“Katie
Woodencloack ”ou “Kari Stave-Skirt”, traduzido para o português como “Kari Capa
Dura” (Incluso em “Os Melhores Contos Nórdicos”, pela Editora Wish) ou “Kari
Vestido de Pau” (Incluso em “O Fabuloso Livro Vermelho”, publicado pela Editora Concreta) é a versão
norueguesa ou nórdica do famoso conto “Cinderela”, escrita e relatada pelos
amigos e folcloristas Peter Christen Asbjørnsen e Jørgen
Engebretsen Moe, sendo esta uma das obras mais conhecidas atribuídas a
eles.
Como
se sabe, inúmeros contos de fadas possuem mais de uma versão, pois foram sendo
modificados com o passar dos tempos, por seus respectivos autores, inserindo
nestes ilustres tesouros, em forma de narrativas, sua cultura, valores e
princípios. Por isto também que, aquilo que se denomina “contos de fadas”,
representam algo de extrema importância a nós; porque neles se encontram a
nossa moral. Mais do que “histórias para a hora de dormir” com um final feliz,
os contos representam tudo aquilo em que acreditamos, em todos os sentidos da
palavra.
Cinderela
tem seu lugar especial enraizado nos corações e mentes das pessoas do mundo
todo, e talvez você saiba de cor a essência dessa trama, e os personagens que a
compõe. No entanto, cada versão possui suas particularidades, e a norueguesa
tem em si muitas diferenças com aquela mais difundida no imaginário popular – a
da Disney, que por sua vez é inspirada em Charles Perrault (1628 – 1703).
Primeiramente,
esta Cinderela tem nome – Katie, ou Kari, e é uma princesa, referida por vezes,
nas entrelinhas, como “filha do Rei”. “Cinderela”, por sua vez, é um apelido
que a personagem ganhou por estar sempre sentada perto da lareira e das cinzas,
sendo filha de um lorde/cavalheiro.
Como
característica substancial deste enredo, Kari é maltratada por sua madrasta e
sua filha (desta vez é apenas uma irmã), que a invejavam demais. Um ponto a se
destacar é a respeito da ausência do pai, que neste caso, estava na guerra. De
outro lado, Charles Perrault apenas menciona a figura paterna no início, mas
não explicita o motivo de ele ser ausente, enquanto que a Disney deixou a
protagonista completamente órfã, o que justifica mais facilmente o fato de a
madrasta fazer o que bem entende com ela.
A
parte interessante do conto nórdico é que Kari foge de casa após saber que um
touro – com o qual ela era apegada, e a protegia – seria morto. O touro lhe
disse que, se o matassem, ela também morreria. Assim, ambos fogem, e passam por
provações em 3 florestas distintas, compostas de cobre, prata e ouro, nesta
ordem, e habitadas por trolls de 3, 6 e 9 cabeças respectivamente. Quanto mais
bela, mais a floresta era perigosa, e o touro protegeu Kari lutando com os
trolls bravamente, até que avistaram um castelo. Adivinhem de quem? Do
“Príncipe Encantado” de Kari.
Eis um
dos motivos pelos quais esta é a minha versão predileta – juntamente com a dos
Irmãos Grimm –. Nossa heroína enfrenta dificuldades (que ela inevitavelmente
criou, ao tocar nas folhas das florestas) antes de encontrar com o príncipe,
sendo que ela o conhece, e passa a ter mais interações com ele, como veremos a
seguir.
Pois
bem, em sua empreitada Kari adquiriu objetos mágicos, sendo estes; uma folha de
cobre, outra de prata e uma maçã dourada. A garota teve de obedecer às
recomendações do touro, indo morar na residência do príncipe, colocando um
vestido de madeira e pedindo um emprego e um lugar para ficar, e morar num
chiqueiro.
