Duas
semanas depois, recebemos uma chamada do Henri-sensei dizendo para viajarmos à
Itália, para ajudarmos na loja da Tennouji-san. Ela precisaria aumentar suas
vendas em no mínimo 10% em relação às semanas anteriores, ou a loja dela
fecharia.
Dissemos
que o faríamos com toda a certeza, retribuindo o favor que ela nos concedeu, e
daríamos nosso melhor, além de que, seria uma boa oportunidade para estudarmos
e nos aperfeiçoarmos mais, segundo o próprio Henri-sensei, e garantimos a ele
que seriamos patissieres cada vez melhores.
Após
terminada a conversa com Henri-sensei, quem mais se incomodou foi Hanabusa-kun:
— Por que a Itália? Se aqui o Ricky já dava em cima das
garotas, lá vai ser ainda pior
— Por que o incômodo, posso saber? — Rumi-chan inquiriu — Pra mim você tinha que
prestar mais atenção para quem está ao seu lado.
Querendo
ou não, ela havia acabado de falar que a popularidade dele a perturbava, ainda
que indiretamente, e que gostaria de ter sua atenção.
— Tem razão. — Ele concordou — Fiquei tão preocupado em ser gentil com as meninas ao
redor, que me esqueci de como você é linda!
“Linda”
essa palavra a deixou extremamente enrubescida.
Honestamente,
ela estava feliz por ser referida carinhosamente, no entanto, ela decidiu
manter sua postura rígida, com seu jeito Kato Rumi de ser, e o interrogou:
— E você não diria isso pra qualquer outra garota, como faz
com suas rosas em caramelo, ainda mais para com as loiras dos olhos claros?
— Não — Ele respondeu breve e claramente, com a voz amena
acompanhada de honestidade — Porque nenhuma delas é incrivelmente fofa como você.
A
declaração deixou o rosto da Rumi-chan ainda mais vermelhinho, e o “Príncipe
dos Doces” continuou seu pequeno discurso, sem deixar seu charme de lado:
— E aqui está a sua rosa — Ele a entregou sua arte em caramelo, com o olhar fincando
em minha amiga. Havia um ar diferente na maneira de ele agir... — Geralmente eu entrego
uma rosa alaranjada, a mais comum que tem, mas essa é pra você, Rumi-chan. Uma
vermelha, a do amor. Eu te amo.
— Hanabusa-kun, eu também te amo — E assim, ela o beijou
na boca, e todos ficamos espantados, com os olhares na direção deles. Era
difícil para a minha amiga se abrir sobre algo pessoal, sobre seus sentimentos.
Se ela o beijou é porque realmente sentiu necessidade de expressar tudo o que
havia guardado em seu coração nos últimos tempos.
— Parabéns ao casal — Eu e Kana-chan comemoramos
— Até que enfim você se declarou hein, Hanabusa? — Brincou Andou-kun — Todo mundo já sabia
que vocês tinham alguma coisa.
— Achei que a Kato ia ficar esperando infinitamente — Kashino o cutucou, mas
estava feliz por nossos amigos.
— Amor é amor, negócios a parte — Hanabusa-kun disse
— Gente, sem querer ser estraga-prazeres... — Andou-kun nos começou
— Agora que o casalzinho tá resolvido é melhor a gente
arrumar nossas coisas e nos apressarmos para ir à Itália — Makoto emendou,
finalizando a fala do amigo, como se lesse seus pensamentos.
— Claro! — Todos concordamos, e depois de longas horas de viagem,
finalmente chegamos ao nosso destino.
[...]
Ao
chegarmos na cidade de Veneza, fomos em direção ao enderenço da Pâtisserie da
Tennouji-san. Enquanto caminhávamos, avistei uma pessoa conhecida:
— Gente, aquela não é a...
— François — Completaram todos os meus companheiros
Ela
também pareceu perceber a nossa presença logo de cara, porque instantes depois
veio puxar conversa conosco:
— Olha se não é a Amano Ichigo sendo escoltada por seus três
Príncipes e suas amigas.
