Tarde
de sábado – China, Vale Jiuzhaigou, na Província de Sichuan
Já
estamos em pleno outono. As folhas amareladas das árvores caem ao chão, e
outras tantas estão se tornando avermelhadas. De alguma forma, essas cores me
representam. Segundo dizem, a flor amarela é a da amizade e a vermelha, a cor
do amor. Essa é a crença popular, e de certa forma, tem sua razão. Assim como a
natureza pode se transformar a cada ciclo de exatos três meses e mudar suas
cores, o meu sentimento também é capaz de se transformar e se intensificar. Uma
simples relação entre primos, ou parentes, como quiser chamar, pode se
converter em uma paixão dolorosa.
Eu
amo Shaoran Li mais que tudo e todos, desde que éramos crianças e ele me
consolou na primeira vez que me viu chorar e que percebeu que eu precisava de
consolo. Ele me garantiu que sempre me protegeria, e que nunca me faria sofrer
nem chorar mais, fazendo o meu sorriso aparecer. Mas não é comigo que ele faz
isso. É com outra pessoa: Sakura Kinomoto
No
fim, ele não cumpriu sua promessa, que selou comigo há praticamente uma década.
Desde quando retornamos à China para que ambos resolvêssemos problemas familiares, eu tentei me aproximar dele, demonstrando que eu estava ali para ele. Fazia questão de provar o meu amor com pequenos gestos e atos, afinal, “um gesto vale mais que mil palavras”. Como esperado, Shaoran não trocou muitas palavras comigo e das poucas vezes que o fazia, ele apenas enxergava aquilo como “carinho de primos”. Por mais que eu compreendesse suas razões, me chateava muito saber que eu nunca seria correspondida como eu gostaria que fosse.
Você, leitor deve estar achando que a minha história se assemelha a Romeu & Julieta: um trágico amor repleto de barreiras. Entretanto, eu não sou a bela Julieta. Eu sou Rosalina, o antigo amor de um nobre rapaz. É assim que eu mesma me vejo diante da realidade na qual estou envolvida.
Pode ser que Shaoran
realmente tenha me amado, e sentido algo especial por mim, anos atrás. Se um
dia, eu descobrir que isso é verdade, eu vou acreditar nos sentimentos dele.
Acho que só quando esse dia chegar, eu poderei me acalmar
Agora
estamos passando um momento juntos, em um dia de fim de semana no Vale
Jiuzhaigou, um dos meus lugares preferidos aqui na Província. Vejo as folhas
caírem ao chão, uma após a outra. Elas secam e são frágeis, ao contrário do meu
amor, forte e consistente. A única coisa que jamais “cairá” é o meu imutável
sentimento por Shaoran Li, porque é imortal, e assim permanecerá. Olho para o
lago com suas águas límpidas e cintilantes. Refletem a minha face que está mais
amena neste momento. Uma pena que não possam refletir o meu turbulento coração;
a calmaria não o alcança, está uma quimera.
Mesmo que meu cérebro esteja tão embaralhado e confuso quanto o meu coração, não quero reescrever a minha história com ele. Cada linha é importante e especial. Se não fossem tortas, não teriam se cruzado tão fácil e naturalmente.
Estou em
completa contradição com a minha própria pessoa: Não quero esconder meus
sentimentos, inventar um adeus quando o amor já criou suas raízes dentro de
mim, ou fingir que nada aconteceu, e que tudo sempre vai estar como era antes.
Tenho certeza que não. Mas também não quero me machucar ainda mais. Então,
guardo meus sentimentos mais íntimos no meu interior como uma tonta, à espera
de que minhas emoções sejam notadas.
Às
vezes, nós machucamos, e em outras, somos machucados, é por isso que as cores
que preenchem a nós e o nosso redor, são distintas. Apenas espero pelo dia em
que seu coração se torne um pouco mais “vermelho”, como estas folhas. Quero
imensamente que neste dia, ele chegue mais perto de mim, e sussurre meu nome
suavemente, ao pé do meu ouvido
―
Meiling...
Só
assim me sentirei completa
Enquanto isso, a nostalgia é o meu conforto.
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