quinta-feira, 2 de abril de 2020

[Pequenas Histórias, Grandes Emoções] 4 curta metragens asiáticos emocionantes sobre autismo


Sempre quis fazer uma categoria para o blog sobre curtas-metragens, e nesta data especial, é o momento perfeito para começar com o pé direito.
Dia 02/04 é comemorado o Dia Internacional de Conscientização ao autismo, e Abril é considerado o “mês do autismo”, por isso, neste mês que se inicia, faremos resenhas especiais a respeito do tema. Nesta pequena, porém informativa postagem, recomendaremos humildemente 4 histórias incrivelmente emocionantes contendo personagens autistas (os dois primeiros adultos e os dois últimos crianças), analisando os traços desta síndrome retratados em cada uma das produções a seguir, e seus respectivos contextos,

1.    Guang: Um filme musical sobre autismo
Assunto: O retrato de como a família lida (ou não) com um autista

Wen Guang tem como sua única família e suporte, o seu irmão mais novo. Guang tem 27 anos de idade, e está à procura de um novo emprego, porém não consegue, pois tem dificuldade de se socializar com os demais ao redor. A socialização é uma das principais dificuldades que um autista possui, e faz parte da “tríade” de característiscas típicas da síndrome as quais precisam ser superadas, juntamente com linguagem e comportamento
No entanto, como o próprio personagem se define no filme, ele é alguém “simpático, amável e esforçado”. Verdade seja dita, as pessoas com autismo são puro amor e sentimento, sempre muito verdadeiras.
Atente-se para o fato de que “Guang” significa “Luz” em Mandarim (uma das poucas palavras que sei), referindo-se que os autistas são seres humanos iluminados
No curta-metragem, são exploradas todas as características da “tríade” com mais enfoque nas habilidades sociais.
Guang não estabelece contato visual direto com seu irmão, e ao invés disso, apenas olha para baixo. Isso acontece porque, para os autistas, o contato visual direto parece intimidador
Ele também não o responde quando perguntado, ou quando é lhe dado alguma informação, caracterizando a dificuldade da comunicação que muitos tem. Para que haja uma melhor comunicação, um autista precisa de muito estímulo e amor desde cedo, mas fica subentendido que devido à correria e às obrigações do dia a dia,  seu irmão mais novo não tem tempo nem paciência para estimulá-lo a conversar, e apenas troca poucas palavras com ele.
É perceptível que Guang possui o que os profissionais chamam de “ecolalia”, um nome especial que se dá ao fato de a pessoa repetir a fala de alguém. Nesse caso, o irmão de Guang disse: “Pizza na quinta-feira”  e ele repetiu exatamente isso.
No que diz respeito ao tema do curta-metragem, o mesmo ilustra as relações de família, e como os famíliares reagem e lidam com o autismo. Por conta do estresse diário, apenas o fato de Guang ter esquecido um compromisso, enfadou o mais novo, que descontou nele todo o “peso da responsabilidade” de sustento. Ainda que fosse apenas um momento de raiva, isso mostra o quanto os familiares tem dificuldades em lidar com uma pessoa especial e aceitar sua condição.
Autismo não é doença, ainda que seja chamada de “síndrome” (eu mesma me refiro assim, quando falo no assunto), é apenas uma condição de uma pessoa extremamente iluminada e talentosa que apenas precisa de atenção e compreensão.
O diretor desse filme o dedica ao seu irmão autista.

