Domingo de manhã. Sempre começo o dia tocando
meu piano, como de costume, é um hobby meu e que me acalma. Eu o toquei por
alguns minutos, e depois decidi sair para tomar um pouco de ar fresco, afinal,
era um dia de primavera, com as flores de cerejeira circundando a cidade com
sua beleza. Aprecio as flores, esboçando um sorriso, naquele meu momento de paz,
e alegro-me ao perceber que o cenário ganhou mais vida e cores.
Já que estava caminhando pela cidade, decidi
passar em um parque, não muito longe dali, e quando cheguei, ouvi risos de
crianças, que se divertiam à beça. Ouvir e ver o sorriso de uma criança é uma
alegria enorme para mim, porque ela expressa o que realmente sente, se satisfaz
com as pequenas coisas que a vida pode lhe oferecer.
Para elas, somente a ida a um parque é motivo
de sorrir, e nada mais é necessário. Acredite, eu sei disso, porque já vi
muitas crianças na vida, incluindo as deste parque, mas isso ficou ainda mais
evidente quando eu avistei uma garota muito especial e carinhosa. Presumi que
ela tinha por volta de uns 6 anos, a julgar pela sua aparência, mas ao
contrário das outras crianças que estavam felizes se divertindo, ela estava
sozinha e cabisbaixa. Parecia perdida ou algo assim... Perguntei-lhe seu nome e
lhe ofereci minha companhia. Ela diz timidamente que se chama Yuna e balança
afirmativamente a cabeça, aceitando a minha oferta. Olho ternamente para a
menina e sorrio para ela. Carinhosamente, pego em suas mãozinhas pequenas e
delicadas e lhe digo:
— Venha comigo, pequena Yuna! Vamos nos divertir!
Diante de mim e de minhas palavras, a
garotinha arregalou os olhos e se animou completamente. Isso me fez abrir um
sorriso ainda maior. Chamei-a e ela me seguiu até o balanço; cada uma de nós em
um deles, e conforme nos balançávamos, o sorriso dela aumentava cada vez mais.
A ela, parecia que tudo era novo e incrível. Claro que eu estava satisfeita por
fazê-la ficar contente, mas sentia que podia e queria fazer algo a mais por
ela. Resolvi mostrar-lhe um pouco da minha arte, e logo me juntei a ela para
pintar o desenho de um girassol. O tempo passa e logo ela diz:
— Tia, estou com fome — ela me revela, com
os olhos fixos em mim
“Tia”. Ninguém havia me chamado assim antes,
mas eu não achei ruim, pelo contrário, me alegrou ser chamada daquela forma
carinhosa.
— Eu também estou — concordei com ela,
com a voz amorosa — Venha!
Instantes depois eu a levei até uma pequena barraca
perto de onde estávamos, e lhe dou uma sobremesa (que criança não ama doces?).
Animada, ela logo pegou o doce, sem a mínima hesitação, e mordicava cada pedaço
com de forma delicada, mas também com gosto, com vontade, saboreando o havia
acabado de ganhar. Logo, faço pequenas bolinhas de sabão, e Yuna corre atrás
delas, tentando alcançá-las. Ela corria tão rapidamente que era até difícil de
acompanhar, mas vou contar uma coisa a vocês: a energia dela, tal como sua
curiosidade, era o que mais me fascinava a cada momento junto a ela. E, apesar
de sempre ter gostado de crianças, nunca me apeguei tanto a alguém, quanto com
Yuna. E apesar de tê-la conhecido há pouco tempo, ela já havia me cativado,
conquistado o meu coração, eu a tratava como se fosse minha, mesmo sabendo que
isso seria impossível de se realizar. No fundo, eu sabia que ela tinha uma
família, alguém a quem retornar cedo ou tarde, mas eu também sabia que ela foi
a melhor coisa já me aconteceu. Ela me deu as esperanças de novo, de que as
pessoas tem um bom coração, que ainda pode haver tranquilidade neste mundo, e
que o que chama “paz” não é uma mera utopia, mas sim, uma realidade. Era com
ela que eu conseguia tudo isso e mais um pouco.
Por isso e por amá-la tanto, é que eu queria
fazê-la um pouco mais feliz, queria construir boas memórias a nós duas, mas
principalmente a ela. Queria dar-lhe a mesma esperança que ela me dá, queria
desfrutar de tudo ao máximo com ela. Então, eu a levei a uma praia que já tinha
ido várias vezes. Mostrei-lhe algumas coisas, como conchas por exemplo, e ela
ficava encantada. Como eu disse anteriormente, tudo para a garotinha era novo e
incrível. Até mesmo naquela simples praia (onde naquela hora só havia nós duas)
ela via motivos para correr e se aventurar. Queria descobrir as coisas, mas
também desejava aproveitar o quanto pudesse. Eu estava atenta a ela em todos os
sentidos, e a seguia prazerosamente. Tiramos fotos de algumas coisas, e também
de nós mesmas, porque segundo a garotinha, ela queria guardar de recordação.
