Desde que eu li a sinopse deste drama, fiquei interessada por
se tratar de um tema diferenciado e delicado, que envolvem temas com os quais
podemos nos identificar, por ter em seu cenário principal, a família.
A roteirista deste drama é a mesma que adaptou Familiar Wife
/ Shitteru Wife, de forma que eu estava ansiosa para assistir outra obra dela,
também com temática familiar, só que com enfoque distinto; desta vez o foco
maior se dá pelos entes precisarem entender a protagonista Mokomi, inclusive
sua mãe Chikako (Tomita Yasuko), com quem parece ter maiores conflitos.
Shimizu Mokomi (Koshiba Fuka), aparentemente possui um
transtorno neurológico – mas posso estar errada –, no qual ela pode identificar
sentimentos de seres inanimados e até mesmo conversar com eles. Por conta dessa
“habilidade especial”, desde criança ela foi tida como “mentirosa” e
“estranha”, ou “aquela que fala coisas bizarras”, por ser colegas e até por sua
mãe, uma vez que ninguém acreditava que algo desse tipo pudesse realmente
existir – Chikako ainda não acredita, mesmo após uma década e meia.
Por conta dos acontecimentos, Mokomi parou de frequentar a
escola, se tornou alguém completamente fechada, sem interações sociais a não
ser sua própria família, motivo pelo qual a Sra. Shimizu teme que sua filha
volte a ser uma reclusa novamente, como aconteceu, no passado, depois de ouvir
que ela tirou folga do trabalho.
O que ela não sabe, é que a tristeza de Mokomi se deve às
palavras que ela lhe disse mais cedo: “não dê trabalho na fábrica”. Qualquer um
ficaria extremamente chateado se escutasse que você é um incômodo para os
outros, e que suas ações, por melhores que sejam as intenções, são
desnecessárias. Me identifiquei muito com o sentimento da protagonista, pois já
tive que lidar com situações parecidas, em que pessoas desinformadas a respeito
do meu quadro clínico, pensavam que eu incomodaria ou atrapalharia alguém. Em
virtude disso, eu aprendi a ficar sempre quieta no meu canto, para não dar
trabalho a ninguém. É completamente compreensível a atitude da protagonista,
pois, depois de tanto escutar comentários desagradáveis e ser desprezada, é
natural preferirmos nos fechar do que continuar ouvindo isto constantemente e
se machucar mais ainda por dentro, a cada dia. Assim, a maneira que encontramos
de nos proteger destas circunstâncias, é se isolar.
Podemos resumir este pensamento em um famoso ditado popular:
“melhor sozinho do que mal acompanhado”.
No caso da protagonista é ainda pior, uma vez que nem dentro
de casa ela consegue ter paz, já que sua mãe não a aceita como ela é,
enxergando a garota como alguém “anormal”, por não ter conhecimento suficiente
sobre o que se trata este distúrbio. Não é à toa que Mokomi preferiu passar o
dia do seu aniversário inteiro trancada em seu quarto: era uma maneira de
permanecer longe de quem não a compreende.
E o pior e mais deprimente tipo de preconceito e incompreensão,
acontece quando ele vem de nossos parentes e/ou de pessoas muito próximas a
nós. Em determinados momentos da minha vida, já passei por algo similar, só que
ao invés de “a estranha”, eu era “a coitada”.
Contudo, no meu caso, não era a minha mãe que me chateava –
ela sempre me acompanhou em tudo – mas, sim, a minha avó paterna. “A coitadinha
da minha neta”, e frases do mesmo feitio foi o que eu precisei suportar
inúmeras vezes. – além de tudo que tive que ouvir das outras pessoas.
E, não! Eu não sou uma coitada, nem a Mokomi é bizarra.
Apenas temos algo especial que, pessoas que se pautam simplesmente pelo chamado
“senso comum” não são capazes de enxergar com bons olhos. E, para completar
este raciocínio eu digo que nossa condição não determina quem somos, nem nos
limita a nada, porque limitados mesmo são os que rotulam os outros, sem saber a
fundo do que se trata e o porquê de existir uma característica diferente em nós.
Por isto, eu lhes recomendo: busquem informação, pois a
desinformação gera o preconceito, e este, por sua vez, dá origem à depressão, à
solidão e ao isolamento. E não estou aqui para me vitimizar, uma vez que
detesto isto. Não sou uma vitima da sociedade, até porque o preconceito não é
algo generalizado e nem se encontra em uma cidade ou país inteiro. Ele está
inserido nas pessoas que julgam demais os outros, e menos a si mesmos. Se você
deseja que alguém tenha uma vida social normal, então demonstre isto com
atitudes verdadeiras e sadias, ao invés de dizer palavras duras, insinuando que
ela é um estorvo para aqueles que a cercam.
Mude seu modo de agir e pensar primeiro, para só depois,
proferir sua impressão a respeito de outrem.