2.    I Believe – Um curta metragem de Singapura
Assunto: Relações de amizade

            Esse curta-metragem me chamou a atenção desde o primeiro momento. O cenário predominante é uma igreja, e a primeira frase já me impactou muito positivamente, arrancando-me um sorriso levemente intenso: “Somos todos iguais aos olhos de Deus”
            Essa máxima é uma verdade inquestionável. Deus ama todos os seus filhos da mesma forma, à Sua imagem e semelhança. Deus nos ama igualmente, com todas as nossas “perfeitas imperfeições”
            E nesse caminho – por vezes tortuoso – aqui na Terra –, é onde encontramos as oportunidades de nos relacionarmos e fazermos amizades, mas acima de tudo, de sermos mais humanos a cada passo.
            Isso é o que Anthony ensina a Peter, quando entra repentinamente em sua vida, em uma das reuniões com os irmãos da igreja. O padre o apresentou e de antemão já avisou ao grupo que Anthony é um homem autista, porém nenhum dos presentes havia convivido com um autista antes, e consequentemente não souberam lidar bem à primeira vista, tendo presenciado os traços característicos de quem é portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA)
            Anthony se apresenta repetidamente inúmeras vezes aos colegas, e não consegue interagir apropriadamente com os demais, que desejam uma conversa fluida e normal. Ele também diz coisas aleatoriamente e do nada, o que faz com que as pessoas estranhem seu comportamento diferenciado
            É típico das pessoas com autismo dizerem as coisas repentinamente, por ser algo do momento, e não conseguem se expressar tão bem quanto gostariam. Também tendem a repetir coisas que viram na televisão ou em filmes, ou algo que ouviram de outra pessoa. Prova disso é que Anthony repetiu várias vezes que fumar faz mal à saúde, porque havia visto na TV um caso de morte por tabagismo e porque sua mãe havia lhe advertido dos malefícios do mesmo.
É nítido que Anthony tenta se enturmar, e se esforça para isso, nem que tenha que pedir o número de celular insistentemente ou interromper uma conversa entre amigos.
Peter se estressa com Anthony assim como os demais, mesmo que não se estressem, o olham diferente pela sua condição, porém ele não percebe as emoções alheias e as expressões faciais dos mesmos.
Essa característica é comum entre autistas que não conseguem “decifrar as emoções” nem “ler a mente humana”, porque são complexas demais, e o autista é em si uma pessoa bem mais objetiva e prática do que uma pessoa sem necessidades especiais
Por não conseguirem entender com propriedade os sentimentos dos outros, podem continuar falando sobre um assunto de seu interesse, sem perceber que o interlocutor está entediado com a conversa, fato que é ilustrado no curta-metragem, porque Anthony não percebe o desconforto de Peter “de primeira” e continua falando sobre o que aprendeu
Devido a esse e outros motivos é que devemos ter paciência e carinho para dar aos autistas, e compreender que eles podem sim, se sociabilizar mesmo que leve um tempo.
Uma cena que me chamou atenção foi quando uma jovem modelo que frequenta a igreja repreendeu Peter pela sua atitude com Anthony, fazendo Peter enxergar o quanto havia errado com o amigo.
“Amigo”. Essa é uma boa palavra para descrever um autista. Uma pessoa com autismo é o melhor amigo que alguém pode ter. É carinhoso, amoroso, gentil, honesto, humano.
O final do filme termina com Anthony dedicando sua reza a Peter, ato que me deixou extremamente emocionada!
No fim das contas somos mesmo “todos iguais aos olhos de Deus”, e são nesses momentos que percebemos o quanto somos agraciados por termos um anjo da guarda bem ao nosso lado.

3.The Buddy  – Todo mundo enxergou esse menino autista como um desajeitado. Um colega de classe enxergou um amigo.
Assuntos: Relações de amizade e autismo na escola

Esse curta-metragem de Singapura já começa como uma introdução super linda e emocionante, a qual vale muito a pena reproduzir aqui: 
“Na infância de cada um de nós, sempre haverá um amigo do qual nós lembraremos. Um amigo especial. Essa, é a nossa história”
Apenas com essas singelas palavras, meu coração se contraiu e arrancou-me lágrimas. Essa, não é apenas a história de dois garotos de ensino fundamental. Essa é a história de uma eterna amizade, e acima de tudo, uma valiosa lição de vida.
É um curta-metragem baseado na história real de Hidayat e Tam.
Tam é o típico garoto autista: tímido, introvertido, quieto, que “imita” os outros (para comer, por exemplo), que é incompreendido, mas muito inteligente. A beleza do filme está no fato de que é narrado em primeira pessoa, pelo próprio Hidayat, relatando de maira simples e honesta, as vivências com seu amigo especial, Tam, e tudo o que passou para poder ajudá-lo da melhor forma.
Mesmo quando Tam se alterava, por não ter controle emocional (comum entre autistas), Hidayat não o ignorava, não o julgava, nem brigava com ele. Pelo contrário, mostrava-se preocupado com seu bom amigo.
Nas entrelinhas do filme, uma menina questiona a Hidayat o porquê de fazer a tarefa de casa com Tam: “você sabe que ele fala sozinho. Ele não conversa com a gente”
Essa frase tem um fundo de verdade: as crianças autistas não fazem contato visual e tem dificuldade de se comunicarem (como já foi dito nas demais análises), então é comum que essas crianças prefiram ficar “no seu próprio canto” repetindo coisas que ouviram ou aprenderam, para si mesmas, o que configura ecolalia.
Ainda assim, Hidayat com toda a sua sensibilidade foi capaz de se comunicar com Tam, não apenas com palavras, mas com gestos e com olhares carinhosos. Com muito carinho e dedicação, o autista consegue estabelecer contato visual, e foi o que aconteceu com Tam. Conseguiu olhar nos olhos de Hidayat, pela confiança que tinham entre si, através da convivência do cotidiano.
A amizade entre eles é a maior prova de que com um pouco de amor e dedicação, tudo é possível  
Esse é um curta-metragem que teve como objetivo ilustrar o autismo na escola na década de 1990, numa época em que essa síndrome ainda não era muito estudada e divulgada
No final, há uma nota emocionante da mãe de Tam que diz: “Tam entente que Nurhidayat é um amigo, mas eu o considero mais do que isso. Eu acho que ele é uma dádiva para o meu filho”

