Poesia
escrita por Osaki Sayaka
Publicado
originalmente em: World Without Borders (Edição de março de 2012)
Animal
barulhento
Nota
da Autora
A
Linguagem é o primeiro desastre que a humanidade experimenta. A linguagem é a
violência que, nós, como pessoas continuamos a experimentar todos os dias. Nós
experimentamos este desastre e, ainda bebês, começamos a falar, incapazes de
ficarmos quietos. Eles reproduzem as palavras de alguém justamente como elas
são, reproduzindo da forma da experiência de alguém com o desastre. Como
resultado, eu não sei onde “este desastre” se inicia, e nem onde ele termina.
Animal
barulhento
Não
acredito em palavras.
Não
acredito em “céu azul”
Não
acredito em “Terra Brilhante”
Não
acredito na “luz da esperança”
Eu
sou um animal barulhento.
Eu
sou um animal que caminha prestes a falar interminavelmente
Eu
não sou capaz de falar apenas sobre o que eu tenho visto
Você
não é capaz de falar apenas sobre o que você tem visto.
Palavras
mentem, e palavras tendem a alucinar.
Palavras
tendem a ir em direção à covardia.
Palavras
são apenas ideias, grandiosas, entretanto incapazes de fazer algo.
Palavras
não possuem nenhum poder.
Palavras
não podem fazer uma única coisa.
É
por isso que eu não acredito em palavras
Animais
barulhentos podem ver a separação da Pangeia há duzentos milhões de anos atrás
Animais
barulhentos podem ver as fracas chamas em uma caverna birmanesa há dez mil anos
atrás.
Animais
barulhentos podem ver as sujeiras os rios sobre toda a Edo há quatrocentos anos
atrás.
Animais
barulhentos podem ver o inconveniente amor de Sugiyama Chiyo há sessenta anos
atrás.
Animais
barulhentos podem ver os anjos de Klee por entre as nuvens sobre Tokyo.
Animais
barulhentos podem ver o Castelo de Kafka nos vales da Planície de Musashino.
Não
acredite em palavras.
Não
acredite nas palavras dos políticos.
Não
acredite na multidão de protestantes.
Não
acredite nas palavras dos doentes.
Não
acredite nas palavras de seus professores.
Não
acredite nas palavras das mulheres.
Não
acredite nas palavras dos guerreiros.
Não
acredite nas palavras das celebridades.
Não
acredite nas palavras dos trabalhadores.
Não
acredite nas minhas palavras.
Todos
no mundo têm sofrido o desastre.
Todos
no mundo têm contraído a enfermidade.
Todos
no mundo têm se adoecido com os sintomas.
Todos
no mundo têm sido infectados.
Não
acredite em palavras.
Animais
barulhentos estão espalhados por todas as cidades.
Nós
necessitamos de dinheiro para a moradia.
Nós
necessitamos de dinheiro para comer.
Nós
necessitamos de dinheiro para luz e calor.
Nós
precisamos de música.
Nós
precisamos pensar.
Nós
precisamos de palavras.
Sem
elas, nossos corpos se rompem.
E
nós adoecemos de febre.
Mas
não acredite na Medicina.
Não
acredite nos meios espirituais.
Não
acredite nos cantores.
Não
acredite no Capitalismo.
Não
acredite no Cristianismo.
Não
acredite nos cidadãos do mundo.
Não
acredite no amor e na coragem.
Não
tampe seus ouvidos
Eu
sou um animal barulhento.
Eu
sou um animal que se livrou do sotaque de sua cidade natal.
O
Mocha causa essa imensa dor!
Eu
sou um animal barulhento.
E
eu serei um animal barulhento até eu morrer.
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