Depois
daquele tenso encontro, caminhamos um pouco mais até chegar a loja da
Tennouji-san, um estabelecimento de classe alta, compensado pela qualidade do
produto e serviço ofertados. A proprietária fazia seus clássicos doces à base
de mel e chocolate. Canollis com recheio de mel eram os mais vendidos e
aprovados pelo público. Entre suas criações originais, seus waffles de mel e a
Forest Linda formavam a dupla de mais contemplados
Me
felicitou ver que a Forest Linda era um sucesso internacional, tanto na Itália
quanto na Inglaterra, e agora o mesmo doce tinha duas ou mais versões, afinal,
cada um de nós possuía seu tempero e seu “toque especial” ao fazê-lo.
Seja
onde for, a Forest Linda era “a sobremesa”, e povo italiano tinha a sorte de
saborear o doce vindo direto da fonte
Antes
de começar a trabalhar, fomos tomar um copo d’água, para aliviar a tensão que
sentimos depois do “encontro” inesperado com a François. Na cozinha, avistamos
rostos conhecidos:
— Lemon-chan, Ricky! — Exclamei, feliz de vê-los novamente, em um curto prazo de
tempo.
—
Ichigo-senpai! Bem-vinda à Itália — Lemon-chan disse,
carinhosa, meiga e alegre, como de costume. Adorava o carinho com que ela me
tratava e a energia positiva que a companhia dela me passava.
— Benvenutti
(Bem-vindos) — Cumprimentou Ricky, dirigindo-se a todos nós em sua língua
mãe. Ele parecia estar mais à vontade em seu país de origem, porém Habnabusa-kun
logo se incomodou com a postura dele, que jogava charme nas garotas, inclusive
para nós três, suas amigas.
Ele
piscou na nossa direção, que entendemos o cumprimento, mas Hanabusa não se
conformou, e foi logo entregando sua famosa rosa em caramelo para Rumi-chan,
deixando bem clara a rivalidade com Ricky e uma mensagem do tipo: “Não dê em
cima da minha garota, cara!”
A reação
da Rumi-chan foi silenciosa, mas compreendeu de imediato as intenções do
namorado e lhe agradeceu com um sorriso leve. Lemon-chan só assistia à cena
encantada, e contente de ver que nenhum de nós havia mudado sua personalidade e
manias.
Quanto
ao trabalho em si, nós tivemos zilhões de Forest Linda para fazer, pois não
paravam de pedir a especialidade da casa. A fama era tanta que até faltou
ingrediente para continuar a produção, mas por sorte, Kashino havia trazido
cobertura de chocolate italiana em sua mochila e que, por um milagre ainda
maior, era da mesma marca que a Tennouji-san usava, uma vez que ela só comprova
os melhores produtos para compensar o preço de venda, e o tio do Makoto, como
um chocolatier de primeira, naturalmente reconhecia quais eram as marcas de
ponta.
Assim
sendo, a Forest Linda pode ser produzida sem complicações a todo o vapor! Eu,
Kana-chan e Rumi-chan fazíamos principalmente as receitas à base de mel, por
serem mais simples, porém em maior número de fornadas, executando exatamente
como Tennouji-san havia nos ensinado.
A
Honey, espírito do doce da Tennouji-san, lhe alertava vez ou outra:
―
Mari, lembre-se de colocar bons sentimentos nas receitas, ou refletirá nos
doces.
― Eu
sei, Honey, fique tranquila ― confortou a garota
Entretanto,
a tranquilidade passou rápido, pois quando fui entregar um dos pedidos, um
cliente em outra mesa ao lado parecia desconfortável. Aproximei-me do rapaz e
tentei falar no melhor inglês possível, pois não sabia italiano:
― What’s the matter? (Qual o problema?)
― It’s too sweet. I mean, sweeter than usual. It uses
to bring me a lighter taste (Isto está muito doce. Quer dizer, mais doce que o normal. Isto costuma me trazer
um sabor mais leve)
― Oh, I totally understand you. May you wait just a
moment please. I’ll solve this matter sooner
as possible (Oh, eu te compreendo totalmente. Pode esperar só um momento, por
favor? Resolverei este problema o mais breve possível)
O
cliente sorriu e me deu uma resposta positiva. Então fui correndo à cozinha e
contei o acontecido. Tennouji-san e sua companheira Honey se entristeceram, mas
eu disse que ajudaria a resolver o caso
―
Ela está perdendo a noção do tempero por conta do nervosismo ― Honey esclareceu
― Às fica mais leve, e às vezes, muito doce.
