No dia seguinte, resolvemos abrir a loja para preparar os doces
de segunda-feira. Eis que alguém aparece em pleno domingo de manhã na nossa
porta:
— Hahahaha!
— Koshiro-san? — Pronunciei seu nome, ao vê-la entrar descaradamente.
“Ainda bem que não estamos na frente dos clientes”, pensei
depois de lembrar do último acontecido.
— Ojou — Makoto não gostava nada das “visitas” repentinas dela à nossa
loja — O que faz aqui?
— Marron? — Chocolat a encarrou
— Cheguei — Marron exibiu-se, deixando Chocolat brava, e travando uma briga
entre as duas. Vanilla interveio, tentando fazê-las parar de brigar, porém não
adiantou, e surtiu o efeito contrário, de modo que as três começaram a
discutir. De outro lado, essa era uma das poucas ocasiões em que Vanilla e
Chocolat se ajudavam, pacificamente.
— Makoto-kun! — Ela se atirou nele, e após olhar para o resto de nós ela
acrescentou, na postura presunçosa como de costume:
— Só vim informar que fiz
uma pequena modificação no desafio que dei a vocês.
— E qual é? — Andou-kun questionou
— Da última vez, eu disse
que seriam doces à base de chocolate, mas agora me decidi, serão bombons de
chocolate.
— Tão simples assim,
Koshiro-san? — Hanabusa-kun inquiriu
— Não tão simples, eu
diria. A disputa tem um tema.
— Qual seria? — Eu perguntei, séria.
— Lógico que é A-M-O-R — Ela pronunciou com a voz fina, fazendo seu famoso “charme”
— Ah... — Todos suspiramos longa e pesadamente, ao mesmo tempo, pois
sabíamos que ela nunca desistia de tentar conquistar o Kashino.
— Por que esses suspiros,
estão com medo de perder? — Koshiro-san insinuou
— Ah, vá! — Kashino a enfrentou — Estamos prontos, se quer
saber
— Ah, e antes que eu me
esqueça, a competição é hoje à noite, daqui a algumas horas!
Ficamos em silêncio, e ela emendou:
— É isso mesmo que vocês
escutaram — Ela disse com seu jeito “Ojou” de ser — Até mais, querido! — Ela fez seu “charme”
novamente, jogando um beijinho para Makoto, que fechou a cara.
Do mesmo modo que Koshiro-san fez conosco, Marron não perdeu
tempo para se achar:
— Até mais, Chocolat, você
vai perder!
— VOU NADA! Metida! — Chocolat gritou — Mas àquela altura, Marron
já havia saído voando juntamente com sua parceira Koshiro Miya.
(...) — Eu não acredito que a
Ojou quer que a gente vá competir um dia antes do combinado! — Kashino se alterou — E justo com esse tema.
— Calma, Makoto — Eu o tranquilizei — Já sei o que fazer
— Sabe?
— Sei sim. — Lhe garanti
— Aposto que a Ichigo-chan
tem muitas ideias em mente — Hanabusa-kun opinou, e eu
lhe respondi:
— Acertou!
— Conta pra gente suas
ideias, Ichigo-chan — Kana-chan me pediu, e eu
abri um largo sorriso a ela.
— Bem, o tema é amor, certo? Então pensei em fazer cada bombom
de chocolate expressando um tipo de amor diferente.
— Como assim? — Rumi-chan me questiona e eu lhe respondo rapidamente:
— Cada bombom pode trazer
uma mensagem e uma sensação distinta. Por exemplo, primeiro podemos fazer um
com formato de lua cheia, com chocolate branco, e o centro com chocolate
meio-amargo. Dá uma sensação de um amor que se acabou, mas teve sua fase
Nesse momento, a Chocolat chegou voando a todo vapor, com
Vanilla, Café e Caramel tentando acalmá-la, mas aparentemente não haviam tido
sucesso algum. A pequena logo se expressou, olhando para nós, brava:
— É bom que as ideias da
Ichigo realmente deem certo, porque eu me recuso perder pra Marron.
— Vão dar — Hanabusa-kun lhe assegurou, e ela pareceu se
conformar.
Não é preciso nem dizer que Chocolat daria de tudo para ganhar
de sua rival assumida, a Marron (novidade para ninguém)
Tal como nós, Chocolat estava pensando em como fazer seus doces.
Continuei falando minhas ideias, as imagens e conceitos por trás
de cada sobremesa, os ingredientes que usaríamos. Em um dos bombons,
representaríamos um amor que acabou de florescer, e por isso, traria um sabor
mais refrescante.
Em outro, um amor não correspondido, utilizando chocolate amago
e pimenta negra, trazendo um sentimento de angústia. E, por último, um à base
de chocolate ao leite, mais suave e adocicado, como o amor fraterno, entre bons
amigos.
Horas se passam...
Nos encontramos no local combinado e a Ojou, como sempre, estava
ansiosa por sua vitória.
— Monsieur
Leon?! — Kashino pronunciou o nome dele pasmado
— Ele será um dos juízes — Koshiro Miya explicou, sanando nossas dúvidas inicias, sobre o
porquê de um renomado chocolatier estar aqui — Além disso, eu pedi para
ter aulas particulares com ele.
