segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

[Resenha Completa] Aozora Yell

 


Informações Gerais do Filme:

Título: Aozora Yell / Yell for the Blue Sky

Roteirista: Mochiji Yukiko

Diretor: Miki Takahiro

Data de lançamento: 20/08/2016

Gênero: Romance, Drama, Escolar

 

Aproveitando o ritmo de filmes, resolvi assistir Aozora Yell, que só pela sinopse já parecia ser o meu estilo de trama. Eis que me emocionei com este enredo cativante, que nos transmite as mensagens de perseverança, persistência e autoconfiança.

Ono Tsubasa (Tsuchiya Tao) é uma aluna transferida que deseja entrar no Clube de Sopro, como atividades extracurriculares. De antemão, ela fica sabendo por sua amiga Himari (Matsui Airi) que este grupo é bastante rígido para entrar, fato que se comprova após a chegada das cenas da professora responsável Sugimura Youko (Ueno Juri), que lidera os alunos com extrema autoridade e disciplina, para que deem sempre o seu melhor e se comprometam a demonstrar resultados positivos, de forma a serem capazes de atingirem o objetivo preestabelecido.

O que eu mais gostei de ver nas passagens do clube de sopro foi o respeito ao professor e a disciplina em sala de aula. Ao chegar na sala, todos fazem uma reverência à sua mentora, antes de iniciarem a prática do dia. Isso ilustra a boa educação dos japoneses que receberam desde cedo, do berço. Culturalmente, isto é algo milenar, presente na filosofia confucionista, que possui em sua base, o respeito aos pais e mestres.

Um professor é alguém que guia seus pupilos para o caminho da luz e da sabedoria, e cabe ao aluno honrá-lo e respeitá-lo pelo que representa. Achei interessante retratarem esse aspecto, pois diz muito sobre valores humanos em si.

A protagonista não desiste do que deseja, mesmo tendo muita dificuldade no início, e passa a praticar todos os dias. A convivência com seus colegas e com Yamada Daisuke (Ryoma Takeuchi), seu interesse amoroso, a faz ter mais autoconfiança para seguir em frente. Ademais, ela não pode desistir logo na primeira tentativa, e abandonar o grupo nos ensaios. Precisa ter consideração com aqueles a sua volta. Isso desperta nela, a vontade de se esforçar ainda mais, para que faça jus à turma.

A característica mais marcante da protagonista, e que eu mais gostei em sua personalidade, é o fato de que ela nunca deixa se abater, mesmo que ninguém acredite nela, ou lhe digam palavras duras. Ela enxerga isto como motivo para melhorar sempre, a cada passo.

Se tem um valor que podemos aprender com esta menina e levarmos para a nossa vida, é a persistência e força de vontade. Os sonhos estão sempre à nossa espera, só depende de nós, sermos capazes de os realizar.

O esforço dela inspira até mesmo o seu senpai, Mizushima Aki, que inicialmente não se dá bem com ela. Em uma tentativa de animar Daisuke em uma partida de baseball, ela toca o trompete sozinha para encorajá-lo.

O problema é que não é permitido fazer tal coisa, pois, desta forma, Tsubasa quebrou a tradição do clube de sopro, o qual determina que os integrantes podem apenas tocar em conjunto no momento designado.

 No Japão, é importante manter a tradição, uma vez que significa honrar e continuar o legado deixado pelos seus antecessores, e infringi-la é o mesmo que não se recordar disto, sendo um ato egoísta.

Ao saber do ocorrido, Mizushima comentou secamente: “Ela colheu o que plantou”. Quanto a esta frase, há dois aspectos adversos a se destacarem: apesar de frio, não tiro a razão do rapaz, uma vez que todos cometemos deslizes e precisamos nos conformar e arcar com as consequências, provando nossa mudança de atitude para não errar novamente. Além do que, por ser um veterano, ele tem o dever de repreender os calouros.

Entretanto, ele não considerou o motivo dos atos da protagonista – a professora, ao menos, tentou compreender sua aluna, lhe interrogando – Esse é um erro cometido também, por Kasuga, a chata de plantão, com a diferença de que Mizushima muda sua visão a respeito da protagonista, passando a admirá-la, enquanto Kasuga permanece ranzinza.

