POV especial:
Kashino Miyabi
Como a Amano Ichigo disse antes, eu estava desesperada. Puxei o
meu irmão para fora da loja deles e lhe disse, categoricamente, tentando manter
a calma:
— O assunto é urgente. Você foi descoberto.
Essa frase com certeza deixou o meu irmão super abalado, já que ele não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo.
Óbvio que ele me pediu para contar-lhe tudo logo, e
foi exatamente o que eu fiz:
— Preste atenção porque só vou lhe falar uma vez essa história — eu lhe disse — Tudo começou com um telefonema do nosso pai.
Logo que falei a
expressão “nosso pai”, meu irmão congelou, ele sempre detestou o velho... Ops,
o pai.
Enfim, vamos ao que interessa...
24 horas antes (...)
À noite, nossa mãe já havia chegado mais cedo em casa, aqui em
Londres. Ela recebeu uma ligação internacional repentina de nosso pai que ainda
estava no Hospital Geral Kashino, no Japão, fazendo plantões e cobrindo uns
tios nossos que tiveram que sair mais cedo.
Acontece que na hora do seu “intervalo” ele milagrosamente ligou
para o número da nossa mãe perguntando de mim.
Para a sorte ou azar do meu irmão, naquela noite eu não havia
voltado ao meu apartamento, e sim ao da minha mãe. Quando cheguei, a conversa
já havia se iniciado
— E a Miyabi, como está? Você sabe que ela precisa vir trabalhar
aqui logo!
— Eu sei, mas ela está estagiando aqui no exterior, lembra?
Londres é um dos melhores lugares para ter experiência na área médica
— Eu sei, mas ela precisa voltar logo — ele a cobrou insistente.
Ela concordou, e logo, nosso pai perguntou de meu irmão (Kashino Makoto: Ah,
agora ele lembra que eu existo. Depois de meses no exterior!). Nessa hora,
tentei salvar sua pele, então fui eu que atendi ao meu pai
— Aqui é a Miyabi. O Makoto está bem, não se preocupe
— Ele está fora tempo demais para quem disse que estaria na casa
de um amigo. Ao menos, foi isso que você me disse da última vez, Miyabi — a voz
dele era crítica
— É uma viagem de intercâmbio — eu tentei dar uma desculpa, mas
meu pai estava desconfiado. Eu já tinha algo em mente, mas a minha mãe tomou o
telefone da minha mão e decidiu revelar que nós dois estamos Londres. Ele ficou
uma fera, pediu explicação e ela abriu o jogo, sem escolha nenhuma.
Tempo presente...
(...) — Então agora que ele sabe que você está trabalhando de
pâtissier em Londres, ele quer que você volte para o Japão imediatamente. Óbvio
que ele é totalmente contra a você se tornar um pâtissier. Ele ainda acredita
que só teremos futuro se nos tornarmos médicos, e acha que você é um
rebelde sem causa.
— Como é que é? — Makoto estava pasmado e morrendo de raiva do
nosso pai
— Sim, você não tem escolha, Makoto, desculpe. Você vai ter que
voltar ao Japão agora mesmo
— A culpa não é sua, Nee-san — ele me disse, ainda frustrado — É
esse velho!
— É sim — a minha expressão também era de desapontamento — Mas e
então, o que você vai fazer?
— Vou deixar Londres. Eu falo que tive problemas familiares
Não o questionei, era o melhor a se fazer. E assim se fez, ele
avisou os amigos que partiria, mas tinha um pequeno problema. Ele não queria
deixar Amano Ichigo. Assim, depois de muita conversa, decidi que pagaria uma
passagem para ela também. A viagem foi longa até que chegamos ao nosso destino.
