Asahina Azusa
Meu irmão está confiante
demais para o meu gosto. Eu sei que Natsume e os demais me conhecem como
realmente sou, e por isso, compreendo que estivessem espantados por eu ter sido
tão convicto quando disse que faria “quatro pontos”, sem o mínimo de hesitação
transparecendo em minha voz.
Na maior parte do tempo, eu
sou tranquilo e calmo, como já é de conhecimento de todos desta Família e dos
amigos que convivem comigo. Entretanto, cada ser humano que se preze, possui
“sua personalidade escondida” e sua “face oculta” dentro de si, e quando o
assunto é Hinata Ema, o meu lado mais viril se manifesta com mais facilidade.
Quero que ela me veja como um homem, e não somente como seu “querido irmão mais
velho”, e não medirei esforços para isso.
Depois da discussão, Subaru se
retirou e seguiu em direção ao seu quarto, deixando nós três naquela sala
espaçosa. Aproveitei a deixa para continuar a “conversa civilizada” com meus
gêmeos.
― Natsume, Tsubaki ― Comecei
pronunciando seus nomes ternamente ― Se preparem. Vocês são meus melhores
amigos e companheiros. Só que agora o clima muda de figura. Por causa da Ema, e
para ter a Ema
― Digo o mesmo a vocês. Ela
será minha! ― Tsubaki se pronuncia, resoluto de sua opinião. Francamente, eu já
esperava isso dele. Há um tempo que eu notei que o sentimento que ele tem pela
garota é o mesmo que o meu.
― Não a tratem assim! A Ema
não é um prêmio! ― Natsume exclamou, notoriamente perturbado com os nossos
dizeres. ― Estamos falando de uma pessoa, e não de uma bola de basquete no meio
da quadra! ― Ele gritou, indignado ― Eu sei, e não é de hoje que uma parte de
sua personalidade tem essa característica preocupada, protetora e fraternal.
Ele sempre foi assim conosco, e com as pessoas próximas a ele, porém nunca
havia presenciado aquele seu estado transtornado e atordoado por conta de uma
garota. Nunca, mesmo. Claro, ele já teve suas paixões, e demonstrava compaixão
pelas meninas com quem teve alguns encontros e relações, no entanto, ele sempre
escondida suas perturbações emocionais das demais pessoas, até mesmo de nós, os
gêmeos. Ema foi a primeira a mexer com ele de maneira intensa, de um jeito
diferente de todas as suas experiências anteriores, concedendo-lhe esse
sentimento de que realmente precisava defendê-la com palavras demonstrando suas
emoções, as quais estavam à flor da pele.
― Vejo que tem fortes
sentimentos por ela ― Comento, com a feição impassível
― Eu não vou desistir dela! ―
Ele continua determinado a conseguir o que quer. Se tínhamos uma característica
em comum, é de que nós somos muito persistentes em relação ao que desejamos.
― Nós também não ― Eu e
Tsubaki dissemos em uníssono. Natsume, por sua vez, continuava com sua
expressão apática e nos respondeu, solidamente:
― Que ótimo. Não vou deixar
que ninguém a tome de mim.
A verdade é que por mais que
Natsume dissesse que aquilo não era uma competição e que ele realmente
estivesse certo – eu não nego a sua razão – era impossível para mim não pensar
naquela situação daquela forma. Querendo ou não, estávamos todos disputando
pelo seu coração. E eu precisava de um plano para acercar-me dela urgentemente,
o quanto antes melhor. A solução seria chamá-la para sair comigo, e estou
decidido a fazê-lo amanhã de manhã, assim que o sol surgir por aqui de novo,
irradiando pelas nossas janelas dos quartos.
O “Conflito do Amor” estava
tomando sua forma, e a tendência era se intensificar. E, chegar ao objetivo
seria mais complicado do que inicialmente imaginávamos.
No dia seguinte, durante o
café da manhã em família, evitamos olhar uns aos outros, fato que Ema percebeu
prontamente. Ela é ingênua, no entanto, extremamente sagaz para se dar conta de
que algo está errado, em virtude de sua sensibilidade.