Prova disso foi quando a personagem principal sugeriu que todos tocassem para Daisuke, como um incentivo, para que ele não desista de seus sonhos e Kasuga lhe afronta, pedindo que não os evolvam nos seus caprichos, porém, ao dizer isto, que está sendo egoísta é ela mesma, que se esquece da função principal da arte: alcançar o coração de alguém.

Um artista é uma pessoa capaz de transmitir sentimentos através do que faz. Se não consegue atingir este objetivo, não se pode dizer que está cumprindo sua missão de vida com louvor.

De todos, Tsubasa é a que mais se importa com os outros, colocando-os em primeiro plano, mais do que ela mesma, ao passo que o resto dos integrantes estão focados demais em vencer concursos ou ganharem destaque. É claro que todos devemos sempre dar o nosso melhor em tudo, aplicando certo rigor e disciplina em seus compromissos, para não desonrar quem está a sua volta e ser capaz de conquistar o que deseja após muito suor.

No entanto, não se deve esquecer de nossa missão e valores. Apesar de o lema do grupo de sopro ser “um só coração, sem questionamentos”, em determinadas cenas houveram conflitos, esquecendo-se (ou não compreendendo) o real significado destas palavras. Que todos devem ter o mesmo sentimento, e entenderem uns aos outros para só então, conseguirem cativar os demais, e atingirem a vitória. Curiosa e paralelamente, no ocidente, a palavra “concordar” provém do latim “coris”, a mesma raiz da palavra “coração”, de forma que, quando você concorda com alguém, significa que seus corações estão unidos. Do contrário, se discordam, indica que os corações se afastaram.

Não apenas o líder tem a obrigação de unir o grupo, mas sim, todos que a ele pertencem, portanto, Mizushima não deve cobrar apenas a si mesmo, sentindo-se culpado pela desunião do coro, visto que todos possuem sua parcela de culpa.

O tema da amizade também esteve muito presente no desenrolar deste enredo. Tsubasa não deixa sua senpai Yuna desistir de tocar, e fazer o que gosta, agiu como uma verdadeira amiga, mesmo ela não querendo sua presença. Quanto ao Daisuke, ele não se abria com ninguém a respeito do que estava sentindo e fazia de tudo para se superar por conta própria.

Tanto Yuna quanto Daisuke esconderam suas emoções e se isolaram, para não preocupar e nem desapontar seus colegas de turma. Uma vez que alguém não consegue dar seu melhor em sua tarefa e não alcança o mínimo das expectativas que depositam sobre si, isto é uma vergonha.

Por isto o rigor das práticas por parte dos alunos e da professora não é à toa. É uma maneira de honrar o nome do grupo de sopro e da escola, tornando-se o orgulho da mesma. Assim sendo, podemos entender o porquê de Yuna e Daisuke se cobrarem tanto, dadas as suas posições em cada clube: veterana e capitão do time, respectivamente.

Posteriormente, ambos aprendem que não estão sozinhos, e que podem contar com os demais integrantes para o que precisarem. É interessante observar que a maioria dos personagens eram extremamente fechados emocionalmente, e com maior foco acadêmico, enquanto em que Tsubasa chega a ser um meio termo entre as duas coisas, pois, ao mesmo tempo em que se esforça bastante para melhorar no trompete, também se importa com as pessoas à sua volta.

Muitas vezes pensamos que os problemas dos outros não é da nossa conta, mas quando fazemos parte de um grupo, devemos estar cientes do que ocorre com nossos colegas. Se importar os outros é diferente de se meter na vida alheia, por isso, temos que saber os limites, até onde podemos interferir ou perguntar, mas nunca deixar de prestar ajuda a alguém

Treinar muito também não é motivo de pena, uma vez que apenas a prática leva à excelência, e quem sabe um dia, possamos tocar o céu azul. A professora Youko foi uma personagem que me agradou bastante: ela soube exigir o máximo de seus alunos, pois sabia e confiava no potencial dos mesmos, sinal de que os conhecia profundamente. E, acima de tudo, valorizou o esforço.

