Autores: Ana Beatriz Barbosa Silva, Mayra Bonifácio Gaiato e Leandro Thadeu
Reveles
Ano: 2012
Páginas: 288
Editora: Fontanar – Selo do Grupo Companhia das Letras
Tema: Neuropsicopedagogia
A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva juntamente com outros
profissionais escreveu o livro “Mundo Singular”, relatando sobre as
características do autismo, as reações
das crianças, os motivos que levam a isso e o desenvolvimento e a evolução de
cada uma delas, sempre com exemplos claros e práticos, desde as pessoas que
possuem o nível mais leve da síndrome, chamado pela autora de “traços de
autismo”, passando pela Síndrome de Asperger até chegar no que se denomina como
“autismo clássico”, o mais grave de todos.
As crianças especiais demoram um pouco para aprender certos
assuntos, especialmente aqueles que não dominam, porém são inteligentes e
esforçados e conseguem se superar a cada instante. Eu sou a prova de que,
quando nos dedicamos, conseguimos realizar tudo o que queremos e ir mais longe
do que as pessoas imaginam! Não é à toa que eu e minha mãe sempre dissemos que
as pessoas especiais dão de 150 a 200% a cada vez que fazemos algo; 100% do
potencial para mostrarmos a nós mesmos que somos capazes e os outros 50 a 100%
para mostrar aos outros o potencial que não se enxerga à primeira vista!
Uma outra palavra que não me agrada é “à margem”. No próprio
início do livro é dito que:
“(...) Geralmente está associada a alguém
"diferente" de nós, que vive à margem da sociedade e tem uma vida
extremamente limitada, em que nada faz sentido. Mas não é bem assim. Esse olhar
nos parece estreito demais: quando nós falamos em autismo, estamos nos
referindo a pessoas com habilidades absolutamente reveladoras, que calam fundo
na nossa alma, e nos fazem refletir sobre quem de fato vive alienado.”
Concordo muito com os autores nesse trecho da obra. Muito,
mesmo! Autistas são pessoas incríveis, com potenciais enormes. E, infelizmente,
tenho que concordar com ela no quesito em que muitos ainda enxergam aqueles com
necessidades especiais como alguém “marginalizado”. Mas eu detesto esse
pensamento, acho completamente errado! Como eu gosto de pensar: “não estamos à
margem da sociedade, nós fazemos parte dela”
E acrescento para dizer que se não fosse por nós, que temos
as mentes excepcionais, não haveriam as fórmulas de física, nem os celulares,
nem a Microsoft (para quem não sabe, o Bill Gates tem Síndrome de Asperger,
tipo leve de autismo).
Os maiores gênios da matemática, física, informática, música
e artes tiveram algum tipo de síndrome neurológica (não necessariamente
autismo) e mesmo assim deixaram a sua marca no mundo e fizeram história. Por
isso, eu digo que não estamos à margem da sociedade, pois somos nós que a
construímos e a tornamos melhor.
Assim sendo, apelo para que mudem esse pensamento e comecem a
enxergar o melhor nessas pessoas, ao invés de tratá-las como um excluído de
quem precisa ter pena. Mudar o pensamento é o primeiro passo para uma inclusão
social de verdade, pois assim, os demais passarão a valorizar seus talentos e
habilidades, independente de qualquer condição.
No mais, voltando ao assunto especificamente do livro, gostei
que os escritores abordaram temas como família (as mães que se cobram ou se
culpam por algo), a escola e a leis que garantem a inclusão e os direitos dos
autistas.
Eles explicam os comportamentos das crianças com autismo, e
dá dicas para pais e professores colocarem na prática, a fim de que possam
ajudar no desenvolvimento da criança. Com muito amor e dedicação, as crianças
conseguem evoluir de forma eficiente aos poucos, passo a passo, principalmente
nas áreas de linguagem, na qual geralmente se encontram as maiores dificuldades
dos autistas.
Muitos possuem mais facilidade para exatas, uma vez que é mais
prático e lógico. 2 + 2 sempre serão 4.
É algo simples e objetivo, diferente do português, por exemplo, em que uma
única frase possui inúmeras interpretações.
Por falar nisso, ressaltam várias vezes que as crianças autistas
tendem a interpretar as coisas de maneira literal, e não compreendem duplos
sentidos (ambiguidade) ou figuras de linguagem, como metáforas.
A exemplo disso, afirmou-se no livro que, se alguém disser a
um autista: “sou todo ouvidos”, ele vai entender que você é um ouvido enorme, e
não que o está escutando. Por isso, deve substituir essa expressão por algo
como “eu estou te escutando”, para evitar mal-entendidos causados pela
ambiguidade da mensagem.
Em “agora está na hora de fazer tal coisa”, a palavra “hora”,
para a criança é interpretada literalmente como o horário marcado nos ponteiros
do relógio, e não ao momento em si. Assim, deve haver cuidado com esse aspecto
também.
Contudo, sob outro ângulo (pela minha interpretação), podemos
analisar que os autistas são extremamente responsáveis, porque seguem uma
rotina à risca.
