quarta-feira, 30 de novembro de 2022

[Resenha] Petrus Logus: O Guardião do Tempo

 

Ficha técnica do livro:

Título: Petrus Logus, o Guardião do Tempo (Livro 01)

Série: Petrus Logus

Autor: Augusto Cury

Data de publicação: 09/10/2014

Páginas: 296

Editora: Benvirá

Depois de ler “O Colecionador de Lágrimas”, me interessei mais pela escrita do dr. Augusto Cury e decidi comprar os dois volumes da série Petrus Logus, a qual se trata de uma distopia em que após a Terceira Guerra Mundial, o mundo foi comando pelo Reino de Cosmos, sob o domínio do poderoso Rei Apolo.

No início, o Rei Apolo era um governante justo e benevolente, mas com o passar do tempo, sedento pelo poder e influenciado pelos seus maléficos conselheiros, o monarca passou a ser um narcisista tirânico, perseguindo e executando todos aqueles que fossem contra sua pessoa.

Quem faz o trabalho sujo porém, é um dos conselheiros, e o Médico Real, que de tão inescrupuloso, não cura ninguém, e ao invés disso, interna indivíduos sãos em um hospício sob péssimas condições, denominado Câmara dos Loucos, para onde Petrus também é levado, em um dos momentos da narrativa.

Mas, afinal, quem é Petrus Logus? Ele não é ninguém menos do que o Príncipe de Cosmos, sendo o filho rejeitado de Apolo.

Diferentemente de seu irmão gêmeo Lexus, o qual sonha em ser um grande governante no futuro, usando-se da força da espada, e que, com o tempo apenas cresceu em arrogância, mas nunca em inteligência, Petrus foi um menino educado pelo sábio Malthus, que o instruiu a buscar a verdade através do conhecimento, e dos livros. Assim, Petrus se torna um amante dos livros e um ser humano avidamente questionador, intrigando até mesmo, o seu mestre.

A história segue a jornada do protagonista desde seus 12 até os 19 anos de idade, quando se tornou o Guardião do Tempo. Nesse ínterim, o jovem passa por maus bocados como ser castigado com a Máscara da Humilhação. Quem a utiliza é um exemplo a não ser seguido, se não quiser sofrer do mesmo mal, a ponto de desejar a morte a suportar tamanha dor e humilhação.

Em meio às peripécias do príncipe, somos capazes de identificar nesta fantasia, sobre situações que refletem as tragédias deste e do último século; erros humanos fatais, e que infelizmente são repetidos através dos tempos, pois a ganância é algo interminável e insaciável aos ególatras.

Na obra é mencionado que as bibliotecas e livros, o acesso ao conhecimento em geral, foi eliminado, e a única biblioteca sobrevivente é a do Reino de Cosmos, na qual estão os tesouros que alimentam a alma do nobre príncipe.

Isso me lembrou a época da Inquisição, no qual o movimento secular por trás das figuras da Igreja, condenava quem pensasse diferente e queimava os livros. Atualmente, em nossa era digital, a “Nova Inquisição” é a desmonetização e cancelamento de perfis na rede internet que possuam convicções distintas à hegemonia cultural do establishment.

Também a perseguição às cabeças pensantes, ilustrada no livro, pela detenção de Malthus e de inúmeras pessoas que foram parar na tenebrosa Câmara dos Loucos, sob alguma medida me fez recordar das prisões arbitrárias que ocorreram em nosso país, devido ao “crime de opinião” (que somente existe na mente dos Inquisidores), tal como do assim chamado Inquérito do Fim do Mundo, em que os juízes determinam aquilo que pode ser ou não falado, e o que deve ser ou não banido das redes, para que a verdade não alcance os olhos do povo. A desinformação é a velha tática da tomada de poder pelos tiranos. Quanto mais alheios, mais fácil estes indivíduos acatarão as decisões e atributos do Estado.

Em ambos os casos, tanto na ficção quanto em nossa triste realidade, os conselheiros (da fantasia) e os juízes (da Corte brasileira) não são mais os protetores e defensores da lei, mas sim, seus detratores, que a utilizam em prol de si mesmos, e da corrupção que praticam.

