segunda-feira, 6 de abril de 2020

[Resenha] Mundo Singular: entenda o autismo

Título: Mundo Singular: entenda o autismo 
Autores: Ana Beatriz Barbosa Silva, Mayra Bonifácio Gaiato e Leandro Thadeu Reveles
Ano: 2012
Páginas: 288
Editora: Fontanar – Selo do Grupo Companhia das Letras
Tema: Neuropsicopedagogia

A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva juntamente com outros profissionais escreveu o livro “Mundo Singular”, relatando sobre as características do autismo,  as reações das crianças, os motivos que levam a isso e o desenvolvimento e a evolução de cada uma delas, sempre com exemplos claros e práticos, desde as pessoas que possuem o nível mais leve da síndrome, chamado pela autora de “traços de autismo”, passando pela Síndrome de Asperger até chegar no que se denomina como “autismo clássico”, o mais grave de todos.

As crianças especiais demoram um pouco para aprender certos assuntos, especialmente aqueles que não dominam, porém são inteligentes e esforçados e conseguem se superar a cada instante. Eu sou a prova de que, quando nos dedicamos, conseguimos realizar tudo o que queremos e ir mais longe do que as pessoas imaginam! Não é à toa que eu e minha mãe sempre dissemos que as pessoas especiais dão de 150 a 200% a cada vez que fazemos algo; 100% do potencial para mostrarmos a nós mesmos que somos capazes e os outros 50 a 100% para mostrar aos outros o potencial que não se enxerga à primeira vista!
Uma outra palavra que não me agrada é “à margem”. No próprio início do livro é dito que:

“(...) Geralmente está associada a alguém "diferente" de nós, que vive à margem da sociedade e tem uma vida extremamente limitada, em que nada faz sentido. Mas não é bem assim. Esse olhar nos parece estreito demais: quando nós falamos em autismo, estamos nos referindo a pessoas com habilidades absolutamente reveladoras, que calam fundo na nossa alma, e nos fazem refletir sobre quem de fato vive alienado.”

Concordo muito com os autores nesse trecho da obra. Muito, mesmo! Autistas são pessoas incríveis, com potenciais enormes. E, infelizmente, tenho que concordar com ela no quesito em que muitos ainda enxergam aqueles com necessidades especiais como alguém “marginalizado”. Mas eu detesto esse pensamento, acho completamente errado! Como eu gosto de pensar: “não estamos à margem da sociedade, nós fazemos parte dela”
E acrescento para dizer que se não fosse por nós, que temos as mentes excepcionais, não haveriam as fórmulas de física, nem os celulares, nem a Microsoft (para quem não sabe, o Bill Gates tem Síndrome de Asperger, tipo leve de autismo).
Os maiores gênios da matemática, física, informática, música e artes tiveram algum tipo de síndrome neurológica (não necessariamente autismo) e mesmo assim deixaram a sua marca no mundo e fizeram história. Por isso, eu digo que não estamos à margem da sociedade, pois somos nós que a construímos e a tornamos melhor.
Assim sendo, apelo para que mudem esse pensamento e comecem a enxergar o melhor nessas pessoas, ao invés de tratá-las como um excluído de quem precisa ter pena. Mudar o pensamento é o primeiro passo para uma inclusão social de verdade, pois assim, os demais passarão a valorizar seus talentos e habilidades, independente de qualquer condição.
No mais, voltando ao assunto especificamente do livro, gostei que os escritores abordaram temas como família (as mães que se cobram ou se culpam por algo), a escola e a leis que garantem a inclusão e os direitos dos autistas.
Eles explicam os comportamentos das crianças com autismo, e dá dicas para pais e professores colocarem na prática, a fim de que possam ajudar no desenvolvimento da criança. Com muito amor e dedicação, as crianças conseguem evoluir de forma eficiente aos poucos, passo a passo, principalmente nas áreas de linguagem, na qual geralmente se encontram as maiores dificuldades dos autistas.
Muitos possuem mais facilidade para exatas, uma vez que é mais prático e lógico. 2 + 2  sempre serão 4. É algo simples e objetivo, diferente do português, por exemplo, em que uma única frase possui inúmeras interpretações.
Por falar nisso, ressaltam várias vezes que as crianças autistas tendem a interpretar as coisas de maneira literal, e não compreendem duplos sentidos (ambiguidade) ou figuras de linguagem, como metáforas.
A exemplo disso, afirmou-se no livro que, se alguém disser a um autista: “sou todo ouvidos”, ele vai entender que você é um ouvido enorme, e não que o está escutando. Por isso, deve substituir essa expressão por algo como “eu estou te escutando”, para evitar mal-entendidos causados pela ambiguidade da mensagem.
Em “agora está na hora de fazer tal coisa”, a palavra “hora”, para a criança é interpretada literalmente como o horário marcado nos ponteiros do relógio, e não ao momento em si. Assim, deve haver cuidado com esse aspecto também.
Contudo, sob outro ângulo (pela minha interpretação), podemos analisar que os autistas são extremamente responsáveis, porque seguem uma rotina à risca.
O lado negativo é que eles são inflexíveis a mudança de rotina e tendem a reagir mal. Daí a importância de se compreender as necessidades deles. Os pais tem uma participação importantíssima na vida dessas crianças, e a primeira coisa é aceitá-las como são.
Não adianta se culparem pela situação, já que ninguém sabe a causa exata do autismo, e varia de caso a caso. Existe um lado genético sim, que é bastante estudado, mas não se sabe com exatidão de onde vem, diferentemente da Síndrome de Down, por exemplo, que há muito tempo se sabe que se trata de uma disfunção no cromossomo 21, o que explica seu nome científico (Trissomia do 21), tal como o Dia Internacional da Síndrome de Down (21/03)
Por fim, existem as leis que garantem os direitos dos cidadãos autistas tais como o  Benefício da Prestação Continuada (BPC), e o Artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garante em seu inciso III:
“atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”
Essa obra foi escrita em 2012. Desde essa época já foram sancionadas outras leis em prol das pessoas com necessidades especiais e para o autismo. Como exemplo, podemos citar:
A Lei nº 16.107, de 13/01/2016 válida no estado de São Paulo