―
Entendi. ― Aquilo era compreensível. Kashino havia passado por uma situação bem
parecida, então eu já sabia quais eram os efeitos que um coração frustrado
causava nas sobremesas. Essa era o momento de apoiarmos a Tennouji-san, e
abraçar seu emocional, para que se sentisse acolhida e transmitisse sua típica
calmaria nos doces que preparava.
Como
solução, perguntei qual era a quantidade de cada ingrediente, especialmente
açúcar, mas então, lembrei da conversa que havia tido com o cliente, e falei,
pensando alto.
― O
homem disse que estava mais leve, será que é melhor colocar menos açúcar?
―
Como era esse cliente? ― Tennouji-san questionou, e eu dei a descrição completa
dele, e ela o reconheceu na hora.
―
Esse é Matteo Rossi, cliente assíduo da loja. Pode fazer a receita original
―
Não é à toa que percebeu ― comentei, feliz de encontrar alguém que realmente
apreciava as sobremesas do estabelecimento.
Sem
mais delongas refiz o doce, com as medidas exatas
Fui
novamente à mesa dele e pedi desculpas pela espera e o transtorno, mas ele foi
compreensivo e generosamente elogiou o estabelecimento, dizendo que os doces da
“Senhorita Mari” eram seus preferidos, me deixando com os olhos brilhando de
felicidade.
Aparentemente
“Tennouji” era um sobrenome demasiado difícil para os italianos pronunciarem,
então ela era conhecida na Itália como a “Chefe Mari” da pâtisserie, ou
simplesmente, “Senhorita Mari”
À
primeira mordida, perguntei se o doce havia sido aprovado, e a resposta foi a
mais positiva possível: estava com o gosto costumeiro, então consegui
reproduzir devidamente. Ele me pediu para enviar lembranças à “Senhorita Mari”,
já que hoje ela estava 100% do tempo na cozinha e obviamente, não interagia com
a clientela.
―
Claro ― respondi, em inglês, e saí com um sorriso.
Retornando
à cozinha, informei:
―
Tennouji-san, o Sr. Matteo lhe mandou lembranças. Ele sentiu sua falta lá na
frente. E também aprecia demais o seu trabalho, ele disse que são seus
preferidos!
Aquilo
realmente deu energia para ela. Os olhos da Tennouji-san brilharam de tal forma
que dava para ver o coração explodiria, de tanto que estava se sentindo
realizada com um comentário carinhoso daquele. Era gratificante receber
respostas tão positivas, pois era sinal de que o cliente realmente sentia as
emoções da confeiteira em suas entregas.
A
partir de então, Tennouji-san se sentiu mais motivada do que nunca para
prosseguir com seus afazeres e todas as tristezas de seu coração haviam sumido
e dado lugar a puras alegrias, assim ela foi capaz de fazer sus doces
tranquilamente. A boa e velha Tennouji-san havia retornado! E tudo por conta de
um ato de carinho! Às vezes, só que uma pessoa precisa é de uma palavra de
afeto para melhorar o astral.
No
fim do dia, e nos próximos dois dias, as vendas subiram constantemente, com a
ajuda dos garotos, principalmente Hanabusa, que esbanjava sua beleza, charme e
voz melodiosa para as italianas, que se encantavam com ele assim que entravam
na loja.
Não
demorou para que ele se tornasse o “chamariz” da confeitaria da Tennouji-san,
que ficava bem na frente da porta dizendo frases de efeito para que as pessoas
se interessassem pelos produtos, e instantaneamente ele conseguia formar uma
fila quilométrica, em sua esmagadora maioria mulheres. Os homens que se
interessavam eram pessoas que trabalhavam de terno e gravata em empresas e
precisavam de uma sobremesa e um café para adoçar o dia.
Hanabusa-kun
atraía tantas garotas que até os homens que passavam por ali, e outros que
adentravam a loja pela primeira vez, pensavam que ele era um modelo radicado na
Itália ou algo tipo, visto que o italiano dele não tinha sotaque – ele aprendeu
o básico para se comunicar, antes de vir à Itália – e nunca haviam visto um
estrangeiro interagir tão bem com nativos.
A
boa notícia foi que o “modelo da porta”, como ficou conhecido o Hanabusa-kun
conseguiu fidelizar ainda mais os clientes que já frequentavam a loja e atrair
outras centenas deles, de forma que o público-alvo da Tennouji-san se ampliou
bastante e até mais crianças quiseram visitar com as mães, porque tinha um
“onii-chan gentil, legal e bonito que gosta de crianças vendendo doces
gostosos”, sem saber que a loja nem é nossa, e sim, da Tennouji-san.
