Era uma vez um velho
pintor chamado Wang Fo. Seus quadros eram tão perfeitos, tinham tanta magia,
que, quando ele ia pintar um cavalo, por exemplo, pessoas lhe pediam para
retratar o animal preso num cercado, pois, sabiam que, se Wang-Fo pintasse o
animal solto nos campos, ele um dia fugiria do quadro galopando e nunca mais
voltaria
Wang-Fo tinha um
discípulo cujo nome era Liu. Certa manhã, ambos trabalhavam no ateliê, quando
subitamente apareceram os guardas do rei e os prenderam sem explicações
“O que será que imperador
quer de mim? ”, pensou Wang-Fo. “Por que enviou soldados que me tratam com
tanta grosseria? ” Quando chegaram ao palácio, o pintor descobriu que fora
chamado pelo jovem filho do imperador. O belo rapaz lançou lhe um profundo
olhar de raiva e lhe disse:
—Como vai, meu velho? Quer saber por que eu o chamei?
Para contar-lhe que você arruinou a minha vida!
—Mas como foi isso? —Perguntou
o velhinho com os olhos cheios de lágrimas —
O que foi que eu lhe fiz?
E o filho do imperador
explicou:
—
Quando eu era menino, meu pai
enfeitou meu quarto com suas pinturas. Vivi cercado pela beleza de suas
paisagens e criaturas mágicas. Mas quando saí para conhecer o mundo real,
detestei tudo que encontrei. Nada tinha a beleza de suas obras. Por isso,
resolvi matá-lo, velho pintor.
Nisso, Liu, o discípulo
que amava o mestre como a um pai, atirou-se contra os guardas para defendê-lo.
Estes, imediatamente, lhe cortaram a cabeça. As lágrimas escorriam pelas faces
de Wang-Fo.
Então, o filho do
imperador continuou:
—Mas antes de sua morte, quero que você pinte sua obra
prima —E ordenou aos guardas: —Vamos,
tragam a tela, pincéis e tinta para o velho!
Ainda chorando, Wang-Fo
começou a trabalhar. Primeiro, pintou o mar. Estava tão concentrado em seu
trabalho que não percebeu que as águas mágicas de sua pintura estavam inundando
todo o palácio. De repente, ouviu a voz de Liu. Virou-se e o encontrou vivo, de
pé ao seu lado.
—Você não morreu, meu filho? —Perguntou ao jovem.
—Enquanto o mestre estiver vivo, eu jamais poderei
morrer...—Respondeu Liu. E acrescentou: — Mestre, o senhor já percebeu que está inundando o
palácio? Olhe só para os guardas e o imperador!
Só então Wang-Fo percebeu
que eles flutuavam nas águas saídas de seu quadro. O pintor sorriu e disse:
—Não se preocupe, meu jovem. Daqui a pouco tudo volta
ao normal. Agora, vamos, chegou a nossa hora de partir
E Wang-Fo pintou um
pequeno barco riscando o mar a azul, e dentro dele desenhou sua figura ao lado
da de Liu. O filho do imperador nadou até o quadro. Mas só teve tempo de ver um
barquinho deslizando e depois sumindo, levando o pintor e seu discípulo para
outras terras, onde ninguém poderia alcançá-los e onde seriam muito mais
felizes.
Fonte:
Livro “Lá Vem História”, de Heloisa Pietro, com ilustrações de Daniel Kondo.
Editora Companhia das Letrinhas.
A visão é de cada um;
ResponderExcluirO sentimento é de cada um.
A compreensão não é para todos,
porque nem todos compreendem o que vê.
Cada um expressa o que vê e sente.
Cada um expressa o que sente por ver e não poder compreender.
Triste realidade e feliz ilusão.
Que lindas essas palavras, pai! Até me emocionei! :)
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