POV Kashino Miyabi
Dia seguinte Residência/Loja Amano.
No período da manhã, Amano Ichigo foi até a casa de seu tio,
onde escodemos Makoto, para o qual ela imediatamente disse, radiante, na
tentativa de animá-lo:
— Bom dia! Está pronto para fazer doces?
Não deu certo. Ao que parecia aquilo era o que ele menos queria
fazer. E não era porque não gostava, mas por causa da consciência pesada e da
frustração que ainda sentia! Quem conhece o nosso pai sabe que ele é do tipo de
pessoa capaz de mexer com o psicológico de alguém da pior forma possível, e com
intensidade
— Eu não consigo — ele disse à garota
— Então quer dizer que você já...— Eu comecei
— Ele já tentou, mas o sabor está diferente — A Chocolat falou,
após sair voando do bolso dele
— O sabor? —Ichigo questionou, surpresa, pois ele nunca errava
nada ao fazer um doce, e o sabor ficava perfeito.
— Pode provar, Ichigo. Está ali o doce que fiz agora há pouco,
quando estava ajudando o seu tio com algumas sobremesas à base de chocolate — ele
explicou, mas sem muito humor na voz
A garota experimentou e por causa do seu incrível paladar
apurado, ela notou de primeira (com apenas uma mordida) que havia algo de
estranho.
— Está delicioso, mas há algo diferente... O sabor não está como
o de costume
— Agora está provado que eu não consigo mais ser pâtissier, não
é? —ele estava desapontado consigo mesmo.
— Não fale assim! — ela gritou, apavorada com a possibilidade de
desistir de ser um pâtissier, apesar de saber muito bem os motivos daquela
reação instantânea
Ela logo respirou bem fundo e disse:
— Apenas me conte por que...— ela começou, mas Chocolat a
interrompeu, cortando-a
— Ichigo, você sabe que os pâtisseries transmitem seus sentimentos
através dos doces, certo? —A pequena grande amiga indagou
— Claro que sei, Chocolat —ela respondeu prontamente, sem
hesitar
— Pois bem. O Kashino está muito frustrado com os últimos
acontecimentos, por isso transmite o que há em seu coração ao fazer um doce.
Por isso, o sabor desse chocolate ficou mais acentuado e mais amargo
Diante daquela explicação, Ichigo ficou paralisada por um
instante. Sensível como ela é, Ichigo sabia que fazia todo o sentido
— Makoto...— ela pegou na mão dele, na tentativa de acalmá-lo, e
como sempre, tinha as palavras certas para reconfortá-lo —Eu imagino o quanto
deve ser frustrante para você este momento que está passando agora, pode
acreditar. Eu também me sentiria da mesma forma se estivesse no teu lugar.
Seria bem triste se meus pais não me apoiassem para realizar aquilo que quero,
por isso compartilho da tua dor, do teu sentimento. Você é alguém especial a
mim, e sendo assim, se você sente dor ou tristeza eu também sinto. No entanto,
meu maior desejo é ver teu semblante alegre e enérgico como o de sempre, e
farei de tudo para que volte a sorrir novamente, não importa quanto tempo leve,
nem o que eu tenha que fazer para que isso acontece. Dê a você mesmo tempo ao
tempo, mas nunca desista dos teus sonhos e daquilo que acredita. Prometa que
não desistirá! Como já disse.... Aconteça o que acontecer, eu estarei com você
— Ichigo...Eu não vou desistir.... Eu não quero desistir —ele
falava cada frase pausadamente
—Assim é que se fala! Agora vamos fazer uma sobremesa para fazer
você sorrir novamente
Logo, a garota foi para a cozinha e preparou aquilo que ela
mesma chama de “doce especial da Ichigo”, uma torta de morango original dela.
Quando ficou pronta, ela ofereceu uma fatia ao meu irmão, que tinha o olhar
admirado
— É a tua torta de morango
— É sim — ela disse, com um sorriso de leve — Quero que a
experimente com os olhos fechados e me diga de quais memórias você se lembra ao
comê-la
E assim se fez. Instantes depois ele disse
— Eu lembro de quando vencemos o Grand Prix. Foi um sentimento
inesquecível e muito bom — ele finalmente conseguiu sorrir pela primeira vez
— Né? —ela piscou — É com esse sentimento de felicidade que você
tem que preparar suas sobremesas, por mais difícil que seja para você este
momento. Pense nas viagens, nas conquistas, em tudo que já enfrentamos e já
passamos juntos! Certo?
