segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

[Novos Começos] Capítulo 34– Ajudamos a Tennouji-san e ganhamos um dia emocionante

 

Depois daquele tenso encontro, caminhamos um pouco mais até chegar a loja da Tennouji-san, um estabelecimento de classe alta, compensado pela qualidade do produto e serviço ofertados. A proprietária fazia seus clássicos doces à base de mel e chocolate. Canollis com recheio de mel eram os mais vendidos e aprovados pelo público. Entre suas criações originais, seus waffles de mel e a Forest Linda formavam a dupla de mais contemplados

Me felicitou ver que a Forest Linda era um sucesso internacional, tanto na Itália quanto na Inglaterra, e agora o mesmo doce tinha duas ou mais versões, afinal, cada um de nós possuía seu tempero e seu “toque especial” ao fazê-lo.

Seja onde for, a Forest Linda era “a sobremesa”, e povo italiano tinha a sorte de saborear o doce vindo direto da fonte

Antes de começar a trabalhar, fomos tomar um copo d’água, para aliviar a tensão que sentimos depois do “encontro” inesperado com a François. Na cozinha, avistamos rostos conhecidos:

Lemon-chan, Ricky! Exclamei, feliz de vê-los novamente, em um curto prazo de tempo.

Ichigo-senpai! Bem-vinda à Itália Lemon-chan disse, carinhosa, meiga e alegre, como de costume. Adorava o carinho com que ela me tratava e a energia positiva que a companhia dela me passava.

Benvenutti (Bem-vindos) Cumprimentou Ricky, dirigindo-se a todos nós em sua língua mãe. Ele parecia estar mais à vontade em seu país de origem, porém Habnabusa-kun logo se incomodou com a postura dele, que jogava charme nas garotas, inclusive para nós três, suas amigas.

Ele piscou na nossa direção, que entendemos o cumprimento, mas Hanabusa não se conformou, e foi logo entregando sua famosa rosa em caramelo para Rumi-chan, deixando bem clara a rivalidade com Ricky e uma mensagem do tipo: “Não dê em cima da minha garota, cara!”

A reação da Rumi-chan foi silenciosa, mas compreendeu de imediato as intenções do namorado e lhe agradeceu com um sorriso leve. Lemon-chan só assistia à cena encantada, e contente de ver que nenhum de nós havia mudado sua personalidade e manias.

Quanto ao trabalho em si, nós tivemos zilhões de Forest Linda para fazer, pois não paravam de pedir a especialidade da casa. A fama era tanta que até faltou ingrediente para continuar a produção, mas por sorte, Kashino havia trazido cobertura de chocolate italiana em sua mochila e que, por um milagre ainda maior, era da mesma marca que a Tennouji-san usava, uma vez que ela só comprova os melhores produtos para compensar o preço de venda, e o tio do Makoto, como um chocolatier de primeira, naturalmente reconhecia quais eram as marcas de ponta.

Assim sendo, a Forest Linda pode ser produzida sem complicações a todo o vapor! Eu, Kana-chan e Rumi-chan fazíamos principalmente as receitas à base de mel, por serem mais simples, porém em maior número de fornadas, executando exatamente como Tennouji-san havia nos ensinado.

A Honey, espírito do doce da Tennouji-san, lhe alertava vez ou outra:

― Mari, lembre-se de colocar bons sentimentos nas receitas, ou refletirá nos doces.

― Eu sei, Honey, fique tranquila ― confortou a garota

Entretanto, a tranquilidade passou rápido, pois quando fui entregar um dos pedidos, um cliente em outra mesa ao lado parecia desconfortável. Aproximei-me do rapaz e tentei falar no melhor inglês possível, pois não sabia italiano:

― What’s the matter? (Qual o problema?)

― It’s too sweet. I mean, sweeter than usual. It uses to bring me a lighter taste (Isto está muito doce. Quer dizer, mais doce que o normal. Isto costuma me trazer um sabor mais leve)

― Oh, I totally understand you. May you wait just a moment please. I’ll solve this matter sooner as possible (Oh, eu te compreendo totalmente. Pode esperar só um momento, por favor? Resolverei este problema o mais breve possível)

O cliente sorriu e me deu uma resposta positiva. Então fui correndo à cozinha e contei o acontecido. Tennouji-san e sua companheira Honey se entristeceram, mas eu disse que ajudaria a resolver o caso

― Ela está perdendo a noção do tempero por conta do nervosismo ― Honey esclareceu ― Às fica mais leve, e às vezes, muito doce.

