quinta-feira, 1 de outubro de 2020

"Descrição", by Takashi Atoda

 

              "Descrição", by Takashi Atoda

            Era pouco antes das noves hora, em uma manhã de domingo. Mais ou menos 20 frequentadores  da biblioteca, estavam sentados no banco, esperando em frente à entrada da biblioteca, o horário de abertura.

            Eu recentemente me mudei para uma casa nesta cidade e, após ouvir a respeito da biblioteca pública da redondeza, eu decidi parar para visitá-la pela primeira vez. Eu costumava visitar bastante a biblioteca, à época de estudante. As bibliotecas no passado eram sombrias, locais sujos, mas recentemente elas modificaram muito sua aparência. Na época, eu havia me satisfeito em ler bastante, pegando emprestado livros com poucas relações com meus estudos

            A biblioteca estava a ponto de abrir. Sentindo-me letárgico, eu estendi minha coluna e parei de bocejar. Quando eu olhei, bem ali, havia um homem sentado ao meu lado.

            "Calças pretas e um suéter azul. Talvez seja um estudante do Ensino Médio"

            Ele parecia ser um típico geek, usando óculos, com sua boca fortemente fechada. Estava estudando vocabulário de inglês, murmurando as palavras, sem realmente abrir sua boca.

            ― Você vem frequentemente à biblioteca? ― Eu perguntei

            O rapaz ficou um pouco surpreso, mas ainda assim, deu uma breve resposta:

            ― Sim, eu quase sempre venho aos domingos. Minha casa é pequena e eu acho mais fácil estudar aqui.

            ― Você não quer se divertir em um domingo? ― A julgar pela atitude do rapaz, ele era um exemplo de aluno, então, eu quis provocá-lo um pouco, ainda que, bem lá no fundo, eu soubesse que aquilo não era uma coisa madura de se fazer.

            ― Claro que eu quero, mas issonão vai me levar para uma boa faculdade ― A lógica dele era direta e simples.

            O rapaz estava segurando 4 ou 5 livros auxiliares para estudar. Parecia que ele não pretendia pegar nada emprestado, e apenas estava usando a biblioteca como local de estudo.

            Eu continuei o meu interrogatório:

            ― Vocês estudantes não leem por prazer?

            ― Ler por prazer? ― Respondeu o rapaz, parecendo confuso?

            ― Eu só estava pensando se você lê romances.

            ― Romances?

            ― Sim, como Soseki Natsume ou Ryunosuke Akutagawa

            ― Eu não os leio, mas eu sei tudo sobre eles porque eu tenho que memorizá-los para a minha prova.

            ― "Memorizá-los"?

            O rapaz olhou para mim e prosseguiu para a explicação:

            ― Soseki Natsume foi um pioneiro da literatura moderna. Suas obras de destaque incluem "Botchan", "Kokoro", "Sanshiro", "The Poppy", "And Then" e “Light and Darkness". "Botchan" é um humorístico trabalho inicial a respeito de um garoto imprudente do período Edo chamado Botchan que se torna um professor de ensino fundamental no interior e se envolve em alguns eventos inesperados. "Kokoro" é um trabalho tardio, o qual representa a introspecção da ganância humana, com temas recorrentes sobre amor e amizade.

            ― E sobre Ryunosuke Akutagawa

            ― Bem, ele era um escritor de histórias curtas, então, há muitas obras. "O Nariz", "Yam Gruel", "Hell Scream", "In a Bamboo Grove"

            ― Entendi ― Ele certamente conhecia seu conteúdo.

            ― A maioria das histórias deles são histórias folclóricas cujos temas foram tirados de antigas lendas japonesas. "O Nariz" é sobre um sacerdote que é zombado por ter um nariz grande. "Yam Gruel" é a respeito de um homem que pensa que quer comer grandes quantidade de Yam Gruel, mas quando ele tenta comer bastante, ele perde a esperança. "Hell Screen" é sobre um artista louco ao qual lhe é pedido para desenhar um retrato do inferno, pelo seu mestre, e vai tão longe quanto matar sua própria filha, para fazê-lo. Isto também é uma análise da devoção do autor por sua obra.

            ― Você é bem entendido, não é? Mesmo que nunca tenha lido nenhum destes livros

            ― Sim, eu aprendi tudo isso no cursinho. Nós escolhemos 200 obras famosas da literatura japonesa e memorizamos o nome dos autores, as características literárias e então, a descrição das histórias.

            ― Mas não há porquê ter os romances se você sabe apenas as descrições.

            ― Eu discordo. Sair do meu caminho para cada detalhe de um extenso romance é perda de tempo. Se você sabe a descrição, é o mesmo que ter lido o livro ― O jovem rapaz respondeu, com delimitação.

            ― Realmente otimiza tempo ler apenas a descrição, mas não é o mesmo que ler o livro.

            ― Bem, não há motivo para eu ler o romance, em primeiro lugar

            ― Então, isso não significa que também não há motivo para saber as descrições?

            ― Mas isso aparece na minha prova de Japonês, então eu não tenho escolha senão sabê-las. Se eu ler as descrições, é exatamente o mesmo que ter lido o livro.

            ― E por que você está tão preocupado em economizar tempo?

            ― É porque assim eu posso dedicar mais tempo estudando outras coisas.

            ― E por que você quer estudar tanto?

            ― Eu quero entrar na Universidade T

            ― E por que você deseja entrar na Universidade T? ― Eu persisto em meu interrogatório. Eu não estava provocando. Eu estava meramente examinando os motivos do pensamento de um jovem gênio.

            ― Eu ingressarei na Faculdade de Direito, e então, entrarei para o Ministério das Finanças.

            ― Por que você que ingressar no Ministério das Finanças?

            ― É a elite da sociedade. Funcionários civis tem vidas estáveis e com benefícios vitalícios eles estão melhores do que os colaboradores do setor privado. Eles recebem boas pensões e se você entrar para o Ministério das Finanças você também tem chances de pós reformas e reintegração.

            Eu estava um tanto surpreso. O rapaz tinha uma visão minuciosa e desobstruída de sua vida que estava por vir.

            ― Você de fato fez uma clara descrição de tua vida. Então, você não precisa desviar de seu caminho para vivê-la agora, precisa?

            Quando dei por mim, ainda havia uns poucos minutos antes do horário que a biblioteca estava prestes a abrir. Eu deveria ter estado dormindo. Um aparentemente esperto rapaz estava sentado ao meu lado, diligentemente estudando, bem longe.

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