— Certo. Eu não vou desistir, Ichigo!
E foi assim que ele começou a fazer doces, com a garota sempre
ao seu lado, experimentando o sabor de seus doces (não poderia ser diferente se
tratando dela, né?) e o apoiando, e em pouco tempo, o sabor de suas sobremesas
voltaram a ser como antes. Ele finalmente havia se superado daquela depressão
por conta da última “conversa” com nosso pai. Graças a Ichigo. (Tinha que ser)
Mas como nem tudo são flores, naquela mesma manhã, alguém chega
batendo as portas da nossa casa, e eu já até imagino quem poderia ser
Mansão da Familia Kashino – Naquela manhã
— Onde está teu irmão? — meu pai pergunta, naquele tom
autoritário de sempre
Entretanto, não me dou por vencida e tento parecer o mais
natural possível, apesar da tensão que tomava conta de mim. Afinal, era o
futuro do Makoto que estava em jogo
—Não sei — menti
—Como assim...— ele começou no mesmo tom de antes, mas eu o
interrompi encarando com todas as minhas forças
— Você pode procurar o Makoto pelo Japão inteiro, mas não vai
encontrá-lo. Você sabe que eu sei de tudo o que acontece com quem está ao meu
arredor, então se eu não faço a mínima ideia de onde ele está, o senhor também
não o encontrará tão facilmente
Obviamente que meu pai ficou com a cara fechada e repleta de
indignação com o que havia acabado de escutar, mas depois percebeu que fazia
algum sentido. Nessas horas é bom ser “a filha querida”, já que é bem mais
fácil convencê-lo em certas ocasiões.
— Se não o encontrar logo chamarei a polícia. Ele não pode
simplesmente sumir de uma hora para outra deste jeito!
Sinceramente, eu queria rir daquela histeria do meu pai. A
“preocupação” com o “filho perdido” não me comovia em nada, apesar de me
surpreender
— Quer dizer que vai mandar as autoridades irem atrás de seu
filho desaparecido, mas você mesmo não o fará, certo? — Eu inquiri,
desafiando-o frente a frente.
—Olha como fala, Miyabi!
Eu pouco me importei para a sua chamada de atenção e apenas lhe
disse:
—Então vá procurá-lo — eu tentava me mostrar indiferente frente
a ele, ao mesmo tempo em que a minha voz era carrega de autoconfiança. E aquela
foi a primeira vez em minha vida que havíamos invertido nossos papéis. Ele
sempre me deu ordens, agora era eu que estava impondo-lhe uma ordem.
Milagrosamente, aquele homem concordou comigo (pelo menos por um instante)
— Você está com a razão preciso encontrá-lo
Eu assenti com a cabeça e ele continuou:
— E a primeira coisa que farei é trancá-lo aqui em casa!
— Não! —Exclamei, decidida — A primeira coisa que fará após
encontrá-lo será se acertar com ele. O senhor não vai querer que todo mundo
saiba que a pessoa mais rica desta cidade, reconhecido mundialmente e diretor
do hospital que é referência em sua região, tem problemas familiares mal resolvidos,
vai? —Eu o desafiei, determinada a fazer de tudo por Makoto, assumindo minha
posição séria e sádica frente a meu pai. Se ele achava que apenas ele poderia
importar autoridade na família estava muito enganado.
Pela primeira vez em sua vida ele estava sem palavras, porque
hesitou por um momento e engoliu em seco ao ouvir aquilo.
Só depois, ele vociferou:
— Óbvio que não!
— Então é melhor você deixar ele seguir o próprio caminho, com
quem ele gosta, e fazendo o que gosta. Porque senão as coisas podem ficar bem
piores do que se imagina
— E como esta situação pode ficar pior do que já está? — ele
esbravejou — E aquela garota...