No
segundo e terceiro dia, fizemos 3000 doces a mais por dia, de tantas pessoas
que vieram. A renda estava aumentando e tudo ia bem até que uma cliente
indesejada chegou: Era Françoise, acompanhada de sua aliada Isabella Antoneti
Até
Hanabusa-kun decidiu se juntar a nós para checar o que estava acontecendo,
tamanho era o alvoroço, e pediu que os clientes se acalmassem.
Isabella
não mediu as palavras, e foi insultá-lo assim que o reconheceu:
― Ah,
oi pivete! Há quanto tempo!
―
Olha se não é a minha ex-rival. Como vão os macarrons, Isabella? ― Ele sabia
que havia perdido para ela na prova dos macarrons no Cake Grand Prix, mas soube
lidar bem com a derrota individual, já Isabella, apesar de vitoriosa, não se
conformava que seu time havia perdido a competição, pois como Françoise,
detestava perder, e então fazia questão de deixar claro que era melhor do que o
Hanabusa-kun e o desprezava totalmente.
―
Nós vamos derrotá-los. A nossa loja será a melhor de Veneza
―
Vai sonhando, vai ser bom pro teu sono da beleza ― Hanabusa-kun ironizou,
sabendo que tudo que Isabella possuía de beleza se equiparava ao tamanho da
arrogância.
― O que quer dizer com isso, pirralho? ― Ela
era só 3 anos mais velha que a gente, mas nos considerava crianças
Hanabusa-kun
respondeu com uma analogia:
―
Uma flor tão murcha como você demora bastante pra florescer de novo. E se fosse
você, eu tomaria cuidado com o que deseja, se não quiser se afogar que nem o
Narciso
Depois
dessa, Antoneti calou-se, sem saber como responder àquilo, vermelha por ter
perdido a razão e o debate
Tennouji-san
veio em seguida, às pressas, depois de ouvir vozes embaralhadas, com um monte
de gente comentando das clientes estonteantes que tinham acabado de entrar
roubando cena.
Ela logo
enfrentou a rival com classe:
― O
que deseja, Françoise?
― Eu
vim ver como está o andamento da sua loja
―
Estão crescendo exponencialmente, se quer saber ― foi a resposta da loira, com
o rosto impassível
Um
instante depois, surpreendentemente, uma criança que estava ali perto, correu
até próximo de nós, com sua mãe atrás dele, e disse:
― A senhorita
Mari é a melhor de todas! Eu sempre peço pra mamãe para eu vir aqui comer os
doces dela, que estão cheios de amor e carinho. Ela é muito legal e as outras
pessoas daqui também. A Lemon sempre conversa comigo e quando pode, ela me dá
um abraço quentinho! O Ricky é tipo um irmão mais velho, ele é engraçado, sempre
fala alguma coisa que me faz rir e só não dá pra conversar e brincar mais
porque ele tá trabalhando e atendendo um monte de gente ao mesmo tempo. Às
vezes, dá vontade de vir aqui só pra ver todos eles, de tão legais.
Ouvindo
isso, os meus amigos se emocionaram, e foram logo abraçar o menino, para
retribuir o afeto, deixando-o mais feliz ainda.
Em
seguida, o garoto olhou fixamente para Françoise, continuando o discurso:
― Essa
é a melhor loja do mundo, porque tem as pessoas com os melhores corações
também, mas o seu deve estar bem preto, com tanta inveja que dá pra ver no
fundo dos olhos. Duvido que seus doces sejam tão gostosos quanto os daqui.
Com
essa fala, foi a vez de Françoise se morder de raiva e sair de fininho, com
Isabella atrás de si. Nada como a sinceridade de uma criança para fazer alguém
entender a situação de forma clara. Crianças são puras, e nunca escondem o que
sentem ou pensam, bem diferente de umas beldades hipócritas por aí.
A
mãe da criança ficou sem jeito a princípio, mas todos a confortamos elogiando a
coragem e caráter do menino, e a parabenizamos pela boa criação. Tennouji-san, Ricky e Lemon-chan agradeceram
pelo carinho e incentivaram-na a trazê-lo mais vezes na loja, pois sempre é um
prazer recebê-lo.
Aquele foi um dia realmente diferente, porém repleto de boas energias e aprendizados, que eu guardo para sempre no fundo do coração.
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