Trilhamos por mais alguns lugares, e desta vez, era ela quem seguia meus passos
alegremente. Depois de um tempinho, decidimos descansar um pouco, e aproveitei
para apreciar as cores da primavera junto a ela. Tenho de admitir que as flores
me lembram ela: assim como as cerejeiras desabrocham, ela se abriu comigo, e
com isso me deu esperança e alegria, tal como as flores colorem os nossos
arredores. Mas, de outro lado, assim como a estação termina, e as flores
murcham, sentia que o meu tempo com a pequena Yuna estava chegando ao fim, e
que depois disso, voltaria a minha vida “normal” (até demais). Ficamos em
silêncio por um momento, mas após alguns instantes, me surpreendi com a sua voz
doce ao me dizer:
— Tia, eu gosto de você! Gosto muito, muito mesmo!
Me emociono com seus dizeres, e como uma
criança que pede um abraço, eu me aproximei dela e a abracei carinhosamente.
Acariciei seus cabelos lisos e lhe disse:
— Eu também gosto muito de você, pequena Yuna! O dia de
hoje eu guardarei comigo para sempre no meu coração. Eu te amo como se fosse
minha, Yuna!
—Tia... Essa foi uma das coisas mais lindas que já me
disseram — Foi a vez dela se emocionar ao me escutar, e derramar
pequenas lágrimas silenciosamente. Eu deixei-a chorar, e tentava lhe acalmar,
fazendo carinho nela. Funcionou. Passado alguns minutos, notei que ela já
estava mais calma. Sequei as lágrimas que haviam em seu rosto, e depois, lhe
disse:
— Ei, pequena! Por que não aproveitamos mais um tempinho
juntas?
A resposta dela foi um enorme sorriso, de
ponta a ponta! Não demorou para que a menina se animasse de novo para nos
divertirmos um pouco mais. Não importava quanto tempo a mais daquele dia me
restava, o mais importante era fazer Yuna feliz. E isso era o bastante para
mim. Acontece que ao fim do dia, ao cair da noite, quando estava caminhando com
ela pela cidade, avistamos um homem, que logo sorri para Yuna e estende as
mãos, como se dissesse “venha aqui”. A garotinha responde a este gesto de
carinho, e corre até o homem, que na verdade julguei ser o pai dela, pela
alegria radiante que pude notar no rosto de Yuna ao vê-lo. O pai logo a pega no
colo, fazendo a menina sorrir uma vez mais, para que pudessem fazer a volta
para casa juntos. Então era isso; Yuna realmente tinha uma família a quem
retornar, e eu voltaria a ser apenas quem sempre fui antes de conhecê-la, antes
do dia de hoje.
Eu aceno uma última vez a Yuna, e lhe digo,
baixinho:
— Tchau, pequena, está na hora de nos despedirmos. Tchau,
tchau, Yuna. Vá ser feliz
Não sabia se ela tinha me escutado, devido ao
meu tom de voz, mas para minha surpresa, ela me ouviu. Desceu do colo do pai, e
aproximou-se de mim, dizendo, à beira de lágrimas:
— Tia, não quero me separar de você! Não quero que você vá
embora — e instantes depois a menina começa a chorar novamente.
Não contenho as emoções diante da cena à minha frente, e me permito derramar
algumas lágrimas também. O pai se emociona, mas nada diz a filha, dando-nos
estes últimos instantes de despedida
— Eu também não quero me separar de você, Yuna... —
digo a ela, sinceramente, em meio às lágrimas
— Então por que... — ela indaga, mas não
termina a frase, porque eu a acaricio, e lhe digo, amorosamente:
— Você é muito novinha para entender certas coisas, mas
uma coisa é certa: Você precisa voltar para o seu pai, Yuna, ele é a sua
família. E eu quero te ver feliz, pequena. Porque eu te amo muito, muito,
muito! Vá ser feliz — e digo tudo de forma
solene, e repito a última frase com força, para que ela saiba que eu realmente
desejo a sua felicidade. Nos abraçamos com força, uma última vez, e logo,ela
olha na direção de seu pai e volta para ele
“Yuna não é minha, afinal”, penso comigo
mesma. E após um instante, olho para o céu estrelado, e penso que tudo que
passei com ela foram momentos brilhantes como as estrelas. Ela me deu
esperança, ela me fez enxergar a vida de forma mais simples alegre, e colorida.
Ela, a garotinha de quem jamais esquecerei.
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