A primeira coisa que ela nos
perguntou foi:
― Aconteceu alguma coisa,
pessoal? ― Ela fita a nós três, de maneira carinhosa
― Não ― Eu, Natsume e Tsubaki
lhe dissemos com naturalidade e firmeza. Para o nosso azar, Subaru estava
cabisbaixo, o que fez a garota proferir:
― Parece que por aqui
aconteceu algo.... ― Ela analisou, olhando seriamente para Subaru, que a
acalmou no mesmo instante:
― Eu só estou cansado ― Disse,
fazendo carinho na bochecha direita de Ema, e em seguida, em seus fios
castanhos claros.
“Argh!
Que pressa toda é essa?” Sutilmente, ele já
havia começado a mostrar suas cartas. Aproximar-se da Ema parecia bem mais
simples para ele, apalpando-a sem dizer nada que a preocupasse. O detalhe, é
que isso é válido para nós também.
Somos irmãos dela, e a
vantagem que podemos tirar disso é que ela está sob o mesmo teto que a gente,
de modo que podemos conviver com ela diariamente
“Bom, menos mal que ela não
desconfiou de nada, e pareceu acreditar nas palavras do Subaru”. Estamos salvos,
pelo menos por enquanto. Ah, calma aí: nem tudo está a salvo quando se tem um
irmão mais novo intrometido na mesma mesa de café da manhã que eu, conhecido
como Asahina Fuuto
― Tem algo suspeito
acontecendo nessa casa.... ― Ele piscou de um jeito provocativo, que nos fez
arquear as sobrancelhas.
― Cale a boca, Fuuto! ―
Ordenei, atraindo os olhares dos demais, que sabiam que eu só gritava em casos
extremos. A pessoa tinha que me tirar muito do sério para eu perder a calma, e
considerando o meu estado de espírito e de humor por conta das últimas
revelações que obtive na noite passada, aquele comentário foi a gota d’água
para me fazer explodir às 8 horas da manhã em ponto.
― Fuuto, sempre colocando
lenha na fogueira ― Hikaru nii-san comentou,
descontraído. De início, a intenção era acalmar os meus nervos, mas suas
palavras só serviram para gerar dúvida, no pequenino, que perguntou, meio
desesperado e sem entender nada:
― Lenha? Onde? ― Wataru
questiona, com a ingenuidade de uma criança da idade dele. Não conseguimos nos
segurar, e rimos daquilo. O que mais me agradava em ter uma criança na família
era que ele conseguia nos alegrar e esquecer de nossos problemas.
― Esquece. É só uma provocação
do Fuuto ― Masaomi nii-san lhe informou, com a voz macia, e imediatamente,
nosso caçula resolveu deixar o assunto para lá, espontaneamente.
― Wataru, por que você não vai
brincar lá fora? Está um dia lindo! ― Ukyou nii-san sugeriu a ele, que já
estava satisfeito e bem alimentado. Acho ele já havia percebido que nós escondíamos
algo importante e que, obviamente, um garoto do Ensino Fundamental jamais
entenderia, e devido a isso, faz aquela proposta, com segundas intenções. São
nesses momentos que eu agradeço por ter um irmão mais velho advogado, sensato e
observador. Ele nunca deixa nada passar.
“Salvos pelo gongo”, pensei
“Ou quase”
― Mas eu quero alguém para
brincar comigo! ― Wataru reclamou, e não tiro sua razão. É entediante ficar
sozinho, eu sei disso. Daí, propus ao pequeno:
― Por que você não pede para o
Iori, o Yuusuke e o Fuuto te fazerem companhia? ― Eu pisquei gentilmente, e ele
comemorou:
― Eba!!