            4 . From the Heart – Um comercial da 7Eleven baseado em história verídica
Assunto: A importância de uma professora para a formação de uma criança autista.


Essa história tailandesa é na verdade um comercial da 7Eleven para promover o dia dos professores, e demonstrar o quanto o carinho e a dedicação de um(a) professor(a) pode mudar a vida de aluno. O vídeo começa com a chegada de um novo menino, aparentemente de uns 7 anos, chamado Shao, e que acabou de se transferir para uma nova escola.
Não estabelece contato visual e nem dialoga a primeira vista, sendo este último o motivo pelo qual Sumet, garoto da mesma classe o chamou maldosamente de retardado, fazendo todos rirem do novo integrante.
A professora por sua vez, repreendeu os alunos e passou a prestar atenção a cada mínimo detalhe nas ações de Shao. O menino é extremamente metódico, tem que organizar seus materiais escolares do mesmo lado, e de forma que fiquem em fileiras de mesmo tamanho. Para comer, a comida deve estar sempre em sentido horário, nunca anti-horário
Tem dificuldade de aprender e não se interessa pelas aulas. Por conta disso, a professora começa a estudar o quadro do autismo, e descobre que, quanto mais lúdica e interativa for a aula, mais o aluno prestará atenção. Em linhas gerais, pessoas com algum tipo de distúrbio ou síndrome neurológica tendem a serem mais práticas, objetivas e captam melhor as informações através do lúdico
No autismo porém, há o hiperfoco da criança, um tipo de “habilidade especial” dos autistas, principal fator da genialidade dos mesmos. O quadro clínico do garoto ainda é configfurado como autismo-savantismo
Síndrome de Savant é uma síndrome neurológica cuja principal característica está na capacidade de captar uma informação com facilidade. Portadores de Savant são verdadeiros gênios, principalmente  nas áreas da música, das artes e da matemática, além de terem uma memória fotográfica absurdamente extraordinária, a ponto de captarem até os mínimos detalhes.
Como Shao, o protagonista do filme tem autismo-savantismo, isso significa que além do hiperfoco tipicamente autista, ele ainda possui uma memória fotográfica excelente. Nesse caso fictício, Shao se destaca na matemática, e sua habilidade mais do que especial é relativa aos números. Aprendeu rapidamente a tabuada e decorou um calendário inteiro vendo apenas uma vez.
É importante salientar, no entanto, que nem todas as crianças autistas são savantes e vice e versa, porém esse quadro clínico de “autismo-savantismo” existe, pois há casos de crianças que são portadoras de mais de uma síndrome (eu sou a prova, muito embora não seja autista)
Quanto ao resto do enredo em si, é mostrado o comportamento de uma criança autista e sala de aula, e as reações que tem ao ser provocada, engatando no filme a temática do bullying
Ao se quebrar uma rotina, o autista entra em contradição, pois não se acostuma nem aceita fácil mudanças no dia a dia, como  ilustrado na história, ao trocar de professora, e consequentemente de metodologia, que é bem diferente da qual estava acostumado. Com a volta de sua querida professora, Shao se acalma e volta à normalidade.
O mais lindo de ver é que essa professora se dedicou ao máximo por um aluno em necessidade, e conseguiu provar o quanto ele é talentoso e digno de respeito e reconhecimento, como todos. E ela fez isso tudo, de coração.
Se todas as pessoas tivessem o coração aberto, e a consciência que suas pequenas atitudes podem ajudar a traçar o destino de alguém, este seria um mundo bem melhor.

Essa foi a mensagem que quis transmitir a todos vocês
Espero que tenham gostado das indicações e que cada uma delas possa ter tocado o coração de vocês, para que um dia vocês também possam colaborar para que esse seja um mundo melhor, mais livre de preconceitos, e mais repleto de amor e carinho. Amém.

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