Todas estas histórias foram roteirizadas pela saudosa Rosana Munhoz Silva, na década de 1990, editora Globo, no início dos gibis da Magali.
A autora se inspirou em vários contos de fadas para escrever as histórias de ficção da Magali, uma característica marcante até os dias atuais nas revistas da personagem.
A seguir, falarei sobre cada uma das histórias, comparando com os contos originais, e dando as minhas impressões sinceras em cada item. Como são muitas histórias inspiradas em contos, vou elaborar vários posts a respeito do tema, sempre com novidades para o blog.
Sapatinhos vermelhos (Magali 07, 1989)
“Os sapatos vermelhos” é um conto de Hans Christian Andersen sobre uma menina chamada Karen, que recebeu sapatos vermelhos e, depois de sentir-se vaidosa com eles, foi castigada, dançando eternamente, sem poder tirá-los!
A autora utiliza desta premissa para construir a sua HQ, em que todas as meninas querem impressionar Renato, o garoto que as faz suspirar. Magali não tem sapatos, até que recebe sapatinhos vermelhos de uma fada, mas depois que todas as outras amigas se impressionam com as habilidades de Magali para a dança e ela se orgulha disso, não consegue os tirar como punição a sua vaidade.
O conto original de Andersen, no entanto, possui um contexto mais religioso, e por isso, um anjo vem dar os sapatos para a protagonista.
No caso do quadrinho, para dar maior caráter de ficção, baseado em características típicas de contos de fadas, Rosana Munhoz insere uma fada e seu filho, um ogro gigante, com uma caixinha de música, com uma bailarina em seu interior.
Tanto no conto quanto no gibi, as protagonistas aprendem sua lição, de que não devem ceder à vaidade, sendo sempre humildes para com os demais.
Na versão HQ, a fada desfaz a magia no sapato de Magali, que consegue ir ao bailinho e descobre que Renato também não sabe dançar, e tem seu “final feliz” com ele.
Põe-te mesa (Magali 09, 1989)
Esta historinha é baseada no conto “A Mesa Mágica”, dos Irmãos Grimm, em que um marceneiro encontra uma mesa mágica que sempre lhe dava a comida que precisava, aos dizeres: “Mesinha, sirva-me!”.
Na versão da Turma da Mônica, Magali diz: “Põe-te, mesa” e todos os tipos de delícias chegam a ela, após comer 32 dias seguidos na mesma mesa.! Ela não largava a mesa nem para brincar com os amigos, tamanha era a felicidade de comer tudo aquilo que desejasse!
Ela encontra a mesa na casa da Tia Nena e do Tio Pepo, o que achei interessantíssimo e extremamente sagaz da parte da autora, uma vez que a Tia Nena é uma bruxa e tem tudo a ver com magia.
Como a escritora Rosana Munhoz sempre colocava uma pitada a mais de fantasia e magia, quem construiu a Mesa Mágica foi um Mago, e que colocou gênios dentro dela, para produzirem as comidas pedidas pela Magali
Nem os gênios nunca haviam visto um apetite tão intenso quanto o da Magali, e ficaram nervosos e exaustos de tanto cozinharem para uma mesma pessoa. No final, ela para de comer na mesa, mas sua fome continua igualmente intensa!
Magali e o Pé de Feijão (Magali 12, 1989)
Não é segredo nenhum que esta é a versão da Magali do conto “João e o Pé de Feijão”. Nesta adaptação, vemos as características substanciais do conto, como a venda da vaca para comprar feijões, o pé de feijão que vai até os céus e o gigante
O Guardião do Reino (e do ogro) é representado pelo Anjinho.
Para variar, e para representar a fome insaciável da personagem, ela come toda a comida do gigante!
Em um dos quadrinhos, também é ilustrada A Galinha dos Ovos de Ouro, que dá nome a outro conto clássico homônimo, mas que nesta versão, é um animal de propriedade do gigantão
No final da história, a família de Magali que antes era camponesa e muito pobre, passa a ter mais fartura graças ao dinheiro que conseguiram com a venda dos feijões, vindos do pé de feijão mágico, e o gigante é punido por suas atitudes, transmitindo a mensagem de que devemos sempre fazer o bem ou teremos consequências.
Não tem muito o que comentar sobre essa historinha, pois é bem parecida com o clássico que conhecemos. O enredo termina com Magali com fome, vendo se tem um pouco de feijão para comer! 😀
Rapunzel (Magali 15, 1990)
“Rapunzel” é um conto que tem 3 versões (francesa, italiana e alemã). A versão que inspirou esta HQ foi a alemã, dos Irmãos Grimm, em que a vilã é uma bruxa e o filho do rei vem visitá-la constantemente.
No conto original, a mãe da protagonista tem vontade de comer rabanetes ainda grávida, e o homem vai até o jardim da feiticeira para que sua esposa pudesse os comer, tendo que dar sua filha para a vilã quando crescesse , como punição por invadir a sua propriedade. Ela fica presa em uma torre até que um príncipe a conhece e passa a visitá-la, subindo em suas tranças.
Nesta adaptação de Rosana Munhoz, a recém-nascida Magali possui uma fome insaciável, o que faz com que seu pobre pai vá até à propriedade da feiticeira para pegar cenouras para comer e, por isso, tiveram que lhe entregar a filha para a bruxa.