Pode
ser impressão minha, mas ela me olhou com uma expressão de quem está com
bastante raiva. Parecia que, três anos depois ela ainda guardava rancor por ter
perdido no Grand Prix para uma menina mais nova e com menos experiência técnica
do que ela, no caso eu.
Por
isso ela resolveu me tratar com esse sarcasmo todo na voz
Deixei
bem claro que eu não era uma frágil “princesa escoltada”, como ela sugeria que
eu fosse, e meus amigos completaram minha fala:
— A gente cuida dela porque gostamos da Ichigo-chan. — Andou-kun e
Hanabusa-kun lhe alertaram
— Você não deveria subestimá-la — Rumi-chan me defendeu.
— E você não é ninguém para falar sobre “ser escoltada”,
certo, François? — Kashino Makoto a enfrentou, seriamente, dando-lhe uma
indireta das grandes, ao se recordar de que o Time François era composto por
membros que o próprio Henri-sensei escoltou em diferentes campus europeus da
Academia St. Marie.
— O que faz aqui? — Eu lhe indaguei
— A minha loja é aqui na Itália, lugar de origem de uma das
minhas parceiras, Isabella Antoneti
— Está explicado — Kashino respondeu, fitando-a seriamente, sem entonação
alguma em sua voz. Este era um daqueles momentos em que Makoto estava
claramente desconfortável, porém tentava disfarçar através da indiferença. A
presença dela incomodava a todos, inclusive ele, que se recordava muito bem do
tipo de pessoa que ela era, tal como as outras três.
— Vejo que não é a única Princesa por aqui, Amano-san — Ela insinuou com
aquele jeito presunçoso e que eu não gosto nem um pouco, olhando primeiramente
a mim, e depois virando-se a Teenouji-san. O comentário obviamente era uma
indireta a ela, em referência ao apelido de “Princesa Mari”.
A
loira se manteve calada e com o rosto rígido, típico da Tennouji-san que
conheço desde sempre. Honey, sua Espírito dos Doces, a acompanhava com classe,
igualmente séria e silenciosa.
Ambas
sabiam que o comportamento da francesa demonstrava que aquela conversa seria
bastante intencional (como já estava sendo) e amarga, afinal, François
naturalmente tem em si um ar de “poucas amigas”, pois sempre quer estar no topo
— Está desacompanhada, hoje, Tennouji Mari? — Ela indagou,
pronunciando o nome da minha senpai no mesmo tom arrogante de antes. A mesma
coisa que Koshiro-san faz comigo, com a diferença de que eu e a Ojou já tivemos
bons momentos também, mas o clima entre a Tennouji-san e François era de pura
rivalidade.
— Acabei de retornar à Itália — Disse ela, indiferente e serena. A distância proferida em
suas palavras era para disfarçar o desconforto.
— Bem-vinda de volta — François falou, fingindo simpatia à minha colega, a qual
agradeceu sem emoção nenhuma na voz, e continuou com o rosto inerte, enquanto
outra apenas deu um sorriso forçado sem acrescentar mais nada, por um instante.
— Eu não perderei —
Tennouji-san lançou um olhar intensamente
sério a ela, certeza de sua posição. Querendo ou não, a perspicaz pâtisserie já
sabia o que lhe esperava; teria que enfrentar o Time François uma vez mais,
deixando-a tensa só de pensar!
Mesmo
após três anos, ter perdido para o Time François ainda mexia muito com ela,
ainda que não comentasse
— Veremos — A pretenciosa desafiou, prestes a ir embora, mas Kashino a
deteve, chamando-lhe a atenção:
— Se eu fosse você não ficaria tão confiante
— Por que diz isso? — Ela indaga, colocando seus finos cabelos louro-escuros
para trás, como se não estivesse nem aí.