Outra dica: seja honesto ao falar. A mãe de Mokomi recomendou
que ninguém na família comentasse sobre o trabalho, mas claro que ela escutou
(teve uma cena que representou isto). Então fiquem espertos, as paredes têm
ouvidos! Além do que, dava para perceber que ela tentava agradar a filha de um
jeito forçado, não era natural. O mesmo vale para a tal “recomendação”. Ela
forçou todos os familiares a não tocarem no assunto, que no final das contas,
ela mesma abordou.
Um fator que deu para notar, é que a mãe dela é geniosa
demais da conta, e quer “fazer a cabeça” de sua família, a partir de suas
próprias convicções, impondo sua opinião, sendo ela, a grande causadora de
conflitos entre eles. Isto fica bem mais evidente com a aparição de seu pai.
Chikako não o aceita de modo nenhum, enquanto que ninguém mais tem nada contra
o idoso.
O mínimo que ela deveria ter é consideração pelos outros. Ele
não é um “velho” qualquer: é o pai do marido dela e avô de seus filhos,
portanto, possui todo o direito de se aproximar dos mesmos. Ademais, a menos
que se prove por A + B que se trata de alguém ruim, só assim ela teria razão de
querer afastá-lo do resto, o que definitivamente não é o caso do contexto deste
drama.
O avô parece ser uma pessoa gentil e do bem, aliás, Mokomi
aparenta ser bastante apegada a ele, considerando-se que o homem foi o único
indivíduo que acreditou nela desde a infância e a confortou, dando conselhos
calorosos à neta, e que me emocionaram imensamente.
Devido ao gênio forte de Chikako ninguém ousa contraria-la, a
fim de não agravar a tensão em casa, não havendo diálogo necessário. Isto
explica o porquê de a personagem principal ser tão fechada sentimentalmente. A
menina sente que, debaixo do próprio teto, não há quem a proteja, a defenda e
compreenda, visto que a opinião da mãe também é a palavra final.
O mais triste de tudo neste meio é que a mãe não enxerga que a
tristeza e o comportamento da filha, na verdade, são culpa dela. A mãe que
deveria ser compreensiva e zelosa, é quem menos a apoia.
Não sei ao certo que tipo de distúrbio ela possui – espero
que revele nos próximos capítulos – mas, uma coisa é certa: a sensibilidade
dela é muito maior do que de uma pessoa que se diz “normal”. Digo isto, pois em
um dos flashbacks seu avô lhe explica que cada gota de chuva se assemelha a uma
lágrima, e cada lágrima transmite um sentimento. Ela respondeu: “sim, são
vários sentimentos”. Através da expressão da personagem, eu tive a sensação de
que ela estava contente e que ela realmente era capaz de sentir cada uma
daquelas emoções.
É difícil de explicar, contudo, eu consigo compreender de
verdade a sensibilidade que a personagem tem, com a diferença de que ela é
muito mais sensível do que eu!
E tal característica a faz extraordinária! Por este motivo
que eu disse antes que isto é apenas algo especial, que as pessoas ditas
“normais” não são capazes de enxergar com bons olhos.
Sob a minha perspectiva, esta é uma das muitas mensagens que
poderemos tirar deste drama e levar para a nossa vida: Que aquilo que é
inicialmente “estranho”, pode ser incrível.
Roteiro,
personagens e atuação
Este roteiro realmente me agradou. A roteirista Hashibe
Atsuko é verdadeiramente talentosa para criar enredos de dramas familiares. Ela
soube agregar vários aspectos que podem vir a acontecer no cotidiano em um
único episódio, ao mesmo tempo em que volta seu protagonismo para determinados
personagens, neste caso específico, Mokomi e Chikako, já demonstrando o foco
principal da trama e cativando o espectador pela variedade de assuntos
abordados.
Em 20 minutos de drama eu consegui captar nas entrelinhas as
problemáticas que, visivelmente serão a base para aprofundar esta história –
ou, assim espero que seja.
A cada vez que assisto algo escrito por ela, sou capaz de
refletir e de enxergar pontos cruciais nas relações interpessoais com os quais
eu posso fazer um paralelo com a nossa realidade, e no caso deste drama, com as
minhas próprias vivências, em certa medida. Esta é a prova de que, através de
sua arte, ela consegue retratar as situações de maneira bastante realista.
Enfim, a autora está de parabéns, e desejo acompanhar mais trabalhos dela.
Os atores escolhidos combinaram com seus respectivos papeis,
me senti confortável em vê-los em cena. É a primeira vez que vejo algo com este
elenco e, todavia, sinto-me satisfeita.
Um personagem que gostaria de ver nos próximos episódios, é o
irmão da protagonista, que parece ser generoso com ela, com uma personalidade
calma, um companheiro que só quer nosso bem.
Tenho a impressão de que a entrada do avô dela será
importante para o desenvolvimento da trama, para a revelação dos sentimentos da
protagonista e de mais flashbacks da infância dela.
Sinto também, que os desentendimentos mãe e filha estão longe
de terminar... pelo contrário, eles acabaram de começar.
Espero que tenham gostado destas minhas singelas “primeiras
impressões”
Beijos e até a próxima indicação,
Com carinho,
Rebeca
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