Magali cresce assim como sua fome, e mesmo assim, para ela, é pouco o que a vilã lhe oferece, uma vez que se trata de apenas UM prato de comida, e não vários, como gostaria.
Até que o filho de um padeiro, representado por Quinzinho, avista Magali Rapunzel depois de ouvir o seu choro, que de tão alto, cortou a floresta! Quinzinho passou a trazer alimentos diariamente para a sua amada Magali Rapunzel
No conto original, ao descobrir que alguém estava subindo na torre, a feiticeira corta as tranças de Rapunzel e a envia ao deserto, deixando-a na miséria. E quanto ao príncipe, ao invés de encontrar sua amada, dá de cara com a bruxa e, por desgosto do que encontrou, saltou da janela. Sobreviveu, mas perfurou seus olhos nos espinhos do jardim.
Para dar um final feliz bem ao estilo Turma da Mônica, a escritora Rosana Munhoz Silva inverteu as cenas, e Quinzinho dá de cara com a bruxa, quase cai, mas fica bem, voltando para encontrar Magali. enquanto a vilã tenta cortar o cabelo da menina que, sendo mais esperta, enrola e prende a bruxa com suas tranças, detendo-a.
A malvada sai de vista, e Magali volta para a sua família e para seu amado Quinzinho, cortando seu cabelo, para ficar no estilo da personagem que conhecemos hoje.
Cachinhos de Carvão (Magali 15, 1990)
No mesmo gibi, encontramos “Cachinhos de Carvão”, uma adaptação do conto “Cachinhos Dourados”, do autor inglês Robert Southey.
No conto original, a protagonista vê três sopas, três cadeiras e três camas, escolhendo a pequena deste último item. Nesta versão, Magali vê três sopas, três pudins e três camas, também escolhendo a pequena, sendo este um ponto fidedigno ao original.
Entretanto, Cachinhos Dourados chega à casa dos Ursos após seguir uma trilha diferente na floresta, enquanto que Cachinhos de Carvão (Magali), além de ser curiosa, sentiu cheiro de comida boa vindo da casinha dos Três Ursos. - típico da personagem querer filar a boia alheia, uma sacada muito inteligente da roteirista, até inserindo uma pitada de comédia na história.
Porém, diferente do original em que os Ursos perdoam Cachinhos Dourados e se tornam seus amigos, Cachinhos de Carvão é expulsa da casinha, terminando com os donos bravos, porque ela acabou com toda a comida deles.
“Cachinhos de Carvão” foi uma história que a mãe da Magali contou a ela, sendo que o enredo termina com a menina querendo tomar sopa! Eis a boa e velha Magali: sempre com fome após ouvir um bom conto de fadas.
Magalice no País das Melancias (Magali 30, 1990)
Esta é a história principal da 30º Edição do gibi da Magali, inspirado no clássico “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll.
Nesta adaptação, vemos todos os principais personagens da Turma da Mônica “interpretando” os personagens do livro.
Assim, temos:
Magali como Alice
Mingau como o Coelho (ou gato?) que está sempre atrasado
Cascão como o Gato Risonho
Titi e Franjinha como Humpty e Dumpty
Cebolinha como o Chapeleiro Louco
Jeremias como amigo do Chapeleiro Louco,
Mônica como a Rainha Vermelha
Achei que as escolhas dos personagens foi boa, dado o fato de que Magalice estava com Mingau no começo da história. Apesar de ser um gato, e não um coelho, ele ficou bem no papel
Os demais combinaram muito com a personalidade de cada um deles. Cascão meio doido combinou bem com o Gato, que aparece e desaparece quando quer
Cebolinha, que usualmente elabora planos infalíveis mirabolantes ficou perfeito como o Chapeleiro Louco, que nesta edição estava especialmente atentado
Titi e Franjinha como os gêmeos foram muito hilários!
E a Mônica tinha que ser a Rainha, brava e mandona, com sangue quente como a da Rainha de Copas que conhecemos e temos gravado em nosso imaginário popular
Por fim, o “País das Melancias” dispensa comentários, pois é uma referência direta à fruta preferida da nossa protagonista, e seu símbolo.
Quanto ao enredo, vemos a cena em que Alice deve atravessar a portinhola para chegar ao País das Maravilhas, com algumas diferenças. A porta conversa com Magalice e lhe exige uma senha, mas como é surda, não a ouve e a deixa passar.
O momento em que Magali interage com os gêmeos, se assemelha àquela em que Alice fala com eles para descobrir o caminho até a Rainha, no caso, a Mônica brava, pois Magalice tentou devorar uma melancia, que era uma de suas súditas.
Nesta versão, há um conflito entre Magalice e as melancias que tentam atacá-la, quando Magali acorda de um pesadelo, aos gritos. Isso coincide com a ideia de Alice acordando, pensando que sua aventura não passou de um mero sonho.
Como de costume, a personagem ficou com fome logo depois da história, fazendo um lanchinho com frutas.
A história “Magalice no País das Melancias” foi uma história tão marcante que foi reeditada e reproduzida na coleção “Clássicos do Cinema”, de 2010, em seu 19º volume.
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