O lado negativo é que eles são inflexíveis a mudança de
rotina e tendem a reagir mal. Daí a importância de se compreender as
necessidades deles. Os pais tem uma participação importantíssima na vida dessas
crianças, e a primeira coisa é aceitá-las como são.
Não adianta se culparem pela situação, já que ninguém sabe a
causa exata do autismo, e varia de caso a caso. Existe um lado
genético sim, que é bastante estudado, mas não se sabe com exatidão de onde
vem, diferentemente da Síndrome de Down, por exemplo, que há muito tempo se
sabe que se trata de uma disfunção no cromossomo 21, o que explica seu nome científico
(Trissomia do 21), tal como o Dia Internacional da Síndrome de Down (21/03)
Por fim, existem as leis que garantem os direitos dos
cidadãos autistas tais como o Benefício
da Prestação Continuada (BPC), e o Artigo 54 do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), que garante em seu inciso III:
“atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”
Essa obra foi escrita em 2012. Desde essa época já foram
sancionadas outras leis em prol das pessoas com necessidades especiais e para o
autismo. Como exemplo, podemos citar:
“Proíbe a cobrança de taxa de reserva, sobretaxa ou quaisquer
valores adicionais para matrícula, renovação de matrícula ou mensalidade de
estudantes com síndrome de Down, autismo, transtorno invasivo do
desenvolvimento ou outras síndromes e dá providências correlatas”
Este ano, no dia 8 de janeiro de 2020, o Presidente da
República sancionou a lei 13.977, conhecida como “Lei Romeo Mion” (em homenagem
ao filho de Marcos Mion, que ficou conhecido por sua história “A Escova de Dentes Azul”)
A lei institui a Carteira
de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA), sob
expedição gratuita, garantindo “atenção integral, pronto atendimento e
prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em
especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.” (Art. III)
Além das legislações vigentes, a própria população vem se
conscientizando sobre o autismo. Como prova disso, podemos citar um caso
especial em Santa Catarina: uma professora da rede pública, Ruth de Cássia
Rodrigues, fez uma “sala sensorial” em sua escola, com o objetivo de fazer
compreender o autismo através da prática, de forma que os alunos entenderiam o
porquê de os colegas com autismo sentirem medo, susto ou se incomodarem com
barulho ou cheiros fortes, por exemplo.
Depois, os alunos fizeram um teatro sobre autismo. Estudantes
de outros colégios também se interessaram pela ideia e tiveram a oportunidade
de ter essa mesma experiência. Ao todo, 1300 pessoas, contando com pais alunos
e convidados puderam passar pela “sala sensorial”, parte do projeto “Meu Mundo
Azul”. Essa admirável iniciativa foi divulgada pela Deputada Estadual Ana
Caroline Campagnolo (PSL/SC) através de sua Moção n° 0508.5/2019, em homenagem
ao Dia do Professor.
Como podemos ver, ainda há uma luz no fim do túnel, existem
pessoas realmente boas de coração, que se importam e se interessam de verdade
por uma causa social.
Espero que a cada passo, possamos progredir sempre mais!
Conclusão: uma recomendação essencial
O livro é bastante informativo, com informações claras e objetivas
a respeito do autismo. Uma recomendação essencial de leitura para quem quer
aprender sobre o assunto em suas mais variadas vertentes. Para mim foi um
grande aprendizado e o primeiro passo para eu me aprofundar mais meus estudos.
Pude conhecer melhor o comportamento dessas crianças e suas causas. (Aliás, foi
por causa desta obra consegui analisar com mais precisão os 4 curtas metragens que indiquei no blog)
Me identifiquei com algumas passagens (ainda que poucas),
motivo pelo qual tornou-se uma leitura mais prazerosa a cada página. Sempre que
nos identificamos com algo, o sentimento é bem mais profundo! Para quem tem familiares
ou alunos autistas, está aí uma excelente recomendação de livro! Mesmo para
quem não tem parentes ou alguém próximo que seja autista, sugiro que leiam,
porque segundo estatísticas recentes, 1 a cada 58 crianças pertencem ao
Espectro Autista.
Aos observações que fiz são relacionadas aos meus
sentimentos, emoções, conhecimentos e pesquisas. Compartilhar o que sentimos na
pele, ou desabafar sobre aquilo que guardamos no coração é sempre bom! Espero
sinceramente que as minhas humildes e honestas palavras tenham sido capazes de
lhes tocar da melhor maneira possível, depois de abrir todo o meu coração para
vocês (que está mais parecendo um tratado sobre autismo do que uma resenha comum
de um livro. Geralmente escrevo umas 3 páginas, essa deu um pouco mais que o
dobro)
As observações sobre as leis atuais foram meramente para fins
de conhecimentos gerais, porque acho que quem está de alguma forma engajado na
inclusão social deve saber das leis que nos regem, nos atualizando a cada
instante! (Na postagem, mencionei uma das leis estaduais de São Paulo, mas para
aqueles que eventualmente moram em outro estado, e/ou tiveram curiosidade, deem
um Google e entrem na página oficial da Assembleia Legislativa de seu
respectivo estado)
Por fim, a esperança está em cada um de nós, na vontade que
temos para mudar o mundo ao nosso redor. O futuro, somos nós que construímos!
Até a próxima indicação de leitura! ♥
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