Kashino
colocou a mão no bolso, sinal de que estava tentando conter sua raiva. Quis
defender a ele e a Tennouji-san, principalmente. Respirei fundo e lhe informei:
— Estamos aqui para ajudá-la
— Precisa de ajuda? — A francesa se dirigiu a Tennouji, se expressando da mesma
forma de antes
— Ela já é incrível, viemos só acrescentar — A defendi
Tennouji-senpai
lançou-me um olhar de gratidão, que retribui do mesmo modo, e com um sorriso
pleno, por poder apoiá-la.
— Não teria tanta certeza, depois do que aconteceu daquela
vez. Não vá repetir o fracasso do Cake Grand Prix em suas vendas, Tennouji Mari
Aquilo
a deixou incomodada, e não conseguiu mais esconder a indignação de estar
ouvindo o que ela menos queria. Não deu bola, e apenas a ignorou, impassível.
Testemunhando
os sentimentos de nossa companheira, todo o Time Ichigo, não deixou barato:
— A loja da Tennouji-san faz muito sucesso, se quer saber! — Rumi-chan a enfrentou — Tem os melhores doces,
feitos com muito talento e amor, sem falar que as pessoas que trabalham com ela
também são igualmente competentes e simpáticas
— Verdade — Concordou a Kana-chan, dócil, lembrando de nossos amigos.
— Ricky e Lemon-chan atraem muitos clientes — Rumi-chan completou,
na expectativa de enaltecer ainda mais o trabalho deles, mas a outra não perdeu
tempo para deturpar e se achar a última bolacha do pacote e colocar mais lenha
na fogueira:
— Ah, contrataram um cara atraente para atrair clientela,
foi? Que coisa, ainda bem que não preciso de nada disso, sou naturalmente
esbelta e bela. Nem mesmo Henri-sensei resistiu ao meu charme.
“Nem mesmo Henri-sensei resistiu ao meu
charme”. Aquela foi a gota d’água para
Tennouji-san perder a calma:
— Não fale assim do Henri-sensei, como se ele fosse qualquer
um! — Ela
estava visivelmente nervosa e defendendo a integridade e caráter de nosso
professor.
—
Como sabe? Até ficamos juntos... — François provocou,
querendo jogar verde, e testar a rival da pior forma. Vou te contar, viu? Essa
daqui tá bem pior do que a Koshiro-san! – Nunca pensei que diria isso, mas para
tudo tem uma primeira vez –
— Aquilo foi tudo encenação! — Tennouji-san protestou, a ponto de deixar uma lágrima
cair, de tão frustrada. Eu concordei com sua posição, para enfatizar à François
que Tennouji Mari não estava e nem nunca estaria sozinha.
— Para te testar, porque você é uma fracote. — Comentou com desprezo
— Ela não é fraca, é uma das pessoas mais fortes e amáveis que
eu conheço — Rapidamente tomei a palavra. Detestava ver algum amigo meu
triste ou injustiçado e compadecia da situação da Tennouji-senpai, que um dia
foi Presidente do Conselho Estudantil, de onde começou a minha admiração por
ela, que perdura até hoje.
— A Ichigo-chan está coberta de razão — Kana-chan opinou,
impressionando a todos. Ela era a mais paciente entre todos nós, mas naquele
momento, até mesmo aquele anjo em forma de gente havia sido tomado pelo
nervosismo. — A senpai tem coração, sabia? De que adianta você ser tão
bela por fora, se suas atitudes nos mostram o contrário? Como você pode magoar a
Tennouji-san dessa maneira? — Kana-chan deixou se levar pelas emoções e uma lágrima
intensamente silenciosa escorreu de seu rosto.
Senti
meu coração aos pedaços, ao ver o estado da Kana-chan, e ao imaginar o quão
triste devia estar Tennouji-san, que se mantinha firme, mas possuía uma extrema
sensibilidade dentro de si.
Andou-kun
apoiava sua mão direita no ombro da amada, para a mesma se acalmar, e deu certo.