— Simples. Você é bem renomado em Londres, porque lá é uma das
referências em diversas áreas, inclusive na Medicina. Mas tem um pequeno
detalhe: a loja do Makoto é uma das mais conhecidas em Londres nos últimos
tempos. Imagine se os ingleses descobrem que o chocolatier, no caso ele, está
ausente por problemas familiares. Como você acha que ficará a sua reputação no
exterior, hein? Porque afinal foi o senhor que o mandou voltar ao Japão
repentinamente. E a Amano Ichigo é uma excelente pessoa e profissional, se não
sabe. Não foi você que sempre quis que seus filhos ficassem no topo? Então, não
custa te lembrar uma vez mais que a loja deles em Londres é um sucesso, e tudo
por causa da genialidade da Amano Ichigo, a garota que você chama
intencionalmente de “pobre”
Ele abriu a boca, na tentativa de se pronunciar, mas eu não
permiti que ele o fizesse.
— Além disso, o nosso tio, que não por acaso é seu irmão, é um
chocolatier bem-conceituado e conhecido na Europa, inclusive em Londres, onde
ele instalou uma filial há alguns anos e já é um grande sucesso de vendas.
Isso, de alguma maneira faz com que associem o nome “Kashino” com as
artes culinárias, o que inclui não apenas o tio, como Makoto também. E se as
pessoas descobrem que você é contra a este talento da família, que traz tanto
renome e excelentes resultados, como você acha que ficará “conhecida” a nossa
Família, que você
tanto preza —falei a última frase com uma pontinha de
ironia na voz — se souberem da sua postura autoritária e intolerante aos fatos
e às pessoas? E a sua imagem no exterior? Já parou para pensar nisso? Porque
até onde eu sei a nossa imagem somos nós mesmos que construímos —eu concluí,
por fim.
Ele disse que aquilo era uma calúnia total com sua pessoa, um
absurdo. Honestamente, eu já esperava esse tipo de reação, até porque se eu bem
conheço meu pai ele detesta admitir que está errado, além de ser um homem de
uma palavra só. Entretanto, eu sabia que tinha que ser forte, e continuaria com
meus argumentos até o fim
— O senhor sempre fala para honrarmos a família. E com certeza
ele já está honrando a família mais do que o suficiente. Então, não resta
escolha a não deixar com que ele siga seu próprio caminho, como pessoa e como
profissional porque senão, você mesmo irá se contrariar, além de que manchará
demais o seu nome, não é? — A minha voz era desafiadora e determinada perante
ele. Quem me conhece sabe que eu sou persistente, não desisto do que acredito,
nem que precise ouvir umas e outras do meu pai (que eu não dou muita bola, para
ser honesta)
Sem escolhas, ele disse:
—Tudo em nome da minha reputação
Eu sabia que ele não queria dar o braço a torcer, mas essa era
forma de dizer que se rendeu a mim. Eu adorei!
—Então, agora vá procurá-lo — eu lhe disse
E assim se fez. Pela primeira vez o jogo havia virado (e com
muito êxito) e ele estava indo procurar meu irmão. Ficou horas a procurá-lo e
ao cair da noite meu pai diz que não o encontrou.
Como eu previa, ele não tinha chance nenhuma de descobrir onde
Makoto estava, o que demonstrava que o plano havia dado certo.
Prova disso foi quando lhe indaguei:
— Tem certeza que procurou em todos os lugares?
— Tenho. Procurei pela cidade inteira e não sei onde ele se
meteu até agora!
Eu estava bem séria por fora, mas queria comemorar por dentro.
Tudo havia saído como o planejado
Assim, eu lhe disse, calma:
— Espere mais um pouco, então. Você terá uma surpresa
Ele nada disse a mim, que saí de fininho instantes depois em
direção à residência Amano. Ao atender-me, me receberam com olhares de
surpresa, querendo saber o que eu estava a fazer ali em uma hora daquelas.
Cumprimentei a todos rapidamente e, olhando para meu irmão, lhe
disse:
— Volte para casa. Nosso pai quer te ver.
Como eu presumia ele
estremeceu ao ouvir a palavra “pai”, e eu entendia perfeitamente as suas razões
para tal reação.
Mas Ichigo e seu tio também ficaram boquiabertos com aquela
revelação
Assim, lhe revelei, com um sorriso, acalmando-o:
— Não se preocupe. São boas notícias!
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