segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

[Novos Começos] Capítulo 22 - Uma notícia meramente amarga (e meu pai mais ainda)

 

POV especial: Kashino Miyabi


Como a Amano Ichigo disse antes, eu estava desesperada. Puxei o meu irmão para fora da loja deles e lhe disse, categoricamente, tentando manter a calma:

— O assunto é urgente. Você foi descoberto. 

Essa frase com certeza deixou o meu irmão super abalado, já que ele não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo. 

Óbvio que ele me pediu para contar-lhe tudo logo, e foi exatamente o que eu fiz:

— Preste atenção porque só vou lhe falar uma vez essa história — eu lhe disse — Tudo começou com um telefonema do nosso pai. 

Logo que falei a expressão “nosso pai”, meu irmão congelou, ele sempre detestou o velho... Ops, o pai.

Enfim, vamos ao que interessa...

 

24 horas antes (...)

À noite, nossa mãe já havia chegado mais cedo em casa, aqui em Londres. Ela recebeu uma ligação internacional repentina de nosso pai que ainda estava no Hospital Geral Kashino, no Japão, fazendo plantões e cobrindo uns tios nossos que tiveram que sair mais cedo.

Acontece que na hora do seu “intervalo” ele milagrosamente ligou para o número da nossa mãe perguntando de mim.

Para a sorte ou azar do meu irmão, naquela noite eu não havia voltado ao meu apartamento, e sim ao da minha mãe. Quando cheguei, a conversa já havia se iniciado

— E a Miyabi, como está? Você sabe que ela precisa vir trabalhar aqui logo!

— Eu sei, mas ela está estagiando aqui no exterior, lembra? Londres é um dos melhores lugares para ter experiência na área médica

— Eu sei, mas ela precisa voltar logo — ele a cobrou insistente.

Ela concordou, e logo, nosso pai perguntou de meu irmão (Kashino Makoto: Ah, agora ele lembra que eu existo. Depois de meses no exterior!). Nessa hora, tentei salvar sua pele, então fui eu que atendi ao meu pai

— Aqui é a Miyabi. O Makoto está bem, não se preocupe

— Ele está fora tempo demais para quem disse que estaria na casa de um amigo. Ao menos, foi isso que você me disse da última vez, Miyabi — a voz dele era crítica

— É uma viagem de intercâmbio — eu tentei dar uma desculpa, mas meu pai estava desconfiado. Eu já tinha algo em mente, mas a minha mãe tomou o telefone da minha mão e decidiu revelar que nós dois estamos Londres. Ele ficou uma fera, pediu explicação e ela abriu o jogo, sem escolha nenhuma.

 

Tempo presente...

(...) — Então agora que ele sabe que você está trabalhando de pâtissier em Londres, ele quer que você volte para o Japão imediatamente. Óbvio que ele é totalmente contra a você se tornar um pâtissier. Ele ainda acredita que só teremos futuro se nos tornarmos médicos, e acha que você é um rebelde sem causa.

— Como é que é? — Makoto estava pasmado e morrendo de raiva do nosso pai

— Sim, você não tem escolha, Makoto, desculpe. Você vai ter que voltar ao Japão agora mesmo

— A culpa não é sua, Nee-san — ele me disse, ainda frustrado — É esse velho!

— É sim — a minha expressão também era de desapontamento — Mas e então, o que você vai fazer?

— Vou deixar Londres. Eu falo que tive problemas familiares

Não o questionei, era o melhor a se fazer. E assim se fez, ele avisou os amigos que partiria, mas tinha um pequeno problema. Ele não queria deixar Amano Ichigo. Assim, depois de muita conversa, decidi que pagaria uma passagem para ela também. A viagem foi longa até que chegamos ao nosso destino. Levamos a garota para sua casa antes de voltar a nossa. Tanto ela quanto meu irmão tinham olhares tristes

 

Tokyo, Japão — Mansão da Família Kashino

Quando chegamos em casa, nosso pai exclamou:

— Finalmente chegaram. Demorou mais do que o esperado

— Ocorreram imprevistos. — eu lhe disse, e ele nos fitou

— Então, Makoto, vai começar a explicar ou não? — Ele vociferou

— Explicar o quê? — Ele o encarou — Que eu estava em Londres esse tempo todo? Está bem, eu abri o meu próprio negócio com alguns amigos, e é um dos maiores sucessos de Londres. O que mais quer saber? Eu sempre fiquei no topo e dou o meu melhor. Quer mais o que?

— Não seja tolo. Acha que estou feliz com isso? — O velho não dava crédito nenhum ao meu irmão mais novo

 

— Já era de se esperar da tua parte — ele não tinha humor nenhum na fala, mas no fundo estava bem decepcionado

— E que história é essa de “amigos”?

Pode acreditar: “amizade” não existe no vocabulário do meu pai

— Eu tenho amigos sim. Eu fiz amizades, se não sabe — Makoto já estava alterado

— Ah, por falar em não saber, garoto, acha que não sei do seu “caso” com a tua “amiga”? — A voz do meu pai era cheia de ironia

— Não mete ela nos problemas da família! — Meu irmão gritou de tanta frustração. Nem eu imaginava que nosso pai chegaria a tanto. Aquilo estava indo longe demais. Mesmo assim, decidi esperar a hora certa para eu encará-lo, de pai para filha.

— Mas ela é um problema para a família! — meu pai alega, sarcasticamente

— Ela não é! Não é o que está pensando! — Meu irmão alegou, mas nosso pai nem deu ouvidos às suas palavras.

— Ela é uma pâtisserie, e é pobre ainda por cima. Que tipo de garota você foi arrumar?

 — Pouco me importa o que você pensa sobre ela. Eu vou ficar com ela sim! — Ele estava determinado.

— Vai sonhando, garoto! De duas, uma: Ou você fica com a pobre da menina que você chama de “namorada” e faz medicina, ou você desiste dela e segue esse seu sonho idiota de se tornar um pâtissier. Você escolhe — ele falou categórico e ainda disse a última frase com um tom debochado.

Como se Makoto nunca fosse conseguir nada. Ah, tá!

— Eu vou conseguir os dois, você vai ver — ele ameaçou nosso pai, que não teve praticamente reação nenhuma e só disse uma última frase:

— O recado está dado, você decide — e se foi

Após nosso pai sair, pela primeira vez em muitos anos, eu vi meu irmão chorar. Aquele “momento entre irmãos” era como nos velhos tempos, em nossa infância, quando eu tinha que consolar “meu irmão chorão”, mas com uma pequena diferença: agora não era mais porque não víamos nossos pais, mas porque nosso pai nem dava valor aos filhos que tem, e isso é um motivo bem pior do que “apenas” a ausência.

— Eu não quero desistir de nada, de ninguém. Não vou desistir — ele dizia determinado, com a frustração na voz

— Calma, Makoto, nós vamos dar um jeito. Sempre demos

Ele ficou mais calmo, calado, mas ainda incrédulo

— Confia em mim certo? — Pisquei, e ele conseguiu esboçar um sorriso, muito fracamente, em resposta à minha pergunta

— Então, ok. Deixe comigo, eu vou falar com o velho. E tem mais uma coisa, Makoto

— Do que, exatamente você está falando Nee-san? — Ele estava curioso e com os olhos muito arregalados, após ouvir minhas últimas palavras.

— Eu tenho um plano — lhe revelei, com um sorriso malicioso, como quem já está planejando o que fazer a seguir, e ele sorriu da mesma forma, agora com um pouco mais de ânimo que antes (ainda que continuasse decepcionado), olhando-me com interesse. 

Agora só faltava uma peça chave, a quem eu ligaria mais tarde.

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