“Ah, aí está a verdadeira razão para ele vir “prestigiar” a
competição.”, pensei comigo.
Ele
treinou a Ojou.
“Bem, ela nem sabe da metade” foi o
meu segundo pensamento, e era o que provavelmente todo o resto dos meus amigos
estavam pensando também, já que todos nós nos entreolhamos com um sorriso, por
um milésimo de segundo.
— Quem serão os outros?
— Meu pai — Ela disse, e apenas suspiramos com aquele ar de: “Isso não é
surpresa alguma”
— Então, vamos começar — Kashino disse, convicto.
— Esperem! — Uma voz reconhecível a nós falou, e nos surpreendemos
— Tio Ryo? — Makoto era o mais surpreso dentre todos nós, uma vez que nem
mesmo havia dito qual o local do evento. — O que faz aqui, e à esta
hora da noite?
— Ei, pra que o espanto? Só
vim ver o que estava acontecendo aqui, por coincidência. Só não sabia que Monsieur Leon estaria aqui também. Parece que a noite
vai ser longa.
“Se já não está sendo”, refleti.
Finalmente começamos a cozinhar. Kana-chan e Andou-kun davam um
sabor único e refrescante, como em um primeiro amor. Rumi-chan e Hanabusa-kun
fizeram o doce com base no chocolate ao leite, enquanto eu usei meio-amargo e
Kashino, o amargo.
Koshiro-san fazia seus bombons concentrada, e com a certeza de
que nos venceria. Ela estava tranquila até demais para nosso gosto, mas como já
conhecíamos, deixamos passar. Terminamos nossos chocolates no tempo limite, e
logo, era a vez das degustações e do julgamento das sobremesas.
Primeiro experimentaram os chocolates da Koshiro-san, que eram
basicamente em formato de coração, porque segundo ela, a intenção era expressar
“o amor verdadeiro”.
Seu pai lhe disse:
— O amor é doce, não é?
— Claro! — Ela concordou, gostando de ser elogiada pelo próprio pai.
Monsieur Leon nada disse a respeito do que experimentou, porém
pela sua expressão parecia que estava satisfatório. Ojou apenas esperava,
impaciente, esfregando suas mãos como se dissesse: “Hoje é meu dia de sorte”
Nós a encarávamos seriamente, à espera da aprovação do júri.
— Hoje, quisemos expressar
os mais diversos tipos de amor e suas faces, sendo correspondido ou não. — Disse a eles, serena — Por favor, apreciem
Aos que experimentaram, pareciam estar satisfeitos com a nossa
sobremesa, o que me deixou contente, e desde aquele instante, com uma pontada
de esperança no coração. Quando terminaram de comer, foi a vez dos resultados,
sendo avaliados técnica, arte e tema.
Para a nossa alegria, nós vencemos, considerando que a maior
diferença entre ambas as partes foi em relação ao tema. Nos outros dois
tópicos, ambos ganhamos pontuações altas.
Logicamente que Koshiro-san quis uma explicação do porquê de ter
perdido para nós.
Monsieur Leon foi o primeiro a se
manifestar dizendo:
— Sua técnica melhorou, eu
diria — Ele começou deixando transparecer seu sotaque francês — Mas o Time Ichigo conseguiu transmitir vários sentimentos, um
em cada bombom, e os ingredientes se completam, realçando o sabor. De outro
lado, você usou apenas chocolate ao leite, e não expressou em seus doces as
diferentes formas de amor.
Ainda indignada, e achando que seu pai a defenderia, ela
ordenou:
— Papai, fale alguma coisa!
— Ah, então — O homem começou, sem jeito, sabendo do gênio da filha — Mesmo que você ame muito uma pessoa, nem todos os seus dias vão
ser doces como esses chocolates ao leite.
Emburrada, ela reclamou:
— Até você, papai?
Ele por sua vez, nada disse à filha, tendo em mente que era algo
passageiro, e só exibiu um leve sorriso perante ela.
Enquanto a Ojou se mantinha de braços cruzados pela sua derrota,
nós comemoramos a vitória, incluindo nossos Espíritos dos Doces. Chocolat
comemorou conosco, enquanto Marron, a parceira de Koshiro-san, apenas
lamentou-se, derrotada:
— Eu perdi — Disse em tom de angústia e inconformidade, igualmente à sua
companheira.
Quanto ao Monsieur Leon, este olhou para Kashino Ryo, e depois
para Makoto, encarando-o por alguns segundos
— Parece que você tem um
pupilo e tanto em sua família — Comentou, com naturalidade
ao chocolatier, que sorriu, e elogiou os talentos do sobrinho.
Virando-se para Makoto, Monsieur Leon disse:
— Você é realmente habilidoso. Très bien! (Muito bem, em francês)
— Merci beaucoup (Muito obrigado) — Agradeceu, contentíssimo
e lisonjeado com os elogios que havia acabado de escutar, honradamente
merecidos. Ele não estava acreditando naquilo, era imensa a felicidade que
estava sentindo.
E, depois daquelas palavras, todos nós sentíamos que tínhamos motivos ainda maiores para continuarmos a dar o nosso melhor, e Kashino ainda mais.
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