― Entendi. ― Aquilo era compreensível. Kashino havia passado por uma situação bem parecida, então eu já sabia quais eram os efeitos que um coração frustrado causava nas sobremesas. Essa era o momento de apoiarmos a Tennouji-san, e abraçar seu emocional, para que se sentisse acolhida e transmitisse sua típica calmaria nos doces que preparava.

Como solução, perguntei qual era a quantidade de cada ingrediente, especialmente açúcar, mas então, lembrei da conversa que havia tido com o cliente, e falei, pensando alto.

― O homem disse que estava mais leve, será que é melhor colocar menos açúcar?

― Como era esse cliente? ― Tennouji-san questionou, e eu dei a descrição completa dele, e ela o reconheceu na hora.

― Esse é Matteo Rossi, cliente assíduo da loja. Pode fazer a receita original

― Não é à toa que percebeu ― comentei, feliz de encontrar alguém que realmente apreciava as sobremesas do estabelecimento.

Sem mais delongas refiz o doce, com as medidas exatas

Fui novamente à mesa dele e pedi desculpas pela espera e o transtorno, mas ele foi compreensivo e generosamente elogiou o estabelecimento, dizendo que os doces da “Senhorita Mari” eram seus preferidos, me deixando com os olhos brilhando de felicidade.

Aparentemente “Tennouji” era um sobrenome demasiado difícil para os italianos pronunciarem, então ela era conhecida na Itália como a “Chefe Mari” da pâtisserie, ou simplesmente, “Senhorita Mari” 

À primeira mordida, perguntei se o doce havia sido aprovado, e a resposta foi a mais positiva possível: estava com o gosto costumeiro, então consegui reproduzir devidamente. Ele me pediu para enviar lembranças à “Senhorita Mari”, já que hoje ela estava 100% do tempo na cozinha e obviamente, não interagia com a clientela.

― Claro ― respondi, em inglês, e saí com um sorriso.

Retornando à cozinha, informei:

― Tennouji-san, o Sr. Matteo lhe mandou lembranças. Ele sentiu sua falta lá na frente. E também aprecia demais o seu trabalho, ele disse que são seus preferidos!

Aquilo realmente deu energia para ela. Os olhos da Tennouji-san brilharam de tal forma que dava para ver o coração explodiria, de tanto que estava se sentindo realizada com um comentário carinhoso daquele. Era gratificante receber respostas tão positivas, pois era sinal de que o cliente realmente sentia as emoções da confeiteira em suas entregas.

A partir de então, Tennouji-san se sentiu mais motivada do que nunca para prosseguir com seus afazeres e todas as tristezas de seu coração haviam sumido e dado lugar a puras alegrias, assim ela foi capaz de fazer sus doces tranquilamente. A boa e velha Tennouji-san havia retornado! E tudo por conta de um ato de carinho! Às vezes, só que uma pessoa precisa é de uma palavra de afeto para melhorar o astral.

No fim do dia, e nos próximos dois dias, as vendas subiram constantemente, com a ajuda dos garotos, principalmente Hanabusa, que esbanjava sua beleza, charme e voz melodiosa para as italianas, que se encantavam com ele assim que entravam na loja.

Não demorou para que ele se tornasse o “chamariz” da confeitaria da Tennouji-san, que ficava bem na frente da porta dizendo frases de efeito para que as pessoas se interessassem pelos produtos, e instantaneamente ele conseguia formar uma fila quilométrica, em sua esmagadora maioria mulheres. Os homens que se interessavam eram pessoas que trabalhavam de terno e gravata em empresas e precisavam de uma sobremesa e um café para adoçar o dia.

Hanabusa-kun atraía tantas garotas que até os homens que passavam por ali, e outros que adentravam a loja pela primeira vez, pensavam que ele era um modelo radicado na Itália ou algo tipo, visto que o italiano dele não tinha sotaque – ele aprendeu o básico para se comunicar, antes de vir à Itália – e nunca haviam visto um estrangeiro interagir tão bem com nativos.

A boa notícia foi que o “modelo da porta”, como ficou conhecido o Hanabusa-kun conseguiu fidelizar ainda mais os clientes que já frequentavam a loja e atrair outras centenas deles, de forma que o público-alvo da Tennouji-san se ampliou bastante e até mais crianças quiseram visitar com as mães, porque tinha um “onii-chan gentil, legal e bonito que gosta de crianças vendendo doces gostosos”, sem saber que a loja nem é nossa, e sim, da Tennouji-san.