Levamos a garota para sua casa antes de voltar a nossa. Tanto ela quanto meu
irmão tinham olhares tristes
Tokyo, Japão — Mansão da Família Kashino
Quando chegamos em casa, nosso pai exclamou:
— Finalmente chegaram. Demorou mais do que o esperado
— Ocorreram imprevistos. — eu lhe disse, e ele nos fitou
— Então, Makoto, vai começar a explicar ou não? — Ele vociferou
— Explicar o quê? — Ele o encarou — Que eu estava em Londres
esse tempo todo? Está bem, eu abri o meu próprio negócio com alguns amigos,
e é um dos maiores sucessos de Londres. O que mais quer saber? Eu sempre fiquei
no topo e dou o meu melhor. Quer mais o que?
— Não seja tolo. Acha que estou feliz com isso? — O velho não
dava crédito nenhum ao meu irmão mais novo
— Já era de se esperar da tua parte — ele não tinha humor nenhum
na fala, mas no fundo estava bem decepcionado
— E que história é essa de “amigos”?
Pode acreditar: “amizade” não
existe no vocabulário do meu pai
— Eu tenho amigos sim. Eu fiz amizades, se não sabe — Makoto já
estava alterado
— Ah, por falar em não saber, garoto, acha que não sei do
seu “caso” com
a tua “amiga”?
— A voz do meu pai era cheia de ironia
— Não mete ela nos problemas da família! — Meu irmão gritou de
tanta frustração. Nem eu imaginava que nosso pai chegaria a tanto. Aquilo
estava indo longe demais. Mesmo assim, decidi esperar a hora certa para eu
encará-lo, de pai para filha.
— Mas ela
é um problema para a família! — meu pai alega,
sarcasticamente
— Ela não é! Não é o que está pensando! — Meu irmão alegou, mas
nosso pai nem deu ouvidos às suas palavras.
— Ela é uma pâtisserie, e é pobre ainda por cima. Que tipo de
garota você foi arrumar?
— Pouco me importa o que você pensa sobre ela. Eu vou
ficar com ela sim! — Ele estava determinado.
— Vai sonhando, garoto! De duas, uma: Ou você fica com a pobre
da menina que você chama de “namorada” e faz medicina, ou você desiste dela e
segue esse seu sonho idiota de se tornar um pâtissier. Você escolhe — ele falou
categórico e ainda disse a última frase com um tom debochado.
Como se Makoto nunca fosse conseguir nada. Ah, tá!
— Eu vou conseguir os dois, você vai ver — ele ameaçou nosso
pai, que não teve praticamente reação nenhuma e só disse uma última frase:
— O recado está dado, você decide — e se foi
Após nosso pai sair, pela primeira vez em muitos anos, eu vi meu
irmão chorar. Aquele “momento entre irmãos” era como nos velhos tempos, em
nossa infância, quando eu tinha que consolar “meu irmão chorão”, mas com uma
pequena diferença: agora não era mais porque não víamos nossos pais, mas porque
nosso pai nem dava valor aos filhos que tem, e isso é um motivo bem pior do que
“apenas” a ausência.
— Eu não quero desistir de nada, de ninguém. Não vou desistir —
ele dizia determinado, com a frustração na voz
— Calma, Makoto, nós vamos dar um jeito. Sempre demos
Ele ficou mais calmo, calado, mas ainda incrédulo
— Confia em mim certo? — Pisquei, e ele conseguiu esboçar um
sorriso, muito fracamente, em resposta à minha pergunta
— Então, ok. Deixe comigo, eu vou falar com o velho. E tem mais
uma coisa, Makoto
— Do que, exatamente você está falando Nee-san? — Ele estava
curioso e com os olhos muito arregalados, após ouvir minhas últimas palavras.
— Eu tenho um plano — lhe revelei, com um sorriso malicioso, como quem já está planejando o que fazer a seguir, e ele sorriu da mesma forma, agora com um pouco mais de ânimo que antes (ainda que continuasse decepcionado), olhando-me com interesse.
Agora só faltava uma peça chave, a quem eu ligaria mais tarde.
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