A liberdade religiosa também é descartada em regimes totalitários. No caso do fictício Reino de Cosmos, era aceita apenas a filosofia aceita pelo governo, e as demais religiões não poderiam ser professadas.

Em nosso mundo pós-moderno, regimes ditatoriais como o da China, por exemplo não aceitam que o povo tenha sua religião e não podem nem mesmo praticá-la em casa, e apenas devem adorar ao Xi Jinping, “professando” o comunismo. Uma triste subversão de valores que implica na queima de toda uma cultura milenar.

Um outro aspecto interessante é que em Cosmos há aqueles que foram denominados “mutantes”, pessoas que não são mais aceitas como tal. Elas foram vítimas de uma experimentação com seres humanos e tratadas como alguém sem valor.

Apesar do toque de ficção científica, a desumanização de alguns grupos é um dos traços marcantes das ditaduras, em detrimento de encontrar sua “raça pura”, fruto da teoria eugenista colocada em prática, que tanto dizimou os judeus, negros, deficientes físicos e intelectuais, homossexuais, idosos e crianças.

A única pessoa com coragem para enfrentar o governo corrupto é o Príncipe Petrus, que apesar de não ter ambição alguma pelo poder, se vê obrigado a lutar pela sucessão do trono, de forma a salvar seu povo das injustiças. Sua maior qualidade é lutar pelo que acreditar, sendo leal às suas ideias e princípios, e seu defeito é o próprio ímpeto, por conta da personalidade forte e confrontadora que possui.

Para dar um toque a mais de fantasia, aparece Instinctus, um leão que representa e materializa os instintos e as emoções de Petrus. Com ambos os personagens, Augusto Cury aborda de forma atrativa e sagaz, a questão da importância de Gestão da Emoção em momentos críticos.

Petrus representa aqueles que estão dispostos a sacrificar a própria vida para lutar pelas liberdades individuais e a paz em uma pátria, encorajando seus pares a fazerem o mesmo.

O nosso país é um exemplo claro disso, pois temos um líder de Estado que devolveu o espírito patriótico e de liberdade ao seu povo, sobre o qual se deposita uma forte esperança, enquanto assistimos à Imensa Catástrofe instaurada por uma minoria barulhenta e egoísta.

Em contrapartida, Apolo representa aquele governante que não é nada além de um fantoche, um figurante que finge ter alguma autoridade, enquanto os seus Conselheiros de fato planejavam e executavam os planos maléficos para se manterem no poder.

Esse personagem e sua “roda de conselheiros” metaforizam o caso explícito da Argentina, já que o Sr. Fernández é um mero participante do sistema, mas a mandante é sua vice, a Sra. Kirchner, que apesar de o primeiro nome ser “CRISTINA”, se afastou de Cristo faz tempo! Nem mesmo acredita nele!

Como podemos ver, há questões de extrema relevância ao cenário atual dentro desta aventura. Costumo pensar que uma ficção é realmente grandiosa quando ela nos faz voltar à realidade, e enxergar as situações de uma maneira ampla, não se limitando a um único prisma. Está aí o motivo de o dr. Cury ser um aclamado ficcionista.

Entre conflitos, perrengues, perigos e momentos de muita amizade, cumplicidade e união, somos transportados para o universo deste jovem corajoso, inteligente, generoso e imparável, mas que nem por isso deixa de ser impulsivo e de sentir medo, insegurança e dúvidas, afinal, até os mais sábios, às vezes se encontram reféns dos fantasmas da mente.

Esta é sem dúvida uma narrativa que levará o seu leitor a viajar por incontáveis universos; o da fantasia, o do amor, do poder, da imaginação, da emoção e, principalmente, o de seu íntimo, de nossa autodescoberta!

Desejo que quem for ler, aprecie ao máximo possível. Que o espírito de Petrus Logus esteja sempre conosco, e que possamos ser agentes transformadores de nosso futuro.  

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