Da parte dos convocados,
houveram reações diferentes: Iori com aquela personalidade serena dele, topou
na hora, puxando o menor para fora do local. Yuusuke e Fuuto ficaram de cara
fechada por ter que ficarem de “babá” do caçula, sem mencionar que eles não se
dão muito bem, e ficar no mesmo lugar fazendo algo a contragosto, era como
receberem uma sentença de morte. No entanto, Kyo-nii era persuasivo, tanto em
palavras quanto em suas expressões faciais. O rosto dele então tornou-se
rígido, e seu olhar sério lhes transmitiu uma mensagem subliminar que
transmitia algo do tipo: “Ou vocês vão AGORA para o quintal, ou vai sobrar para
vocês mais tarde” Dessa forma, convencidos de que não havia escapatória, ambos
se renderam ao meu pedido, sem dizer uma palavra.
Com a mesa mais tranquila,
depois de bebericar mais um gole de minha segunda xícara de chá, eu começo a
dizer, com olhar suave preso na figura feminina da família:
― Ema você... ― Eu iniciei a
fala, mas travei.
― Eu...? ― Ela perguntou,
apontando para si mesma, à espera de uma continuação da minha frase.
Eu ia dizer “você quer sair
comigo”, e bem quando eu tomei coragem para fazer-lhe a proposta, meu gêmeo
indaga ao mesmo tempo:
― Quer sair comigo, hoje, Ema?
Olho para ele, e digo, com
afinco:
― Desculpe, mas hoje ela vai sair comigo
― Eu quero acompanhá-la hoje ―
Tsubaki insiste em sua ideia
“Ah, pronto!”, acabou a minha
paz. Vou ter que discutir com meu irmão logo cedo
― Por que vocês não tiram no
pedra-papel-tesoura? ― Kana-nii nos sugere, com o seu jeito “Kaname” de ser, e
todos nós reviramos os olhos para ele, como se disséssemos: “Você não tinha
nenhuma outra opção melhor para nos dar do que isso aí?”
― Isso quem decide é ela! ― A
estrondosa voz do Natsume exclamou, e Ema sorriu levemente em sua direção. Que
inveja, queria ter sido eu o felizardo em receber um sorriso tímido e fofo como
aquele de segundos atrás. Felizmente, ela sorriu em direção a nós três quando
indagou:
― Por que não vamos todo mundo
em um lugar especial?
― Todo mundo QUEM? ― Eu e
Tsubaki perguntamos, pasmados. Natsume se manteve calado, no entanto, dava para
ver que estava tenso. Conhecer uma pessoa dá nisso: você conhece suas fraquezas
de longe, até quando a pessoa tenta disfarçar. Eu não queria que ela dissesse
algo como: “Ah, vamos a família inteira”, já que o meu objetivo era passar uma
tarde com ela. Aparentemente, Tsubaki se sentia da mesma forma, pois se
entreolhou rapidamente comigo e mordiscou seu lábio inferior, algo que costuma
fazer sempre está nervoso. Para o nosso alívio, ela respondeu:
― Eu e vocês três ― Ela
apontou para mim, seguido de Tsubaki e por último, Natsume, que trocou um olhar
silencioso com ela, provavelmente por estar impressionado com a proposta
repentina da Ema. Ele tentava esconder suas emoções só para manter sua pose
costumeira de “durão”, mas, na verdade, estava bem mais inquieto por dentro do
que nós. A resposta da Ema parecia ser o que ele mais queria saber, tal como
nós dois, ao seu lado.
― Onde você pretende nos
levar? ― Inquiri, interessado
― No “Tokyo Summerland”, um
parque aquático aqui da cidade. Podíamos aproveitar juntos.
― Gostei ― Respondi a ela,
satisfeito. Era um programa perfeito para essas férias de verão que haviam
acabado de chegar e uma forma de ela relaxar depois de se esforçar tanto para
passar no exame de admissão da Universidade.
Quando que as coisas se
tranquilizariam, Tsubaki vem com uma de suas pérolas:
― Por que você escolheu ficar
com três pessoas na mesma tarde?