No segundo e terceiro dia, fizemos 3000 doces a mais por dia, de tantas pessoas que vieram. A renda estava aumentando e tudo ia bem até que uma cliente indesejada chegou: Era Françoise, acompanhada de sua aliada Isabella Antoneti

Até Hanabusa-kun decidiu se juntar a nós para checar o que estava acontecendo, tamanho era o alvoroço, e pediu que os clientes se acalmassem.

Isabella não mediu as palavras, e foi insultá-lo assim que o reconheceu:

― Ah, oi pivete! Há quanto tempo!

― Olha se não é a minha ex-rival. Como vão os macarrons, Isabella? ― Ele sabia que havia perdido para ela na prova dos macarrons no Cake Grand Prix, mas soube lidar bem com a derrota individual, já Isabella, apesar de vitoriosa, não se conformava que seu time havia perdido a competição, pois como Françoise, detestava perder, e então fazia questão de deixar claro que era melhor do que o Hanabusa-kun e o desprezava totalmente.

― Nós vamos derrotá-los. A nossa loja será a melhor de Veneza

― Vai sonhando, vai ser bom pro teu sono da beleza ― Hanabusa-kun ironizou, sabendo que tudo que Isabella possuía de beleza se equiparava ao tamanho da arrogância.

 ― O que quer dizer com isso, pirralho? ― Ela era só 3 anos mais velha que a gente, mas nos considerava crianças

Hanabusa-kun respondeu com uma analogia:

― Uma flor tão murcha como você demora bastante pra florescer de novo. E se fosse você, eu tomaria cuidado com o que deseja, se não quiser se afogar que nem o Narciso

Depois dessa, Antoneti calou-se, sem saber como responder àquilo, vermelha por ter perdido a razão e o debate

Tennouji-san veio em seguida, às pressas, depois de ouvir vozes embaralhadas, com um monte de gente comentando das clientes estonteantes que tinham acabado de entrar roubando cena.

Ela logo enfrentou a rival com classe:

― O que deseja, Françoise?

― Eu vim ver como está o andamento da sua loja

― Estão crescendo exponencialmente, se quer saber ― foi a resposta da loira, com o rosto impassível

Um instante depois, surpreendentemente, uma criança que estava ali perto, correu até próximo de nós, com sua mãe atrás dele, e disse:

― A senhorita Mari é a melhor de todas! Eu sempre peço pra mamãe para eu vir aqui comer os doces dela, que estão cheios de amor e carinho. Ela é muito legal e as outras pessoas daqui também. A Lemon sempre conversa comigo e quando pode, ela me dá um abraço quentinho! O Ricky é tipo um irmão mais velho, ele é engraçado, sempre fala alguma coisa que me faz rir e só não dá pra conversar e brincar mais porque ele tá trabalhando e atendendo um monte de gente ao mesmo tempo. Às vezes, dá vontade de vir aqui só pra ver todos eles, de tão legais.

Ouvindo isso, os meus amigos se emocionaram, e foram logo abraçar o menino, para retribuir o afeto, deixando-o mais feliz ainda.

Em seguida, o garoto olhou fixamente para Françoise, continuando o discurso:

― Essa é a melhor loja do mundo, porque tem as pessoas com os melhores corações também, mas o seu deve estar bem preto, com tanta inveja que dá pra ver no fundo dos olhos. Duvido que seus doces sejam tão gostosos quanto os daqui.  

Com essa fala, foi a vez de Françoise se morder de raiva e sair de fininho, com Isabella atrás de si. Nada como a sinceridade de uma criança para fazer alguém entender a situação de forma clara. Crianças são puras, e nunca escondem o que sentem ou pensam, bem diferente de umas beldades hipócritas por aí.

A mãe da criança ficou sem jeito a princípio, mas todos a confortamos elogiando a coragem e caráter do menino, e a parabenizamos pela boa criação.  Tennouji-san, Ricky e Lemon-chan agradeceram pelo carinho e incentivaram-na a trazê-lo mais vezes na loja, pois sempre é um prazer recebê-lo.

Aquele foi um dia realmente diferente, porém repleto de boas energias e aprendizados, que eu guardo para sempre no fundo do coração.

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