 

Enredo, personagens e atores

O enredo foi elaborado por Mochiji Yukiko, roteirista de filmes do estilo shoujo. É dela, por exemplo, a adaptação de “Principal: Koi Suru Watashi Heroine Desu ka?”.

A direção foi de Miki Takahiro, o qual também possui vasta experiência com tais obras. Ele escreveu e dirigiu “Omoi, Omoware, Furi, Furare”, longa-metragem com resenha disponível aqui no blog.

A combinação entre Mochiji Yukiko e Miki Takahiro foi um grande acerto dos produtores de “Aozora Yell”, pois conseguiram transmitir sentimentos genuínos ao espectador, principalmente nas entrelinhas, que exigiam mais emoção, em todos os sentidos

Diferentemente da maioria das histórias deste tipo, nesta, pudemos ver aspectos culturais como a disciplina em sala de aula, a importância da tradição e as relações senpai / kouhai e aluna / professora de maneira prática e realista, demonstrando respeito e obediência, e permitindo um diferencial significativo para este trabalho.

O romance foi de extrema sutileza sendo gostoso de acompanhar, sem brigas desnecessárias, sendo este um ponto positivo. Foi possível notar a compreensão e o apoio mútuo entre ambos, e a fidelidade de cumprir sua palavra, por parte de Daisuke, o qual prometeu à Tsubasa que a levaria às Nacionais. O triângulo amoroso foi igualmente sutil, a partir da aparição de Akane Sawa (Taira Yuna), que nutre uma paixão pelo protagonista e faz parte do mesmo clube que ele.

No entanto, ela respeita os sentimentos de seu amado e não interfere em sua felicidade, como em diversos outros enredos shoujo em que a menina arruína a vida do casal principal, sem consideração nenhuma por eles. E, uma vez que não consegue aceitar a realidade e respeitar o sentimento alheio, já não se trata mais de amor, é apenas uma obsessão.

Aqui, novamente temos a lição de que, se você deseja a felicidade de alguém, se a ama de verdade, deixa o caminho livre para que a pessoa faça sua própria escolha, sem questionamentos. Me identifico com esse pensamento, e ao que parece, os escritores japoneses também 😉

Eu gosto da maneira como esses fatos são retratados, de maneira filosófica, através de algumas passagens da narrativa, pois isto nos incentiva a pensar nas problemáticas cotidianas de forma mais profunda, sem se limitar somente aos clichês como um elemento superficial presente em um romance.

Não me entendam mal, eu amo clichês, acho super fofos e meigos, daqueles que nos deixam com o coração bem quentinho, porém, prefiro enredos que utilizam esta estética para através dela, transmitirem alguma mensagem importante e não que a utilizem como pretexto, por exemplo, para só criar intrigas ou “encher linguiça” no meio do caminho. Isto empobrece o enredo, ao passo que podem engrandecê-lo sendo mais objetivo e inserindo valores como compreensão, cumplicidade, empatia, amor – em sua forma mais genuína –, honra, mérito e persistência.

Estou gostando bastante de voltar a ver filmes japoneses – depois de algum tempo –, pois os mesmos sempre nos trazem valores humanos imprescindíveis e, no mínimo, muita emoção

No que se refere à atuação, adorei ver a Taira Yuna fazer o papel de “a outra”, ao invés da protagonista. Como sempre, executou uma interpretação de excelência nas poucas cenas em que deu as caras, expressando a convicção na voz, e a indiferença no olhar, característico de sua personagem.

Gostei de vê-la neste longa, pois, até o momento, os filmes e dramas que havia visto com ela, possuíam aquele traço marcante de fofura e comédia exagerada, comum em shoujo, e, neste caso específico, ainda que seja uma obra do mesmo estilo, ela desempenhou um papel bem mais sério, e até mais “frio”, em vista do fato de que ela era a “rival amorosa” da protagonista. Esta, foi mais uma das provas que ela se sai bem em quaisquer papeis que a designarem.