“Proíbe a cobrança de taxa de reserva, sobretaxa ou quaisquer valores adicionais para matrícula, renovação de matrícula ou mensalidade de estudantes com síndrome de Down, autismo, transtorno invasivo do desenvolvimento ou outras síndromes e dá providências correlatas” 

Este ano, no dia 8 de janeiro de 2020, o Presidente da República sancionou a lei 13.977, conhecida como “Lei Romeo Mion” (em homenagem ao filho de Marcos Mion, que ficou conhecido por sua história “A Escova de Dentes Azul”)
A lei  institui a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA), sob expedição gratuita, garantindoatenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.” (Art. III)

Além das legislações vigentes, a própria população vem se conscientizando sobre o autismo. Como prova disso, podemos citar um caso especial em Santa Catarina: uma professora da rede pública, Ruth de Cássia Rodrigues, fez uma “sala sensorial” em sua escola, com o objetivo de fazer compreender o autismo através da prática, de forma que os alunos entenderiam o porquê de os colegas com autismo sentirem medo, susto ou se incomodarem com barulho ou cheiros fortes, por exemplo.
Depois, os alunos fizeram um teatro sobre autismo. Estudantes de outros colégios também se interessaram pela ideia e tiveram a oportunidade de ter essa mesma experiência. Ao todo, 1300 pessoas, contando com pais alunos e convidados puderam passar pela “sala sensorial”, parte do projeto “Meu Mundo Azul”. Essa admirável iniciativa foi divulgada pela Deputada Estadual Ana Caroline Campagnolo (PSL/SC) através de sua Moção n° 0508.5/2019, em homenagem ao Dia do Professor.
Como podemos ver, ainda há uma luz no fim do túnel, existem pessoas realmente boas de coração, que se importam e se interessam de verdade por uma causa social.
Espero que a cada passo, possamos progredir sempre mais!

Conclusão: uma recomendação essencial
O livro é bastante informativo, com informações claras e objetivas a respeito do autismo. Uma recomendação essencial de leitura para quem quer aprender sobre o assunto em suas mais variadas vertentes. Para mim foi um grande aprendizado e o primeiro passo para eu me aprofundar mais meus estudos. Pude conhecer melhor o comportamento dessas crianças e suas causas. (Aliás, foi por causa desta obra consegui analisar com mais precisão os 4 curtas metragens que indiquei no blog)
Me identifiquei com algumas passagens (ainda que poucas), motivo pelo qual tornou-se uma leitura mais prazerosa a cada página. Sempre que nos identificamos com algo, o sentimento é bem mais profundo! Para quem tem familiares ou alunos autistas, está aí uma excelente recomendação de livro! Mesmo para quem não tem parentes ou alguém próximo que seja autista, sugiro que leiam, porque segundo estatísticas recentes, 1 a cada 58 crianças pertencem ao Espectro Autista.
Aos observações que fiz são relacionadas aos meus sentimentos, emoções, conhecimentos e pesquisas. Compartilhar o que sentimos na pele, ou desabafar sobre aquilo que guardamos no coração é sempre bom! Espero sinceramente que as minhas humildes e honestas palavras tenham sido capazes de lhes tocar da melhor maneira possível, depois de abrir todo o meu coração para vocês (que está mais parecendo um tratado sobre autismo do que uma resenha comum de um livro. Geralmente escrevo umas 3 páginas, essa deu um pouco mais que o dobro)
As observações sobre as leis atuais foram meramente para fins de conhecimentos gerais, porque acho que quem está de alguma forma engajado na inclusão social deve saber das leis que nos regem, nos atualizando a cada instante! (Na postagem, mencionei uma das leis estaduais de São Paulo, mas para aqueles que eventualmente moram em outro estado, e/ou tiveram curiosidade, deem um Google e entrem na página oficial da Assembleia Legislativa de seu respectivo estado)
Por fim, a esperança está em cada um de nós, na vontade que temos para mudar o mundo ao nosso redor. O futuro, somos nós que construímos!
Até a próxima indicação de leitura!

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