Páginas: 288
Gênero: romance contemporâneo, drama
Ano: 2016
Autor(a): Clélie Avit
Onde comprar: Amazon, Submarino, Saraiva, livrarias locais.
Boa Noite, dorameiros! Hoje trago um conteúdo diferente do habitual.
Esse ano consegui retomar a leitura. Já li quatro livros, um avanço e tanto
para quem chegou a ficar um ano sem ler um único livro. A história da vez é “Eu Estou Aqui”, primeira
obra da autora francesa Clélie Avit.
Naquele país, há um programa que dissemina a literatura
francesa através de novos autores. Os
escritores foram estimulados a desenvolverem um enredo baseado na seguinte
frase:
“Todo mundo pensava que era impossível.
Veio um imbecil que não sabia disso e fez.”
A autora soube representar com maestria o significado
dessa citação por meio de seus personagens. Elsa é uma adulta de 29 anos, de espirito livre,
fascinada por uma atividade radical, o montanhismo. Ela se interessa por
ocupações que proporcionam adrenalina. Para nossa heroína, escalar não é só um
hobbie, mas sim sua paixão, algo que a conectava com as belezas do
planeta. Tudo sempre foi feito
seguramente, utilizando todos os equipamentos possíveis. Todavia, às vezes, a
vida nos impõe desafios atrozes. Devemos
enfrentá-los e encontrar uma solução. Só assim a vitória aparece. Em uma dessas aventuras, Elsa despencou da
geleira e entrou em coma. Quando iniciamos a leitura já faz vinte semanas que
ela permanece nesse estado. Há seis semanas, a paciente ouve tudo à sua volta.
Em alguns momentos até se “desliga”, ou seja, se perde em seu próprio mundo,
afastando-se das conversas pessimistas.
Seria melhor se na vida existisse apenas felicidade,
porém os infortúnios também podem trazer ensinamentos. No caso de Elsa,
trouxeram o amor verdadeiro. Thibault trabalha como ecologista, tem uma
carreira estável, realiza com excelência as tarefas designadas a ele, porém no
campo pessoal e amoroso, sua vida está um desastre. Cindy e ele se separaram de forma nada
amigável. Seu irmão sofreu um acidente, ficou em estado grave, além de ter
feito algo horrível, inaceitável. Deixo uma pulguinha atrás da orelha de vocês.
O que o irmão de Thibault pode ter feito de tão sério para ele não conseguir
perdoá-lo?
Toda semana, em um dia específico, o ecologista levava
sua mãe para visitar o irmão no 5 andar. Toda vez ela insistia em um diálogo
dos dois, entretanto, o herói ainda não estava preparado. Ele fugia dessa
missão ao máximo. Um dia, abriu uma porta pensando dar acesso a escada onde ele
se escondia. Quão grande foi sua surpresa quando reparou estar no quarto de um
paciente. Chegando mais perto, percebeu se tratar de uma moça dormindo. A curiosidade falou mais alto, por isso ele
leu o prontuário dela, descobrindo a real situação. Ficou triste pela jovem,
mas manteve o otimismo, torcia para que Elsa acordasse.
A escrita da autora é fluída, comecei a ler tarde da
noite e não queria mais parar. Devido a hora já avançada, tive que ir
dormir. Foi uma noite de sono
maravilhosa, com o coração quentinho por conta dos protagonistas. Li sessenta
páginas em uma só vez. Terminei em cinco dias, mas porque tinha outros
afazeres. Esse livro dá para ser lido em um dia. O enredo é parado, não há
grandes clímax. No entanto, isso pode ser relevado. O estado de Elsa é praticamente irreversível,
ela não pode fazer nada além de escutar e ter esperança em dias melhores. Isso não atrapalha em nada a história, pelo
contrário, nos transporta para uma nova vivência da personagem principal. O
livro está repleto de emoção. Os mais sensíveis vão derramar rios de lágrimas.
Os menos sensíveis vão se colocar no lugar dos heróis. Eu mesma me perguntei,
como será que é estar em coma? Fiquei demasiadamente envolvida nos
acontecimentos do livro.
Além disso, torcerão pela recuperação de Elsa, além de um
possível romance com Thibault. A
escritora descreveu perfeitamente o estado de uma pessoa em coma, representando
também a aflição dos amigos e familiares. Quem passou por uma situação
semelhante vai se identificar. Esse foi um dos elementos que chamaram a minha
atenção.
Imaginação é um recurso muito presente no contexto da
personagem, devido à ausência do sentido da visão. Isso torna o processo mais lúdico,
consolador. Segundo Albert Einstein, “A
imaginação é mais importante que o conhecimento, porque o conhecimento é
limitado, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro.”
Vamos imaginar! Com equilíbrio é claro.
“Há algo de impressionante no fato de
alguém ter apenas o sentido da audição como meio de percepção.
Tudo o que está associado aos sons adquire
um sabor particular.”
“Em quase sete semanas, pude observar que
eu associava naturalmente cores e texturas ao que as pessoas diziam. “
“A voz de minha irmã contando suas
histórias de amor assume um aspecto de veludo vermelho vomitivo de tanto
hormônio que transborda. Minha mãe é uma espécie de couro violeta que quer
parecer robusto, mas que se fissura em vários lugares, como se fosse uma bolsa
velha.”
Thibault tem um lugar especial no meu coração leitor.
Está no meu top 10 de protagonistas masculinos. Tem uma bela personalidade.
Compaixão, empatia e generosidade são adjetivos que o descrevem com clareza. Uma das minhas cenas preferidas é o momento em
que ele altera a idade dela no prontuário, pois estava fazendo aniversário
naquele dia. Esta atitude abre discussão para algo
recorrente no âmbito hospitalar: a ausência de sensibilidade dos profissionais
da saúde. Os médicos e enfermeiros lidam constantemente com a morte, então
podem ter se acostumado, tratando cada paciente como se fosse mais um número.