A Tsuchiya Tao foi uma surpresa para mim, pois eu a conheci no drama “Ani ni Aishisugite Komattemasu”, mas lembro-me de não ter me apegado nem à história, nem aos personagens que a compuseram. Por outro lado, em “Aozora Yell” ela me conquistou ao ser novamente a principal. Em determinadas passagens, especialmente no início, senti que lhe faltou intensidade na emoção, porém, no desenrolar dos acontecimentos, a atriz se mostra mais habilidosa.

Matsui Airi em cena é sempre um presente, muito boa interpretando personagens fofas e alegres, que dão um ar bem leve de comédia, sem exageros. Desta forma, o papel de melhor amiga da Tsubasa lhe caiu perfeitamente! Não tenho críticas a respeito de sua atuação, e cada vez mais desejo poder assistir filmes / dramas em que ela esteja inclusa no elenco.

Takeuchi Ryoma tem seus créditos comigo. Ele interpretou o professor de matemática Yoshitaka Hiromitsu na live-action de “Sensei Kunshu” (2018). Em “Aozora Yell” (2016), ele se saiu bem, deu para perceber a frustração do personagem, e a cada vez, se aprimora. Em “Sensei Kunshu” (2018), dois anos depois, a atuação dele melhorou.

Gosto de fazer estes comparativos e perceber que os atores com os quais estou afeiçoada estão sempre em constante progresso. O ator se sai bem em ambos os tipos de papeis, tanto como um aluno de Ensino Médio quanto como um professor, mas admito preferir a segunda opção, por ser mais maduro. Combina mais com ele.

Horii Arata foi um rosto conhecido neste filme. Eu o conheci pela primeira vez na segunda temporada de “Itazura na Kiss: Love in Tokyo” (2014), na qual ele interpretou Kamogari Keita, rival amoroso do protagonista e colega de classe de Kotoko, na turma de enfermagem. Keita tinha uma personalidade bastante forte e marcante, enquanto que em “Aozora Yell”, o personagem Kido possui um traço mais leve e alegre, típica de amigo. Foi bom poder ver o ator representar um papel mais tranquilo, diferente do que eu havia visto – aparentemente, ele não é muito de fazer shoujo, tem só alguns trabalhos neste estilo –

Outro que eu conheço de “Itazura na Kiss” é o Yamada Yuki, que interpretou o Kin-chan, melhor amigo da Kotoko, fazendo parte do primeiro triângulo amoroso da série, e sendo assim, ele tinha um gênio bastante forte e determinado, e as cenas eram mais de comédia. Em contrapartida, em “Aozora Yell”, foi de um dos atletas de baseball, e digamos, mais sério. Foi bom vê-lo nesta performance.

A atriz Shida Mirai esteve em “Ito-kun A to E”, porém, lembro de não ter gostado da história em si. Aqui neste filme, do contrário, o enredo foi cativante e a participação dela excelente. Expressou bem todos os diferentes sentimentos da personagem a quem deu vida, e percebi seu real potencial quando a Yuka fica depressiva e manda todas irem embora de sua casa.

Neste longa, tive meu primeiro contato com a atriz Ueno Juri, famosa por ter estrelado como a Nodame em “Nodame Cantabile” (que todo mundo assistiu, menos eu). Neste filme, ela interpretou com maestria a professora Youko, sabendo transmitir autoridade e seriedade no momento de se dirigir aos alunos, como também serenidade ao agir em determinadas cenas em que se dispunha a aconselhar alguém. A partir de agora, verei mais trabalhos dela!

A Kojima Fujiko eu não a conhecia, todavia, ela me conquistou neste filme. Deu muita raiva dela em vários momentos específicos, colocou muita intensidade na voz, principalmente nas brigas. Quero vê-la mais vezes nas telinhas!

 

Conclusões Finais

Esse filme trouxe muitas emoções e lições para o espectador, acompanhada de fortes laços de amizade e compreensão além de um romance leve e bastante agradável de acompanhar. Em meio a isso, ainda nos proporciona a capacidade de refletir sobre valores humanos como união, honra, mérito e disciplina, trazendo elementos culturais para tal finalidade, nas entrelinhas da trama.

Recomenda-se àqueles que desejam assistir algo leve, tocante e profundo com a mensagem de que, se quisermos, podemos chegar longe. “Para os que sonham, apenas o céu é o limite”

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