Como
instrução do próprio touro, teria que matá-lo, cortando sua cabeça com uma
faca, retirar seu couro e colocá-lo debaixo de uma muralha de pedra. E, sob o
couro, deveria colocar os três objetos mágicos. Encostado à pedra, havia um
bastão, que ela poderia bater sempre que desejasse algo. A contragosto, ela
executou o animal, e fez tudo que o mesmo havia lhe dito.
Por
aqui, já podemos perceber mais uma diferença: não existe fada madrinha.
A princesa se transforma batendo no referido bastão. Apesar disso, eu gosto desta
parte da história, porque mostra que para haver recompensas, é necessário que
também hajam sacrifícios, que fazem parte da vida.
Outro
aspecto específico desta trama se dá com o fato de que “a vida de servidão” de
Kari não se limita apenas com as iniciais cenas com sua madrasta, mas,
posteriormente, se intensifica e se enfatiza no castelo do príncipe, ao
tornar-se a empregada pessoal dele, incumbida de preparar-lhe o banho aos
domingos. O rapaz, por sua vez, lhe era bastante grosso e arrogante com a menina,
por ser uma serva.
Através
destes momentos entre os dois, podemos analisar comportamentos, e ter a lição
de moral de que o caráter depende de cada um de nós; ambos eram nobres, mas se
comportavam de maneiras antagônicas; Kari era bondosa de coração, e havia
sofrido maus tratos em sua casa e superado desafios nas florestas.
Contrariamente a isso, o príncipe agia de maneira prepotente e desrespeitosa
com seu próximo – no caso, ela –, por ter e querer tudo ao seu dispor.
Contudo,
quando ele a via transformada como uma bela moça, ele se mostra impressionado e
encantado por ela, demonstrando um lado gentil de sua personalidade, além de
curioso, para saber a origem daquela intrigante menina, que sempre aparecia linda,
na igreja em que ele também frequentava.
Este
foi um quesito que me chamou bastante a atenção: a presença de algo que remeta
ao cristianismo, à nossa fé. Também gostei do fato de os protagonistas se
encontrarem regularmente na igreja, em um lugar que por si só, denota
comunidade. Achei que estas cenas deram mais realismo para a trama, que não se
limitou àquela imagem promovida muitas vezes pela Disney, em que a princesa se
casa com alguém que mal teve contato.
Além
do que, uma vez que ambos iam à igreja, demonstrando seu compromisso de devoção
a Deus, podemos também afirmar que Kari se casou com alguém da mesma índole que
ela, que preza pelos mesmos princípios, e não somente por ter sangue azul.
Com
relação ao entrosamento deles, aprender e refletir sobre quantas vezes julgamos
alguém erroneamente, sem nos dar conta daquilo que é mais essencial. O príncipe
a pré-julgou de maneira precipitada, antes mesmo de descobrir o quanto Kari era
linda, por dentro e por fora.
A este
respeito, as Escrituras Sagradas já nos alertam em Romanos 12: 16 – “Tenham uma
mesma atitude uns para com os outros. Não sejam orgulhosos, mas estejam
dispostos a associar-se a pessoas de posição inferior. Não sejam sábios aos
seus próprios olhos.” Eis a importância de ser humilde.
Quanto
a nossa heroína, ela é a prova de quando nos esforçamos, somos recompensados.
As bençãos – ou a magia, característica dos contos – estão reservadas àqueles de
bom coração.
Este
foi um conto de fadas com muito mais do que somente o clássico “felizes para
sempre”, que nos trouxe reflexões e lições de moral que dá um caráter realista,
sem deixar de lado a fantasia e as tradições, representadas por personagens da
mitologia nórdica – como os trolls – aliado à magia e aos cenários típicos dos
contos, tão conhecidos e gravados em nosso íntimo.
Esta pequena história é apenas uma das provas de que a “fantasia” é capaz de ser tão realista quanto se imagina. Espero que aqueles que tiverem a oportunidade de lê-lo desfrute tanto deste conto quanto eu, em todos os aspectos possíveis.
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