Há também a questão da baixa remuneração, da carga horária extensa. Pelo menos
no Brasil.
Spoiler!!! Pulem
para o parágrafo na cor preta. A próxima alínea contém considerável revelação.
Falo
isso porque o médico é o personagem mais detestável. Ele queria desligar os
aparelhos da heroína em apenas cinco meses, utilizando o argumento dos 2% de
chance dela acordar. Fiquei indignada! Curiosa, pesquisei e encontrei um caso
onde a corte francesa autorizou o desligamento dos aparelhos de um homem após
sete anos em estado vegetativo. Ou seja,
provavelmente, a escritora utilizou licença poética no intuito de acrescentar
drama. Funcionou! Estive apreensiva
nessa parte.
A relação entre os dois foi bem desenvolvida, um era o
porto seguro do outro. Thibault estava
passando por um momento conturbado em sua vida.
Ele sonhava construir uma família, porém seus planos foram por água
abaixo depois do divórcio. O irmão, o qual sempre admirou, cometeu um grave
delito. Ele estava perdido, sem saber se
devia ou não perdoá-lo. Entrou no
quarto de Elsa e encontrou uma amiga, alguém em quem confiar. No estado
sonolento dela, ele poderia desabafar, contar os seus pensamentos mais
secretos, mostrar o seu íntimo, algo que ele não tinha coragem de contar aos
amigos mais próximos. Tudo aconteceu naturalmente.
Thibault foi um personagem profundo, que teve um
crescimento incrível ao longo da literatura.
Se reergueu, buscou fé em meio ao caos, quando pensou tudo estar
perdido. Quanto a nossa estrela,
permaneci encantada com os efeitos que persistência, otimismo e amor podem
causar. Ela poderia ter se fechado para novas emoções, pensado na possibilidade
de nunca mais abrir os olhos, se recuperar. Todavia, não deixou esses
pensamentos terríveis tomarem conta de sua força.
“Em meio a tudo isso, felizmente, tenho um
arco-íris que vem se manifestando de uns dez dias para cá. Thibault veio com
todas as suas emoções, todas essas novidades para mim. Não consegui associar a
ele nenhuma cor em particular. Era apenas prismático e desconcertante. Fiquei
com a imagem de um arco-íris. Achei isso poético.”
“Faz um ano que não beijo uma mulher,
exceto os beijos dados no rosto das colegas. Não há nada de sensual nem de
sexual no que acabo de fazer, mas, puxa! acabo de roubar um beijo no rosto de
uma mulher.
A ideia me faz sorrir e eu me afasto.”
Os personagens secundários são uns amores. Gaelle, Julian
e Clara nos conquistaram. Contribuíram
grandemente para o amadurecimento do nosso herói, pois sempre deixaram a filha
Clara conviver com o padrinho. No
exemplar de Clélie Avit, a família é valorizada como se deve. Afinal, é no seio familiar que aprendemos
valores, caráter, amor ao próximo e como se relacionar com as pessoas à nossa
volta. No entanto, não podemos
considerar todos como família. Família é
quem nos apoia, quem nos faz boa companhia.
Enquanto lia fui pega por um dilema vivenciado pelo
protagonista. Devemos perdoar um membro precioso da família se ele cometer um
ato grave? Principalmente quando essa pessoa estiver arrependida? Uma decisão
difícil. Se a pessoa fez com intenções más não.
No caso de Thibault, talvez ele devesse ter sido mais
compreensível. Ele devia ter procurado
saber o que realmente estava acontecendo, dar apoio sem julgar. Thibault não
pôde fazer isso, pois seus princípios são fortes. Minha imaginação me leva a
crer que o irmão dele não estava em condições psicológicas adequadas. Não estou passando pano. Nada justifica o que
ele fez. Complicado!!! Olhando o exemplo
de ambas as partes podemos concluir o quanto devemos pensar cuidadosamente em
cada ação, palavra ou julgamento. Não
podemos apagar os acontecimentos, voltar para consertar nossos erros. A única
forma disso virar realidade é através do perdão dos nossos pecados que o Senhor
Jesus nos oferece.
Gostei do final. Acabou exatamente do jeito que eu
queria. Agora vem uma super revelação do
enredo. Então, se vocês não curtem spoilers aconselho a irem para o parágrafo
em preto. Deixo as surpresas bombásticas coloridas ou tachadas. Dou
4 estrelas e meia para o livro. Só não dou 5 porque poderia ter outros livros
para dar continuidade a história. O final foi aberto. Tudo o que acontece
depois de Elsa acordar do coma fica a critério da nossa imaginação. Não vejo
isso como um problema, pois tenho imaginação de sobra.
A capa é linda, combina com o assunto e a diagramação
está ótima. Lemos sem cansar a vista.
Recomendo para
todos os amantes de drama, personagens cativantes, romance, tensão e assuntos
tratados com leveza, apesar da seriedade. Se vocês curtem uma narrativa
corrente, que não enrola, é o livro perfeito. Nunca gostei muito de livros que intercalam os
pontos de vista, porém estou me acostumando. Eu amei saber o que se passa na
mente dos dois protagonistas. Quem
assistiu a novela A Vida da Gente vai gostar. A temática é a mesma, embora
repleta de diferenças.
Abram um espacinho no coração de vocês para essa obra
maravilhosa. Eu já abri. Os personagens
vão ficar na minha memória. Espero que
tirem bom proveito. Comentem aqui se já leram, suas impressões, se ficaram
curiosos para ler. Hasta la Vista, babies!
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