“Ah, Tsubaki, tinha que ser
você”, pensei comigo, mas deixei quieto. Sério, Tsubaki sempre precisa atiçar
alguém, não importa a situação, e se for delicada, com certeza ele irá se
manifestar. Só perde para o Fuuto que é o campeão em atormentar e provocar os
outros. Por isso, aqui vai um conselho, para você que está aí lendo essa
história: NUNCA, em hipótese alguma, junte esses dois, ou dará confusão na
certa!
Voltando ao que interessa, a
jovem à nossa frente se expressou da seguinte maneira:
― É que é mais divertido com
todos juntos! ― Ela disse, com um sorriso estampado em sua face branca,
igualmente à minha. ― E eu só saio com vocês com uma condição.
Nos impressionamos com a sua
atitude e a fitamos com intensidade. Calmamente eu lhe perguntei:
― E qual seria?
Ela devolveu no mesmo tom de
voz:
― Eu só saio com vocês, se o
Natsume-san for com a gente. ― Nesse momento, Natsume finalmente deixou suas
emoções explicitas, que arregalou os olhos, em virtude da “condição” inesperada
da garota.
“Ah, então é esse o real
motivo de ela chamar três pessoas em uma única tarde”, refleti, ligeiramente.
“Ela quer a companhia do Natsume”
Em seguida, a pergunta que
fazia alarde em minha mente era: “Por que o Natsume tem que ser tão melhor com
mulheres do que eu? O que ele tem que eu não tenho?”
Quanto à Ema, esta perguntou,
breve e amavelmente:
― Você aceita, Natsume-san?
― Claro ― Ele responde de
imediato, ainda um pouco impactado com aquilo. A menina realmente mexia com ele.
Já fazia algum tempo que eu não via aquela expressão no rosto dele.
― Certo. Então, nós vamos após
o almoço. Não é muito longe daqui de casa, então, por volta das 14 horas já
estaremos no parque, e poderemos aproveitar bastante até o fim da tarde ― Ela
diz, analítica, espontânea e sem parar, como se já tivesse programado tudo para
hoje, mesmo não sendo nada combinado. É apenas a gentileza dela falando mais
alto.
Todos concordamos com o
planejamento de Ema, contentes e ela avisa aos nossos irmãos mais velhos:
― Masaomi-san, Ukyou-san,
Kaname-san, Hikaru-san ― Ela pronuncia os nomes delicadamente, olhando para
cada um ― Não precisam se preocupar conosco, ficaremos bem. Aproveitem bastante
essa tarde, e os demais também
Os quatro olharam satisfeitos,
por escutarem palavras tão generosas desde cedo.
Mas, a seguir, quem nos surpreendeu
foi uma voz masculina, que não havia sido ouvida desde que o dia raiou.
― Já que é assim, também tenho
um convite ― Subaru anuncia. Ema congela e nós nos calamos, atentos a ele,
curiosos para saber o que sairá de sua boca:
― Amanhã terei um jogo-treino
na Universidade e gostaria muito que você fosse. Daqui a uma semana haverá o
acampamento esportivo, para o qual a minha equipe de basquete foi convidada,
com direito a um acompanhante, e me agradaria demais se você me acompanhasse
Aquilo literalmente não era só
UM pedido, mas dois. E ela não seria apenas uma mera convidada em seus eventos.
Subaru teria duas grandes oportunidades de ficar a sós com ela. Ah, mas ele vai
ver só! Eu também terei minha chance de ficar a sós com minha preciosa irmã mais
nova e fazê-la feliz, sem ninguém para nos interromper, e já sei como. Neste
dia, mostrarei que posso ser bem mais do que ela me considera. Enquanto o
momento certo não chega, aproveitarei a chance que tenho agora de sair e me
divertir com ela em um parque aquático, perto de nossa residência.
Parte 1 do plano – Completo: Hinata Ema está em minhas mãos, e é assim que eu espero
que continue.
Status do “Conflito do Amor”: Progredindo rápida e consideravelmente entre nós, os irmãos
Asahina. Em outras palavras: Tenho que ficar esperto, para que tudo ocorra como
planejei.
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