes transmitiu uma mensagem subliminar que transmitia algo do tipo: “Ou vocês vão AGORA para o quintal, ou vai sobrar para vocês mais tarde” Dessa forma, convencidos de que não havia escapatória, ambos se renderam ao meu pedido, sem dizer uma palavra.
Com a mesa mais tranquila, depois de bebericar mais um gole de minha segunda xícara de chá, eu começo a dizer, com olhar suave preso na figura feminina da família:
― Ema você... ― Eu iniciei a fala, mas travei.
― Eu...? ― Ela perguntou, apontando para si mesma, à espera de uma continuação da minha frase.
Eu ia dizer “você quer sair comigo”, e bem quando eu tomei coragem para fazer-lhe a proposta, meu gêmeo indaga ao mesmo tempo:
― Quer sair comigo, hoje, Ema?
Olho para ele, e digo, com afinco:
―  Desculpe, mas hoje ela vai sair comigo
― Eu quero acompanhá-la hoje ― Tsubaki insiste em sua ideia
“Ah, pronto!”, acabou a minha paz. Vou ter que discutir com meu irmão logo cedo
― Por que vocês não tiram no pedra-papel-tesoura? ― Kana-nii nos sugere, com o seu jeito “Kaname” de ser, e todos nós reviramos os olhos para ele, como se disséssemos: “Você não tinha nenhuma outra opção melhor para nos dar do que isso aí?”
― Isso quem decide é ela! ― A estrondosa voz do Natsume exclamou, e Ema sorriu levemente em sua direção. Que inveja, queria ter sido eu o felizardo em receber um sorriso tímido e fofo como aquele de segundos atrás. Felizmente, ela sorriu em direção a nós três quando indagou:
― Por que não vamos todo mundo em um lugar especial?
― Todo mundo QUEM? ― Eu e Tsubaki perguntamos, pasmados. Natsume se manteve calado, no entanto, dava para ver que estava tenso. Conhecer uma pessoa dá nisso: você conhece suas fraquezas de longe, até quando a pessoa tenta disfarçar. Eu não queria que ela dissesse algo como: “Ah, vamos a família inteira”, já que o meu objetivo era passar uma tarde com ela. Aparentemente, Tsubaki se sentia da mesma forma, pois se entreolhou rapidamente comigo e mordiscou seu lábio inferior, algo que costuma fazer sempre está nervoso. Para o nosso alívio, ela respondeu:
― Eu e vocês três ― Ela apontou para mim, seguido de Tsubaki e por último, Natsume, que trocou um olhar silencioso com ela, provavelmente por estar impressionado com a proposta repentina da Ema. Ele tentava esconder suas emoções só para manter sua pose costumeira de “durão”, mas, na verdade, estava bem mais inquieto por dentro do que nós. A resposta da Ema parecia ser o que ele mais queria saber, tal como nós dois, ao seu lado.
― Onde você pretende nos levar? ― Inquiri, interessado
― No “Tokyo Summerland”, um parque aquático aqui da cidade. Podíamos aproveitar juntos.
― Gostei ― Respondi a ela, satisfeito. Era um programa perfeito para essas férias de verão que haviam acabado de chegar e uma forma de ela relaxar depois de se esforçar tanto para passar no exame de admissão da Universidade.
Quando que as coisas se tranquilizariam, Tsubaki vem com uma de suas pérolas:
― Por que você escolheu ficar com três pessoas na mesma tarde?
“Ah, Tsubaki, tinha que ser você”, pensei comigo, mas deixei quieto. Sério, Tsubaki sempre precisa atiçar alguém, não importa a situação, e se for delicada, com certeza ele irá se manifestar. Só perde para o Fuuto que é o campeão em atormentar e provocar os outros. Por isso, aqui vai um conselho, para você que está aí lendo essa história: NUNCA, em hipótese alguma, junte esses dois, ou dará confusão na certa!
Voltando ao que interessa, a jovem à nossa frente se expressou da seguinte maneira:
― É que é mais divertido com todos juntos! ― Ela disse, com um sorriso estampado em sua face branca, igualmente à minha. ― E eu só saio com vocês com uma condição.
Nos impressionamos com a sua atitude e a fitamos com intensidade. Calmamente eu lhe perguntei:
― E qual seria?
Ela devolveu no mesmo tom de voz:
― Eu só saio com vocês, se o Natsume-san for com a gente. ― Nesse momento, Natsume finalmente deixou suas emoções explicitas, que arregalou os olhos, em virtude da “condição” inesperada da garota.
“Ah, então é esse o real motivo de ela chamar três pessoas em uma única tarde”, refleti, ligeiramente. “Ela quer a companhia do Natsume”
Em seguida, a pergunta que fazia alarde em minha mente era: “Por que o Natsume tem que ser tão melhor com mulheres do que eu? O que ele tem que eu não tenho?”
Quanto à Ema, esta perguntou, breve e amavelmente:
― Você aceita, Natsume-san?
― Claro ― Ele responde de imediato, ainda um pouco impactado com aquilo. A menina realmente mexia com ele. Já fazia algum tempo que eu não via aquela expressão no rosto dele.
― Certo. Então, nós vamos após o almoço. Não é muito longe daqui de casa, então, por volta das 14 horas já estaremos no parque, e poderemos aproveitar bastante até o fim da tarde ― Ela diz, analítica, espontânea e sem parar, como se já tivesse programado tudo para hoje, mesmo não sendo nada combinado. É apenas a gentileza dela falando mais alto.
Todos concordamos com o planejamento de Ema, contentes e ela avisa aos nossos irmãos mais velhos:
― Masaomi-san, Ukyou-san, Kaname-san, Hikaru-san ― Ela pronuncia os nomes delicadamente, olhando para cada um ― Não precisam se preocupar conosco, ficaremos bem. Aproveitem bastante essa tarde, e os demais também
Os quatro olharam satisfeitos, por escutarem palavras tão generosas desde cedo.
Mas, a seguir, quem nos surpreendeu foi uma voz masculina, que não havia sido ouvida desde que o dia raiou.
― Já que é assim, também tenho um convite ― Subaru anuncia. Ema congela e nós nos calamos, atentos a ele, curiosos para saber o que sairá de sua boca:
― Amanhã terei um jogo-treino na Universidade e gostaria muito que você fosse. Daqui a uma semana haverá o acampamento esportivo, para o qual a minha equipe de basquete foi convidada, com direito a um acompanhante, e me agradaria demais se você me acompanhasse
Aquilo literalmente não era só UM pedido, mas dois. E ela não seria apenas uma mera convidada em seus eventos. Subaru teria duas grandes oportunidades de ficar a sós com ela. Ah, mas ele vai ver só! Eu também terei minha chance de ficar a sós com minha preciosa irmã mais nova e fazê-la feliz, sem ninguém para nos interromper, e já sei como. Neste dia, mostrarei que posso ser bem mais do que ela me considera. Enquanto o momento certo não chega, aproveitarei a chance que tenho agora de sair e me divertir com ela em um parque aquático, perto de nossa residência.

Parte 1 do plano – Completo: Hinata Ema está em minhas mãos, e é assim que eu espero que continue.

Status do “Conflito do Amor”: Progredindo rápida e consideravelmente entre nós, os irmãos Asahina. Em outras palavras: Tenho que ficar esperto, para que tudo ocorra como planejei. 

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