Minha amiga já se via mais tranquila, e emitiu um frágil e tímido sorriso ao
namorado, agradecida
Aproveitando
a deixa, Hanabusa-kun contrariou a francesa também:
— Você se gaba de ter derrotado a Tennouji-senpai, mas
perdeu para uma bem mais nova — Ele alegou, mostrando um sorriso travesso em seu rosto
branquelo, e piscou para mim, com cumplicidade. Sabia que ele acreditava muito
em meu potencial e lhe sorri timidamente, em sinal de gratidão, capitando a
mensagem.
François
pareceu envergonhada pela primeira vez em minutos, com o rosto enrubescendo
levemente, querendo disfarçar o fato.
— A quem você considerou ser apenas uma criança, na época — Andou-kun piscou para
mim, com o mesmo propósito do amigo, e eu entendi de imediato
— Porque é isso que ela era! E ainda é! — François explodiu,
como prevíamos.
Só
não esperávamos que alguém tão sensível fosse depor ao meu favor:
— “Essa criança”, como você se refere, foi o meu motivo para
seguir em frente — Declarou Tennouji-san fazendo com que todos nós ficássemos
de boca aberta, eu principalmente. Nunca imaginei
que eu fosse tão importante a ela — Amano-san tem a sensibilidade de saber os gostos de cada
pessoa ao seu redor, e a determinação que se precisa para se tornar uma grande
profissional. Sempre a via correndo pela manhã, quando o sol ainda nem havia
aparecido, fazendo exercícios físicos, ou em outras vezes, praticava na cozinha.
Com
seus dizeres, passou-se flashbacks lúcidos em minha mente, de quando eu iniciei
na Academia St. Marie, e depois, dos dias de treinamento especial para o Cake
Grand Prix. Foram dias e noites de bastante dedicação, mas que eu faria tudo de
novo, se fosse necessário.
Ela
deu uma pausa, e então, prosseguiu sua fala:
— Vê-la praticar todos os dias, incansavelmente, me deu
forças para continuar fazendo o meu melhor. Eu sempre quis ter uma pessoa à
minha altura, e posso dizer que encontrei a melhor de todas.
— Eu estou a sua altura, Tennouji Mari. — François exibiu-se
—
Em termos de técnica sim, mas eu não
referia a isso — Ela contrapôs — Estar à minha altura quer dizer carregar consigo os mesmos
princípios que eu, que incluem almejar sempre mais alto e dar o melhor àqueles
que nos amam.
A
francesa calou-se sem ter como argumentar.
— Tennouji-san... — Pronunciei o sobrenome dela maravilhada e emocionada,
incapaz de continuar a frase.
— Você brilha e faz os demais brilharem também, Amano-san.
Continue assim.
— Continuarei — Lhe garanti, com afinco e não pude evitar chorar.
François
apenas nos observava fixamente, quieta, mas dava para perceber que não queria
se dar por vencida, e ficou nos encarando, enquanto meus amigos continuavam
minha defesa, me fazendo sentir honrada e amada
—
Ganhamos de você na competição porque a
Amano-san colocou todo o sentimento, as lembranças e o amor dela na torta de
morango — Andou-kun expôs
— Enquanto você estava muito satisfeita com a sua “sobremesa
perfeita” — Kashino a provocou, falando duras verdades do jeito que só
ele sabia colocar as palavras — Não se lembra do que Henri sensei lhe disse no julgamento
final?
Ela
negou com a cabeça.
— “Você estava tão satisfeita (...) que não criou nada novo.
Isso é devido à sua arrogância” — Ele reproduziu as palavras do nosso então juiz do Cake
Grand Prix, e completou: — Mas parece que você ainda não aprendeu com seus erros, a
julgar pelo seu comportamento lamentável.
A
dita cuja enrubesceu, mas deu a última das suas antes de “se mandar”, a passos
largos e ligeiros, sem perder a postura de madame... ops, mademoiselle.
— Pelo menos a minha receita está no livro da Corte Real do
Mundo dos Doces
— A receita da Ichigo também vai ser aprovada pela Corte um
dia —
Makoto disse, para me proteger, mas àquela altura, eu não fazia ideia do quanto
ele estaria certo.
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